A prova de fogo para o que resta do campeonato, não podia ter melhor resposta: o Sporting virou o resultado em Guimarães com dois golaços, carimbando uma exibição consistente que mostrou uma equipa cada vez mais versátil e com mais soluções

 

 

Foi tão sofrido quanto merecido, e ambos por culpa própria. Sofrido pela quantidade de oportunidades de golo claras e desperdiçadas, merecido pelo domínio quase constante e pelo futebol que chegou a ser entusiasmante e a colocar o adversário na caixa.

Uma visita a Guimarães nunca é fácil, e exceptuando aquele 0-5 que começou quando ao primeiro minuto de jogo Bruno Fernandes disparou o primeiro para o fundo das redes, são raras as vezes em que o Sporting não tem que empenhar-se a fundo para conquistar os três pontos. Ontem não fugiu à regra, pese aquele arranque de partida em que os vimaranenses praticamente só viram jogar, mais preocupados em manter posições defensivas do que em esticar-se e ter a bola. Esgaio substituía Porro à última hora, Matheus Reis regressava ao meio para formar o melhor trio de centrais com Coates e Inácio, Nuno Santos surgia como o elástico pelo corredor esquerdo, Paulinho e Slimani continuavam a partilhar o ataque com Sarabia. No Guimarães, Alfa Semedo não hesitava em recuar para junto dos centrais em processo defensivo, não sendo poucas as vezes em que se via os de branco a defender em 5-4-1.

Não admira que, ao intervalo, o contador de posse de bola entregasse 65% aos Leões, num domínio que não se traduzia em vantagem efectiva. Sarabia, num momento raro e após grande passe de Coates, deu um toque errado na bola quando estava isolado, Slimani viu Varela negar-lhe o golo quando o grito já se ajeitava na garganta dos adeptos. Do outro lado, na primeira e única real oportunidade de golo (há uma segunda, sacada por Adán, mas o avançado estava em fora de jogo), o Guimarães marcou pelo seu goleador de serviço, Óscar Estupiñan, depois de um belo momento a meio campo do jovem e promissor, André Almeida. O empate chegaria mesmo em cima do apito para o descanso, num penalti claro por mão de Alfa Semedo que Sarabia transformou com classe.

Já com Pepa na bancada, por ter visto vermelho por palavras (foram três da equipa técnica a saltar do banco do Guimarães, ao longo do jogo), os de branco entraram para o segundo tempo com vontade de marcar. Roubaram bola ao Sporting, foram mais rápidos e mais fortes nos duelos, numa superioridade que durou seis ou sete minutos, mas que incomodou quem via o Sporting meio atarantado. Amorim não esperou muito para mexer, face ao quadro que se ia pintando no relvado, e trocou Slimani por Pote, recuperando o trio Sarabia, Paulinho e Pote.

I’m looking for the magic
I’m feeling for the right way out of mind
Looking for the alchemy to release me from my maze
I am makin myself

Tudo mudou a partir desse momento, com o Sporting a voltar a pegar no jogo e a arrancar para 20 minutos de belíssimo futebol. A entrada de Peter Potter deu bola entre linhas aos Leões, libertou Sarabia, permitiu mais subidas de Matheus Nunes e trouxe Paulinho para o jogo. Com Ugarte a ser rei e senhor do meio campo, a turma de Alvalade enfiou o Guimarães no seu meio campo, empurrando-o para junto da área e ganhando todas as segundas bolas ou tentativas de sair para o contra golpe.

Depois de grande passe de Matheus Reis, Paulinho falhou a primeira, num chapéu cara a cara com o redes que ficou demasiado alto; depois de um cruzamento de Esgaio que provocou confusão dentro da área, Paulinho falhou a segunda já dentro da pequena área, num misto de culpa própria e de mérito de Varela. Exasperante, desesperante! Mas, reza a lenda, Paulinho estava apenas à espera do momento para fazer algo mais mágico: Sarabia e Peter Potter fizeram o 2×1 que tantas vezes ensaiam nos treinos, o camisola 28 entrou na área, foi à linha e meteu rasteira para o toque de letra de Paulinho!

Nas bancadas, os adeptos do Vitória de Guimarães eram corridos à bastonada (às tantas o castigo chega primeiro do que o que está a marinar pelas cenas miseráveis na nossa visita ao Dragão), obrigando o árbitro a parar a partida durante meia dúzia de minutos.O arrefecimento juntou-se ao mood irritante que o nosso Sporting tantas vezes nos oferece, baixando linhas e afrouxando a pressão quando se apanha a ganhar. É verdade que o Vitória não teve propriamente oportunidades de golos, mas aquela sequência de bolas metidas na área que Coates ia limpando pelo ar e rente à relva, foi coisa para deixar inquieto até o adepto mais optimista.

Até que, já para lá do meio dos nove minutos de desconto, Bragança aproveitou o bocadinho que lhe deram para suar a camisola e ganhou uma bola dividida junto à área adversária. A redonda sobrou para outro recém entrado, Marcus Edwards, que ajeitou com carinho e disparou uma bomba em arco com o pé direito, metendo-a no ângulo de uma baliza que conhece bem. O jogo terminava aí, com mais um momento de pura magia, dando o colorido certo ao marcador e deixando claro que há um grupo claramente com vontade de colocar em prática as palavras do seu treinador: ganhar todos os jogos até final. É a única forma de continuarmos a sonhar.