Rasgadinho, intenso, com aroma a Taça e um rapaz do apito a animar a coisa. Numa noite de chuvada, o Sporting eliminou o Casa Pia e passa o Natal sorrindo em todas as competições, enquanto espera por dois duelos entre os seus adversários mais directos

No final da partida, já na conferência de imprensa, perguntaram a Rúben Amorim se tinha sentido a continuidade na Taça em risco. Confesso que não decorei a resposta (acho que o mister foi mais pela ideia de nunca ter jogos descansado), mas obviamente que me lembrei, imediatamente, da expulsão de Tabata, a 20 minutos do fim, num daqueles momentos a que os Rui Costas da vida já nos habituaram. Considerar aquele lance para vermelho directo foi, no fundo, o não há duas sem três numa partida onde já tinha ficado por marcar um penalti por mão de um defesa e outro por carga sobre Daniel Bragança. Mesmo com VAR, que, vá lá vá lá, conseguiu ver que a bomba de Sarabia tinha rebentado toda lá dentro depois de bater na barra.

Peço desculpa por gastar as primeiras linhas desta crónica com “pormenores” de arbitragem, mas além de achar que devemos, sempre, apontar os erros do apito quando ganhamos, também prefiro despachar logo a parte que mais me desagrada. E, assim sendo, passo para a garfada seguinte, também ela de torcer o nariz: a forma como entrámos em campo. Os gansos fizeram jus ao nome desse bicho que se torna agressivo facilmente, nós entrámos no papel de Leão que acabou de comer dois gnus e vai passar o resto do dia a bocejar. Pimba, sofremos um golo, obviamente através do tal Jota Silva que vai brilhando na segunda liga e que aproveitou essa sonolência.

Nas alas, Nazinho e Esgaio não davam profundidade, nas entrelinhas lá aparecia Pote ou Tabata, mas sempre se conseguir dar continuidade aos lances. Com a orquestra completamente desafinada, valeu o maestro Bragança a pegar na batuta para colocar a equipa, jogando quase sempre curto com classe aka toma lá e dá cá que eu já te dei linha de passe e ainda ensaiando dois remates que mereciam melhor sorte.  Foi ele que foi acordando a equipa, mas seria o capitão Sebastião a fazer cara feia à brincadeira de oferecer uma prenda de Natal ao Casa Pia. De canto, pois está claro, e já depois de ter ameaçado, transformou no 1-1 uma fase em que o Sporting, mesmo a ritmo baixo, já tinha encostado os gansos à rede da capoeira.

Ao intervalo, Amorim lançou Paulinho para o lugar de Nazinho e Tabata foi dar um jeitinho à esquerda, embora aparecesse sempre mais como extremos do que como gajo que faz a ala. Com esse homem de área, as ligações por dentro começaram a funcionar, com Potter, Paulinho, Sarabia e Tabata a ligarem o carrossel ao ritmo de Bragança e a deixarem a defesa e o meio campo adversário sem ritmo para a velocidade imposta. Veio uma oportunidade, outra, mais outra, mas entre o poste e o redes a bola teimava em não entrar. Até que Sarabia se apanhou à entrada da área e disparou uma bomba com tal violência que foi preciso o VAR para confirmar onde tinha caído a bola depois de embater na barra.

Estava consumada a cambalhota no marcador e o total domínio do Sporting só foi colocado em causa depois da expulsão de Tabata. Não que o Casa Pia tenha criado uma real oportunidade de golo, mas com o relvado ensopado e a chuva a cair, já se sabe que uma bola às três pancadas podia ser suficiente para forçar tempo extra, numa altura em que Matheus Nunes e Ugarte já tinham entrado para guardar mais uma prenda de Natal que esta equipa dá aos Sportinguistas. A verdade é que há muito que os Leões não passavam uma quadra assim: líderes do campeonato, nos oitavos da champions, nos quartos da Taça e na final four da Taça da Liga, com o extra de, no espaço de uma semana, poderem assistir a dois fcp vs slb. Everything’s Gonna Be Cool This Christmas.