Com o foco colocado na Ucrânia, chegou até ao email da Tasca o pedido de ajuda, urgente, por parte de um Sportinguista. Nem sempre é fácil ter a coragem para acenar ao mundo as nossas necessidades, e só por isso o Mário Gouveia já deu um importante primeiro passo para que possamos ajudá-lo a ultrapassar este momento complicado da sua vida.

Deixo-vos a carta que ele nos escreveu:

 

Sr. Cherba, não o conheço pessoalmente, e peço-lhe desculpa pela abordagem, mas estou desesperado e já não sei a quem recorrer, pois até agora todas as portas de ajuda me foram negadas.

Por mais estranho que pareça, a minha história de vida é bem real e faço um grande esforço para sobreviver ao pesadelo em que se tornou.
Mas antes de prosseguir com a minha história, deixe-me dar-lhe os parabéns por contribuir com “A Tasca do Cherba” para manter a chama bem viva do sportinguismo de muitos, mesmo em períodos tão complicados para o Clube, que todos nós fomos vivendo e acompanhando com tremenda paixão. Sigo este sítio/blogue desde os seus primórdios, quando ainda se chamava “Cacifo do Paulinho” e depois por breve período com o nome de “Comando C” (que por razões legais não lhe foi permitido usar esse nome ou algo parecido). Embora nunca comente, sou visitante assíduo, quase diário, deste espaço. Conheço todas as “personagens”, desde os mais polémicos aos mais moderados, as diferentes “facções” de prós e contras da actual/anterior direção, dos comentadores mais seletivos aos que “vão a todas” e muitos outros nicks que entretanto desapareceram ou raramente comentam.
Toda a minha vida fui sportinguista e sempre acompanhei (e sofri) a realidade do clube como adepto atento e apaixonado. Tenho memória das equipas do Sporting desde o início dos anos ’80, pois nasci em 1971. Lembro-me perfeitamente de todas as glórias das modalidades a que nos agarravamos com tanto afinco, pois o futebol, infelizmente, não nos deu tantas alegrias como desejávamos.
Sei bem o que foi crescer como adolescente, tal como todos da minha/nossa geração, que estavam na parte dos “fracos”, em minoria face aos benfiquistas que nos gozavam com o célebre “só duram até ao Natal” e nós sempre esperançosos alimentando o sonho de sermos novamente campeões (futebol) depois de tantos anos de jejum com o “pró ano é que é!” Outros tempos, com muita ingenuidade à mistura própria da idade e sem a avalanche informativa dos dias de hoje.
Voltando à história com que iniciei a escrita (e peço desculpa pelo zig-zag): Vivo desde há 2 anos numa aldeia a cerca de 7 km de Santarém, isolado de qualquer tipo de comércio ou serviços, onde o multibanco mais próximo se situa a 5 km de distância, na sede da junta de freguesia. Não sou natural daqui, nem tenho qualquer laço parentesco ou afectivo com a região, estou completamente deslocado do mundo onde nasci, cresci e vivi (grande Lisboa), num contraste brutal com esta realidade rural onde não há oportunidades para nada, que não seja agricultura sazonal. Vim para aqui tão longe porque não consegui alugar uma casa mais perto, que não me exigissem fiador e um preço possível de suportar, num curto espaço de tempo, em que a situação foi aceitar algo ou ficar no meio da rua!
Quando por fim alguém “compreensivo” nos fez um contrato dispensando esse requisito, descobrimos dolorosamente que afinal o “presente” estava armadilhado! Tenho sobrevivido num casebre velho, sem condições mínimas de salubridade e habitabilidade, pois chove em todas as divisões! Se fosse “só” chuva, já seria mau demais, mas é água da chuva misturada com urina/fezes de ratos numa mistela nojenta. Os ratos pululam por cima do tecto e alguns pra lá morrem e apodrecem dando origem a vermes que caem por entre as brechas das tábuas apodrecidas deste caixão disfarçado de tecto! Em algumas partes do barraco, o tecto está abaulado e aparenta iminente derrocada! As paredes escorrem água, incluindo tomadas, num evidente sério risco de provocar algum incêndio e por isso, tenho sectores do quadro eléctrico desligados. O cheiro a bolor e a fungos é constante, humidade e frio também, num ambiente gélido como uma gruta!
A senhoria manteve-se irredutível quanto a efectuar obras ou a renegociar o valor da renda, dizendo apenas e só, que se eu estivesse mal que me mudasse! Tanto mais haverá para contar que nem sei bem por onde começar e até me custa a descrever tudo isto…
A parte mais louca é esta: a renda tem o valor absurdo de 380€ !! Sem despesas incluídas! A muito custo fui pagando enquanto pude, mas já não consigo mais viver aqui! O contrato findou e a senhoria moveu uma acção para me tirar daqui para fora. Ninguém quer tanto sair daqui do que eu, pois preciso salvar a minha mulher que entretanto arruinou a saúde física e principalmente mental, estando agora diagnosticada com uma doença crónica incapacitante de mais de 65% (posso provar com certificado). O ano passado estive uma semana no hospital de Santarém com uma grave infecção geral e que os médicos não chegaram a concluir a origem (mas eu sei bem…só poderá ter sido provocada por algum vírus que aqui apanhei!)
Os aparelhos elétricos todos avariaram – máquina de lavar roupa, TV, portátil, microondas, panela elétrica, esquentador, etc. Foi tudo muito doloroso e atroz o que temos vivido aqui neste lugar horrível. Sofremos em silêncio durante muito tempo, por vergonha não pedimos ajuda há muitos anos atrás e quando pedimos nunca ninguém nos ajudou, mais não fosse com informação válida ou útil para os direitos e/ou possibilidades para sairmos daqui.
Agora batemos a todas as portas, mas é um mundo de burocracia, de chutar a bola para o departamento seguinte e a conclusão afinal de contas é que não nos enquadramos no “critério” como dizem. Não tenho sequer transporte para me deslocar, pois à porta está uma carrinha velha com muitos problemas mecânicos e sem condições de circular.  Preciso de uma casa digna, humilde, mas com as condições mínimas de vida. Um T1 é o bastante para nós. Há muito que procuramos uma casa para alugar e sair de vez desta terra (mas acrescento que também não há casas em Santarém para alugar que não sejam a preços proibitivos!)
Finalmente, conseguimos encontrar alguém que acedeu a alugar-nos uma cave no Barreiro, sem exigir fiador (condição que tem sido sempre o nosso obstáculo intransponível), mas que pretende em contrapartida 3 rendas à cabeça que totalizam o valor de 1500€. Feitas as contas e já contando com despesas de mudança e outras, faltam-me 800€ para conseguir segurar a casa!
Toda esta mensagem pode parecer um disparate, mas posso provar a minha condição e tudo o que acabei de escrever com mais pormenores, se forem relevantes para ajudar.  Já publiquei vários apelos em páginas do Facebook, mas, ou por falta de visibilidade ou por não chegarem às pessoas certas não obtive qualquer receptividade. Já bati em muitas portas e falei com muita gente, mas embora todos fiquem chocados e muito compadecidos com a nossa situação, não consegui até agora ajudas em concreto.
Pela visibilidade que tem “A Tasca do Cherba” e como sportinguista, ficaria imensamente agradecido se pudesse pelo menos partilhar a minha história. Sei que há na net muitos falsos peditórios, mas acredite em mim e desde já o convido a vir ao meu encontro para ver com os seus próprios olhos as condições em que “vivo”. Tenho alguns poucos bens que não são de grande valor, mas que posso doar para alguma eventual venda solidária… é apenas uma ideia, não sei se viável ou não. Livros, CD’s e outros objetos que não me farão falta e que neste momento tenho total desapego deles face às circunstâncias e que acabarão por se estragar de qualquer forma.
Seria uma iniciativa gerida por si ou quiçá alguém indicado, incluindo receitas e com acompanhamento directo de todo o evoluir da situação. Tenho me exposto em vão, fragilizando a minha posição, mas o desespero é grande, por isso, faço qualquer coisa que me possa salvar a mim e à minha mulher. Estou disponível para partilhar outros dados pessoais se achar necessário, mas aqui fica a minha identificação
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Em anexo envio algumas fotos do barraco onde estou a sobreviver e os 2 itens que ainda tenho do Sporting – uma foto original 10×15 cm e um cachecol do Centenário (tinha outras coisas como posteres e jornais do SCP desde os anos ’70, mas tudo aqui se perdeu!)
Muito Obrigado.
Cumprimentos,
Mário Gouveia

É impossível ficar indiferente a isto, certo?

Não vou estabelecer um objectivo para esta Tasca Solidária, mas tenho a certeza que, juntos, vamos voltar a mudar uma vida.

Podes fazer a tua contribuição a partir de 2 euros para a conta da Tasca

nib: 0023 0000 4545 0941 0929 4
(iBan) PT50 0023 0000 4545 0941 0929 4
(Bic-Swift) ACTVPTPL

caso queiram usar mbWay, enviem email para [email protected]

bjs, abraços e vamos a isto, rumo à Cave da Boa Esperança!