A (mais ou menos) 20 de fevereiro de 2018, a equipa de voleibol feminino do Sporting CP recebia, na “sua” casa à época, o Pavilhão Inatel 1º de Maio, a equipa do CF Paulenses. Vencemos o jogo por 3-0. Esse foi na época de regresso da modalidade, 22 anos depois de ter sido extinta. Dessa equipa ainda há 3 nomes que continuam a lutar pelo nosso Sporting CP: Lúcio Loureiro (treinador-adjunto), Sofia Reigoto (jogadora nesse ano) e Rui Costa. Desde esse jogo em 2018 até ao ano de 2021 foram muitos treinos, jogos, jogadoras e muito trabalho para se passar de um Pavilhão Inatel 1º de Maio quase vazio para um Pavilhão João Rocha com mais de 1000 pessoas para ver um jogo de voleibol feminino.

Para mim é EVIDENTE a minha primeira palavra deste bonito serviço. Estou de pé, a aplaudir e a gritar Sporting CP para o treinador Rui Costa. Aquele que, no meu entendimento, mais mereceu o momento histórico que se passou ontem. O fervor leonino com que as bancadas ontem homenagearam a equipa de voleibol é o mesmo com que o sportinguista Rui Costa entrega, diariamente desde 2017, para tornar o nosso clube num exemplo da modalidade, do desporto feminino no Sporting CP e do desporto como atividade digna, justa, honesta e apaixonante.

Agora vamos ao jogo. As histórias do jogo escrevem-se a duas partes. A primeira é a presença massiva dos adeptos que abrilhantaram o Pavilhão João Rocha. Dessa parte, há vídeos, fotografias e memórias inesquecíveis que se vão tatuar em todos os que gostam do Sporting CP e do voleibol. A segunda parte escreveu-se dentro de campo.

Este foi mais um jogo muito bom, tal como o resultado nivelado já mostra. O SL Benfica tem uma belíssima equipa que lutará, acesamente, pelo campeonato até ao último jogo. O rival entrou muito bem, com destaque para o reforço de Inverno, Natasha Farinea, a oposta Letícia e a Fernanda Silva. O foco, neste primeiro set, foi servir na Bárbara Gomes, que demorou um pouco a ficar adaptada ao serviço adversário. A par disso, a nossa eficácia de ataque estava algo inconstante, pelo que a derrota no set acabou por acontecer.

Para o 2º set a nossa estratégia de jogo sofreu uns pequenos ajustes. Se no primeiro set andámos a servir para a Beatriz Pereira e Thaynara, neste 2º set o foco estava na Thaynara. As ordens eram claras e evidentes para servir para a capitã do SL Benfica, pressionando-a fortemente. Percebeu-se também, que as nossas jogadoras procuravam um serviço mais curto, tentando que a bola caísse rápido depois de passar a rede. A par do serviço, tivemos a Regalado a querer mostrar porque é titular da seleção peruana.

No 3º set, novo destaque para a peruana que aguentou, com os seus ataques, uma ligeira quebra de concentração na nossa recepção. Fizemos o 2-1, mas o SL Benfica ainda estava na luta. No 4º set, nova descida de eficácia no ataque e voltámos a cair de qualidade, deixando o jogo ir à negra. Em nenhum dos sets que perdemos, a questão do ataque estava ligada à melhor performance de bloco do rival, mas sim no seu maior acerto defensivo. O treinador Rui Costa também deu descanso à Regalado, dando uma oportunidade à Vanessa Paquete. Infelizmente não resultou. O jogo estava muito acelerado e intenso pelo que era muito difícil alguém vir do banco e fazer a diferença. Ambos os treinadores foram muito conservadores nas substituições, exatamente porque perceberam isso. Neste 4º set, tanto para fazer descansar a nossa oposta titular, como para tentar virar o jogo, a entrada da Vanessa Paquete foi uma boa tentativa.

Na negra, eu vi a coisa “negra”. Não estávamos a descolar no marcador e o SL Benfica até conseguiu uma vantagem perigosa de 3 pontos aos 8-11. Depois desta sequência de pontos perdidos, nivelámos até ao momento em que a Ju Carrijo decide fazer parar o meu coração. A perdermos 15-16, a nossa craque faz um segundo toque absolutamente delicioso e, quase, a tocar no divino. Ainda assim, eu fiquei pálido e sem conseguir falar durante uns segundos. Que coragem! Só diz que é preciso coragem para saltar de paraquedas quem nunca fez um 2º toque, numa negra, contra o rival, num ponto de jogo para a equipa adversária. Nesse momento conquistou o melhor festejo do jogo. Dedo no ar, braço esticado e um grito de “eu mando nesta porra toda!”. Depois desta bola o jogo acabou, vencemos os pontos que faltavam, colocando o Cherba aos pulos na bancada (verdade, Cherba?).

 

Destaques:

Bárbara Gomes
Estou a desfrutar da Bárbara como nunca o tinha feito. Estar de verde ajuda, mas vocês já viram a alegria? O SL Benfica, ainda na expetativa de uma Bárbara pesada de 9 meses parada, ofereceu-lhe a linha para atacar. A nossa jogadora agradecia e pontuava. Se em 1 mês já está assim, daqui a umas semanas temos MVP. Ainda algumas afinações na recepção, mas são “coisas” que os treinos resolvem.

Vanessa Paquete
Pedi o nome dela várias vezes aqui em casa. Imagino-lhe a vontade de entrar em campo para fazer a diferença. Está a ser um dos destaques do Sporting CP desta época e esse mérito vai dar-lhe uma nova oportunidade de jogar num pavilhão assim.

Daniana Esteves
Não foi uma entrada feliz para servir.

Margarida Rocha
Não vou mentir. Quando entrou para servir não esperava o impacto decisivo que teve. Deve ter uma estrelinha especial com o SL Benfica porque, já na Luz, tinha feito das suas. Serve muito bem e, talvez pelos nervos, estava a demorar a mostrar. Espero que tenha vindo para ficar esta garra e eficácia de serviço.

Thaís Bruzza
Ao preparar o artigo reparei que fez 7 pontos. Só? Pareceram-me 100! Que jogo que fez e sem recorrer a nenhum toque de génio com os pés. Excelente na recepção, muito bem no serviço e defesa. Estava muito empolgada com o público e queria muito tornar o jogo inesquecível. Conseguiu.

Ju Carrijo
Terei sempre dificuldades em descrever a perfeição. Hoje, a 22 de fevereiro de 2022, vou chamar-lhe Ju Carrijo.

Kat Regalado
Melhor jogo com a nossa camisola. Disse isto há pouco tempo e a Regalado, neste jogo, voltou a superar performances anteriores. Mesmo tendo quebrado no 4º set, isso não mancha o bom jogo que fez. A parte boa disto tudo é que ainda é possível melhorar. Está a crescer!

Jady Gerotto
O SL Benfica tentou marcá-la e foi preciso uma esforçada Jady para contrariar isso. Mais discreta que o costume, mas nem por isso menos jogadora. Está a crescer e estes jogos elevam, ainda mais, a sua qualidade. Foi um jogo duro.

Aline Timm
ELA ESTÁ DE VOLTA, GENTE! Melhor jogo da época, de longe! Tempo zero como se via no ano passado, concentração no bloco, eficácia no ataque e braços bem abertos para abraçar as colegas. Grande jogo da Aline, confirmando que o ano de 2022 é para recuperar a forma. 17 pontos! Uau!

Daniela Loureiro
Das bancadas ouvia-se “uouuuuu” a cada defesa espetacular da capitã. E ouviu-se muitas vezes. A Daniela está na sua melhor forma e curtiu o jogo tal como nós. Ela divertiu-se “à grande”, jogando muito bem e transportando qualidade no primeiro toque da equipa. Puxou pelas colegas, pelo público no pavilhão e pelos adeptos na televisão. Bravo Dani!

Rui Costa
Mereceu o pavilhão cheio, mereceu a vitória e merece o reconhecimento de todos os sportinguistas. No entanto, ele quer mais e nós também.

Tiago Pereira
Não joga nesta equipa, mas estava na bancada a ver o jogo. Apesar de ter tido jogo horas antes, ao contrário de TODOS os seus colegas (corrijam-se se estiver errado) ficou no pavilhão apoiar. É, de longe, a alma da equipa masculina e um atleta que nos devemos orgulhar em ter a nossa camisola vestida.

Gersinho
A par do Tiago, também ele estava nas bancadas. A equipa por si comandada tinha, poucas horas antes, demonstrado aquilo que temos estado à espera. O crescimento da equipa, a par das vitórias, está à vista e ele é o responsável por isso. Admito que gosto do Gersinho, acho que tem qualidade e merece ter a equipa certa para conseguir explanar todos os seus atributos técnico-táticos. Para este artigo, merece ser realçada a vitória categórica sobre a AA Espinho e a presença no Pavilhão para apoiar a equipa feminina.

SL Benfica
O treinador Nuno Brites e capitã queixaram-se na arbitragem. A verdade é que, a qualidade da árbitra do jogo, não abunda. Prejudicou o SL Benfica, como também o fez com o Sporting CP. Foram diversos os momentos em que as decisões foram bem contestáveis. O treinador também quis fazer críticas ao árbitro de linha, mas importa relembrar que, quando o treinador Rui Costa veio em defesa do VOLEIBOL FEMININO, pedindo árbitros de linha nos jogos do feminino (quando não havia), recordo que o Nuno Brites não se pronunciou. Teve oportunidade para isso porque foi pedida a opinião para a Tribuna Expresso. Tem o direito à crítica, na mesma medida que tem o dever de defender, em tempo oportuno, o voleibol feminino que representa. Já agora, a quem já pede tecnologia nos jogos femininos, está 100% correto. Relembro é que, nem há um mês, havia sequer árbitros de linha nos jogos.

Termino com uma história. No final do meu casamento, um amigo antigo e sábio, disse-me: “espero que este não seja o dia mais feliz da tua vida”. Pegando nas suas palavras, transporto-as para Domingo e digo-vos que espero que aquele não tenha sido o dia mais feliz da época. Vamos com tudo!

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.