De acordo com a revista sábado, Luís Filipe Vieira tentou, em outubro de 2018, um pacto com Frederico Varandas, presidente do Sporting. Motivo: os salários nas modalidades amadoras que, segundo o então presidente do Benfica, tinham sido inflacionados por Bruno de Carvalho e estavam a criar um problema, já que Vieira tinha sido obrigado a acompanhar a política salarial do rival. Sousa Cintra, ex-presidente do Sporting, foi chamado para promover um encontro entre os dois, mas tudo acabaria por correr mal devido a uma entrevista de Frederico Varandas. A história está contada nos resumos das milhares de escutas telefónicas da Operação Cartão Vermelho, processo no qual o ex-presidente do Benfica foi constituído arguido por suspeitas de burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e abuso de informação privilegiada.

Foi em outubro de 2018, que Luís Filipe Vieira contactou José de Sousa Cintra, perguntando se este tinha uma “boa relação com Varandas”. Depois da resposta afirmativa, Vieira começou por dizer que tinham que se “sentar os três”, explicando que “teve que aumentar as modalidades por causa do Bruno de Carvalho”, mas que não podia “andar com modalidades com 17 de milhões de orçamento.

Para isso acontecer, Frederico Varandas teria também que baixar ordenados. Vieira acrescentou que estaria disposta a assumir um “pacto” de quanto é que os dois clubes estariam dispostos a gastar por ano nas modalidades amadoras e a cumprir, porque o “dinheiro faz falta para o futebol”. Sousa Cintra comprometeu-se a fazer chegar o recado a Frederico Varandas, sugerindo um almoço ou jantar entre os três. Num sítio onde ninguém os visse, sugeriu Luís Filipe Vieira. O ex-presidente do Benfica diria ainda que, com o tal “pacto”, os “dois clubes só têm a ganhar um com o outro”, já que, exemplificou, no Atletismo do Benfica andavam “uns chulos” a ganhar três mil euros/mês, comentando que andavam “todos malucos” e que os aumentos só aconteceram devido à política de investimento das modalidades amadoras de Bruno de Carvalho.

A realização do encontro até estaria bem encaminhada. Porém, a 27 de outubro de 2018, Frederico Varandas, sabendo ou não do “convite” de Vieira, deitou tudo por terra com uma entrevista ao Expresso, declarando que os sucessivos casos judiciais envolvendo o Benfica – emails, e-toupeira – eram “uma vergonha para o futebol português”. Logo em seguida, Luís Filipe Vieira pediu a Sousa Cintra para “já não marcar nada” com Frederico Varandas, porque, segundo as suas palavras, “o gajo é ordinário”, referindo-se à entrevista ao semanário Expresso, acrescentando ainda não querer “mais nada com ele”. Vieira disse ainda a Sousa Cintra que Varandas teria que “olhar mais para o que tem dentro de casa, porque ainda não sabe o que lhe vai suceder”.

O tema das modalidades regressaria às escutas telefónicas, em abril de 2020, através de uma conversa entre Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, e Miguel Moreira, diretor financeiro (que esteve sob escuta). Miguel Moreira refere que Luís Filipe Vieira ia “falar com Varandas”, novamente devido aos salários nas modalidades amadoras. Segundo o diretor financeiro, Vieira prepara-se para dizer ao presidente do Sporting que “todos os anos” o Benfica “tinha um buraco de 60 milhões” e que o “segredo” era “vender jogadores e “reduzir as modalidades”. Soares Oliveira alertou, de imediato, o seu interlocutor que o então presidente não poderia avançar com tal número a Frederico Varandas, porque isso acabaria por chegar à imprensa. Miguel Moreira concordou, acrescentando não perceber “estas maluquices de dizer tudo diretamente aos outros”.

No vasto acervo de escutas telefónicas do “Cartão Vermelho”, Frederico Varandas surge não só como personagem indireta das conversas interceptadas, mas também como um dos atores principais. O seu interlocutor era o empresário Bruno Macedo. Numa dessas conversas, Bruno Macedo – arguido no processo por suspeitas de burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento de capitais – informou o presidente do Sporting já ter falado com os empresários Giuliano Bertolucci e Kia Joorabchian, pedindo-lhes ajuda para colocar o empréstimo obrigacionista do clube junto de investidores estrangeiros.