Jogo muito complicado, a fechar um ano de sonho para a principal equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal. O Portimonense veio com todas as manhas preparadas, apanhou-se a ganhar com um autogolo, mas não previa um incrível Matheus Reis, um hattrick de Paulinho e uma fezada vinda da bancada

 

Veste o casaco.
Estou cheia de calor, pai. Não me apetece…

Usar as mesmas meias em dia de jogo. Ouvir a mesma estação de rádio. Ocupar o mesmo lugar no sofá. Mudar qualquer coisa de posição. Trocar de lugar com quem sofre ao teu lado. A lista de cenas sem explicação que fazemos na fezada de ajudar o Sporting a ganhar é quase interminável e acompanha-nos ao longo de uma vida. E, ontem à noite, ali no alto do topo Sul, vi-me a regressar aos tempos de pré e de adolescência, na ânsia de ver o Sporting dar a volta a um Portimonense que veio para Alvalade num autocarro de 6-3-1, tendo como principal missão anular as possíveis ligações de Matheus Nunes com os três da frente.

Veste o casaco.
Estou cheia de calor, pai. Não me apetece…

Nas saídas para o ataque, os algarvios depositavam toda a fé no armário Canté e na técnica de Nakajima, o japonês feito para viver na região mais a sul do continente português. Foi dele o primeiro aviso, numa bomba parada por Adán, antes da sorte bafejar os que vestiam de amarelo com um autogolo de Matheus Reis. Muito injusto para o lateral cada vez mais central e que, no fundo, funciona como um interior na estratégia de Amorim. O ex-patinho feio estava a ser o melhor dos Leões e não merecia o infortúnio, mas a verdade é que não se deixou abater e de continuar a ser o que encarava a surpreendente desvantagem com mais cabeça.

Diga-se de passagem, que à medida que o tempo passava era mais complicado manter essa cabeça fria, muito por culpa da quantidade de vezes que os jogadores do Portimonense se atiravam para o chão. Vergonhoso é a palavra correcta, num lesa futebol a que se juntava a dificuldade do Sporting em criar reais situações de perigo. Nuno Santos, ontem lateral esquerdo, poucas vezes conseguiu cruzar e quando o fazia encontrava pelo menos meia dúzia de adversários enfiados na área. Do lado contrário, Esgaio não só parecia incapaz de ganhar um duelo defensivamente, como se mostrava uma nulidade a dar profundidade à equipa. E com o meio completamente tapado pelo aglomerado de portimonenses, a ansiedade apoderava-se daqueles 11 Leões nada habituados a estarem em desvantagem e com demasiada pressa em inverter essa situação.

Veste o casaco.
Estou cheia de calor, pai. Não me apetece…
É para dar sorte. Não queres ganhar?
Oh, o que é que isso tem a ver com o casaco?

O jogo pedia Daniel Bragança, mas este que vos escreve, acreditando plenamente na reviravolta, achava que pedia mais. O telefone foi trocado de bolso e os efeitos foram imediatos: entrada fortíssima do Sporting na segunda parte, com Esgaio finalmente a aparecer e a rematar cruzado muito perto do golo. Depois, cabeçada de Palhinha e um remate em fúria de Paulinho (remata, meu! Remata!). O Portimonense estava cada vez mais encostado lá atrás e não conseguia tirar a bola para os da frente, algo que se acentuaria quando Bragança veio para o lugar de Palhinha, ajudando na circulação da bola com o critério que havia faltado no primeiro tempo.

Entretanto, Matheus Reis assume mais uma arrancada desde lá de trás, procurando desequilibrar pelo meio. Passa um, passa dois e leva uma mocada ao passar pelo terceiro. É amarelo e é o segundo para Pedro Sá, capitão algarvio, que havia visto o primeiro ao reclamar uma agressão de Paulinho. O que acho curioso, é que toda a comunicação social fale nisso ignorando que esse “pontapé” surge na sequência de duas chapadas ao nosso camisola 21. Dá jeito.

Regressando à bola corrida, falta meia hora para o final e Amorim lança mais um puto: Geny Catamo. O extremo entra para o lugar de Esgaio com clara indicação para, mesmo tendo que fazer o corredor, ir para cima dos adversários e não ter medo de arriscar o 1×1.

Veste o casaco.
Fogo…
Veste isso que nós marcamos!
Epá, se nós não marcarmos…

(Desculpa, Porro. Sei que a miúda estava muito contente a mostrar a camisola com o teu nome que recebeu no Natal, mas valores mais altos se levantaram). Coates aparece na zona de ponta de lança. Daniel Bragança dispara de fora da área. Nuno Santos tem finalmente uma bola à medida do cruzamento e mete-a onde aparece Paulinho a cabecear! Está feito o empate!

O Sporting carrega, Nuno Santos dispara uma bomba sem mira, Geny é empurrado na área, mas o jogo segue. A bola volta à esquerda, Nuno Santos cruza para Pote e o remate deste encontra um defesa pelo caminho, desviando da baliza, mas não de Paulinho que aparece no sítio certo a provocar a cambalhota no marcador e a fazer levantar em delírio o banco de suplentes, verdadeira turma do secundário.

Mais calmos, os Leões trocam cada vez melhor a bola e numa dessas trocas Pedro Gonçalves entra na área, remata para defesa do redes e tem um daqueles momentos que distingue um jogador: em vez de deixar a bola ir para canto, vai ter com ela e mete redonda para trás, dizendo a Paulinho “toma que é tua!”. E foi. Hattrick de João Paulo, mostrando os dentes e fazendo cair de vez um adversário que ainda acabaria por reduzir, já nos descontos, de bola parada, numa altura em que o Sporting entrava claramente em descompressão.

O que é que eu te disse?
Oh, isto não tem nada a ver com o casaco!