Depois da expulsão de Coates no Dragão, uma falta invertida e transformada em penalty. Soares Dias foi um dos protagonistas da primeira mão da meia final da Taça, mas também há culpas próprias na derrota que nos leva em desvantagem para o tira teimas

 

 

Quase sem darmos por isso, tinham passado dez minutos. Sem jogo, praticamente, que aquela estupidez que orgulhosamente os rapazes da Juve Leo repetiam impedia a bola de rodar. As tochas voavam em direcção à baliza de Adan, acertando em quem tivesse o azar de estar no caminho das que ficavam mais curtas, e esse momento de motivação ao contrário retardava o arranque de 45 minutos que seriam pouco dados a emoções.

As duas equipas estavam completamente encaixadas, com Sérgio Conceição a assumir sem problema que o objectivo inicial passava por controlar o jogo e, porque não, levar o 0-0 para a segunda mão. Grujic juntava-se a Vitinha e a Uribe no miolo, criando superioridade em relação a Ugarte (mais um belíssimo jogo) e a Matheus Nunes (outra vez com a cabeça vá lá saber-se onde). Destes três médios, Uribe baixava várias vezes para ser a sombra de Paulinho, impedindo-o de servir de elo ao jogo do Sporting, ao passo que Taremi e Fábio Vieira se preocupavam mais em cancelar as saídas com bola de Inácio e de Neto do que propriamente em atacar a baliza.

Do lado do Sporting, nada de novo, apenas com Nuno Santos a surgir como extremo esquerdo face à ausência de Pote, mas a passar completamente ao lado da partida. Com Paulinho amarrado, os Leões até conseguiam encontrar forma de chegar lá à frente, muito por culpa de Porro, verdadeira delícia na arte da recepção orientada, mas, depois, a falta de inspiração dos homens da frente (o craque Sarabia deve ter feito os piores 45 minutos de Rampante ao peito), impedia a criação de real perigo. Aliás, o único lance de golo em todo o primeiro tempo vem de uma pantufada de ressaca de Matheus Nunes, que viu a bola passa a menos de um palmo do poste.

No restante, jogou-se pouco, com faltas e faltinhas e Soares Dias a mostrar a sua mestria como artista do apito, como naquela falta clara sobre Paulinho, à entrada da área, ou no amarelo que o mesmo Paulinho vê depois de Grujic lhe acertar na canela.

Ao intervalo, pedia-se a Amorim que fizesse algo que espevitasse a equipa, e a aposta foi na irreverência de Edwards, entrado para o lugar de Nuno Santos. Ainda o inglês não tinha tocado na bola e já a dupla espanhola levava à loucura os mais de 40 mil Sportinguistas nas bancadas: passe soberbo de Porro na marcação de um livre, resposta de primeira do craque maior desta Liga à beira mar plantada, Sarabia, numa curva banana que entrou furiosa na baliza dos framboesa.

Meninos e meninas, moços ricos, moças finas, aí vem (aí vem). Aí vem o circo!

Estranhamente, o golo transformou o Sporting para pior. A equipa parece ter imediatamente desligado, encolheu-se, deixou o adversário vir por ali fora, e isso era tudo o que Evanilson precisava para mergulhar na área depois de uma antebraçada bem dada na cara de Porro. Soares Dias não hesitou, o VAR teve que ir atender algum freguês que pediu algodão doce e Taremi converteu o penalti num empate, dez minutos depois do golo de Sarabia.

As coisas ficaram ainda piores, quatro ou cinco minutos depois. Perda de bola de Matheus Nunes (uma de tantas, na segunda parte), toda a gente a recuperar mal, toda a gente a defender mal, e 1-2 para o fcp, que ainda assustaria mais duas ou três vezes o último reduto leonino, entretanto transformado numa linha de apenas quatro, quando Slimani entrou e Neto saiu. Do outro lado, João Mário, Pepê e Otávio tinham entrado e davam ao conjunto azul as armas necessárias para aproveitar o espaço que se ia abrindo para as transições.

Os Leões estavam completamente perdidos em campo, experimentando uma actuação em conjunto nunca antes ensaiada, não sabendo jogar para a verticalidade (ou jogo aéreo) de Slimani, e tendo em Edwards um talento completamente alheado do que são as dinâmicas da equipa. Sobrava a alma de Coates, o constante acreditar de Porro, o carácter de Matheus Reis e a fé numa qualquer canhotada de Sarabia, mas nem Amorim ajudava, deixando meio mundo de boca aberta quando tirou Ugarte e deixou Matheus Nunes, para fazer entrar Bragança. Não só tirou o médio que não merecia sair, como ficou claro que Amorim voltou a não perceber que o problema nem sempre está em ter um gajo mais atrás e um a menos à frente; no miolo houve quase sempre superioridade do adversário.

E assim o jogo foi-se arrastando para o fim, com os jogadores verde e brancos de confiança minada, alma irritada pelos sopros do Soares (ainda bem que os árbitros respeitam cada vez mais o Sporting…) e as pernas pesadas de alguns daqueles que têm sido pau para toda a obra com pouco descanso. Coates ainda voltou a ir lá acima, como só ele sabe ir, mas tal como Madeira, a estrelinha que guiava o capitão nos momentos de maior aperto voltou a não brilhar. Dentro de mês e meio há mais.

fotografias e aparato, a galinha e o pato, aí vem! Aí vem o circo!