Demasiadas vezes apático ao longo dos 90 minutos, falhando golos quando não podia falhar e vendo a estrelinha a não acompanhar, o Sporting empatou na Madeira e pode ficar a ver o fcp cavar uma diferença de oito pontos que se afigura decisiva para as contas do título

 

Não sei se vos aconteceu também a vocês, mas eu tenho ideia de ter sonhado com aquele remate do Porro às três tabelas – barra, linha, poste – num momento em que ao contrário do que a letra da canção diz, a estrelinha não foi a acompanhar.

Obviamente que será redutor e até ilógico, explicar o empate no Funchal com mero recurso aos desígnios dos deuses do futebol, mas foi impossível não recordar que, há um ano, quando estávamos a ter jogos menos conseguidos como o de ontem, a bomba do lateral espanhol acabaria dentro da baliza, tal como aquela cabeçada de Coates, já na segunda parte, que se dirigiu caprichosamente para fora quando o redes estava mais do que batido.

Se juntaremos a estes dois momento o falhanço de Slimani na primeira parte, após primorosa assistência de Coates, temos as três maiores oportunidades falhadas pelo Sporting frente ao Marítimo, numa partida para a qual os Leões arrancavam sem dois rapazes que, entre assistência e remates certeiros, são responsáveis por 26 ou 27 golos desde que a época arrancou. A lesão de Pote e o castigo de Sarabia, obrigaram Amorim a mexer na equipa, nomeadamente no ataque. Slimani e Daniel Bragança foram titulares, com o argelino a juntar-se a Paulinho na frente e com o médio a juntar-se a Ugarte e Matheus Nunes no miolo. O uruguaio era quem ocupava mais a zona central deixando a Bragança e Matheus o papel de abrirem mais e surgirem como uma espécie de falsos interiores, papel no qual nem sempre se sentiram confortáveis. Nuno Santos também voltou à titularidade, ocupando a ala esquerda e fazendo com que Matheus Reis, outra vez senhor de uma enorme exibição, regressasse ao trio de centrais.

Como se não bastasse a equipa ter que adaptar-se a este novo desenho táctico, ainda teve que passar a correr atrás do prejuízo a partir dos 5 minutos, após bloqueio cerebral de Nuno Santos e de Matheus Nunes que valeu pelo menos cinquenta por cento do golo dos insulares. Na resposta, o Sporting teve bola, bola e mais bola, mas quase sempre a decisão final terminava num cruzamento para a área, muitas vezes feito à toa. Bragança e Nunes eram imagem de uma equipa desinspirada, por muito que se percebesse que até nem era assim tão complicado abrir brechas na defesa adversária, como viria a acontecer aos 38′, quando os dois Matheus e Nuno Santos ensaiaram uma troca de bola que terminou num cruzamento de Reis para o remate pronto de Slimani. Estava feito o empate, resultado com que se chegaria ao intervalo, pese um logo para o Marítimo logo a seguir, bem anulado por fora de jogo, mas um regresso ao que havia acontecido nos Açores. Era um mau sinal.

No recomeço, Amorim corrigiu o que Bragança e Matheus Nunes iam fazendo e mal e, finalmente, Porro e Nuno Santos passaram a ter consecutivamente quem lhes permitisse fazer algo à bola que não cruzar. O Sporting ocupou ainda mais o campo, ganhou ainda mais o miolo, e o Marítimo encostou-se definitivamente à sua área, até porque Xadas já não tinha pernas para transições rápidas e Guitane perdia-se em números de malabarismo. A verdade é que o tempo passava e na área insular pouco se passava. Olhava-se para o banco e via-se André Paulo, João Virgínia, Luís Neto, Rúben Vinagre, Marcus Edwards, Ricardo Esgaio e Dário Essugo. Curto, curtíssimo, ficando a dúvida de porque raio Amorim não levou um ou dois miúdos com ele (se Geny Catamo foi aposta, porque não outros que também já foram chamados à equipa principal?) e a irritação do porquê do tempo passar e Edwards, a única opção ofensiva e um agitador puro, não entrar.

O inglês só entraria já para lá dos 75 e já depois de Porro mandar aquela bomba às três tabelas, nunca se percebendo muito bem que raio de posição veio ocupar, até porque depois Bragança saiu para entrar Vinagre, que foi ocupar o lugar que Nuno Santos tinha, em teoria, entregue a Edwards. No meio desta confusão tática, Coates já fazia de terceiro ponta de lança e depois de cabecear a rasar, mergulhou em direcção à bola cruzada por Paulinho e atirou-a por cima, num lance onde fica uma grande dúvida sobre se é ou não grande penalidade.

No final, o Marítimo conseguiu o que queria e o Sporting regressa ao continente com a clara noção de que, se o fcp vencer o Gil Vicente, o sonho do bi terminou, e que nem há tempo para digerir tal notícia, pois quarta feira joga-se o primeiro de dois jogos que dão acesso ao Jamor.