Por estarmos em semana de Natal, dificilmente consigo escrever sobre os jogos do fim de semana. Não sei se é uma questão de vontade, pertinência ou mesmo de descontextualização. Não me apetece ir por aí.

Eu sou do tempo em que se escreviam cartas. Se eu conhecia alguém que não morava na mesma cidade que eu, a única forma de comunicarmos era por carta. O telefone podia ser solução se os meus pais se esquecessem de controlar a conta da Portugal Telecom, o que era uma impossibilidade. Este fim de semana fui até ao meu quarto antigo, em casa dos meus pais, e olhei para a “caixa das cartas”. Não me apeteceu abrir, pouco sentido era fazê-lo, mas vieram-me memórias. A verdade é que ir a casa dos meus pais, transporta-me para momentos antigos, rotinas que são impossíveis de repetir e vivências felizes (ou menos felizes). O saudosismo dificilmente se torna a palavra de ordem aqui, mas a indiferença também não é. Partilho este pequeno momento para recordar a força das relações. Mesmo sem WhatsApp, sempre foi possível fortalecer amizades quando as pessoas nos conquistavam.

Isto surge em jeito de introdução ao que reparei esta semana. A Gabi Rocha e a Bia Rodrigues estavam no Pavilhão João Rocha a ver um treino da equipa de voleibol feminino. Admito que estes momentos me emocionam no sentido em que colocam a palavra “casa”, num espaço amplo como o Sporting CP. No final do dia é isso que conta, não? Se virmos bem, é só o espelho da brilhante frase que tanto já disse e ouvi – “o Sporting sou eu e os meus amigos”. A verdade é essa, o que conta são as pessoas e aquilo que elas nos ajudam a ser.

Esta mensagem da Gabi e da Bia é igual e diferente ao mesmo tempo. A Bia é portuguesa e vibra com o nosso clube desde que nasceu. Andou por cá 3 épocas inteiras! A Gabi, há 1 ano e meio, imagino eu, nunca tinha ouvido falar do nosso clube. Curiosamente, ou não, ambas tiveram o mesmo ponto de chegada esta semana.

O Natal é sempre uma época especial. Seja pela pertença religiosa ou familiar, esta altura do ano aproxima-nos e faz-nos pensar. Devia ser uma época feliz para todos, mas não é, principalmente a noite de Natal. Tive uma pessoa próxima, que me colou a sua história, contando-me que durante anos passava a noite de 24 sozinho, com dois pratos colocados na mesa. Tinha perdido a pessoa que mais amava e isso foi uma dor complicada de atenuar. O Natal é feito disto. Há quem tenha memórias de famílias numerosas, outros dos seus pais, avós que tanta alegria davam às vidas. No voleibol não é diferente. Também há um Natal distinto para muitos dos nossos atletas. Destacaria a Regalado e a Bochka que, me parece, vão ter o primeiro Natal fora do seu país. Gostava também de falar do Tiago Pereira que terá um Natal em Portugal e vestido de verde e branco (oficialmente) em família.

O Cherba teve um bonito testemunho na semana passada que recomendo a leitura. Ele reflete que a relação pode ser estimulada pelo Sporting CP, em muitos casos um refúgio ou um oásis até. O Sporting CP deve ser isto mesmo. Graças ao Sporting CP, graças ao voleibol, graças à amizade todos nós vamos ter um Natal diferente este ano (porque nunca são iguais). Por estes motivos a Gabi e a Bia regressaram. Pelos mesmos motivos eu volto à Tasca todas as semanas e vou tendo a oportunidade de ganhar amizades. Pelos mesmos motivos, os tasqueiros ganharam memórias novas este ano.

Ser adepto do Sporting CP, gostar de voleibol, ser jogador do nosso clube não é algo particularmente distinto. Está realmente ao alcance de (quase) todos os que queiram. Em jeito de conclusão, deixo-vos o Gonçalo Cadilhe que escreve sobre viagens. Pareceu-me uma bela metáfora o que ele escreveu no seu último livro que servirá para mim, para jogadores, para treinadores e para adeptos. “(…) viajar está mesmo ao alcance de todos. O que talvez não esteja ao alcance de todos é a experiência, o engenho e o conhecimento necessários para tornar única cada viagem – mesmo quando já foi feita por milhões de turistas antes de nós ou ao mesmo tempo que nós ao nosso lado.”

No meu caso, estou claramente a ganhar com esta viagem única pelo voleibol do Sporting CP.
Obrigado.
Feliz Natal.

 

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.