Bem, vamos lá então dar a minha opinião sobre a equipa feminina de iniciados que compete com os rapazes…

1º, e para que fique absolutamente claro, acho a iniciativa fantástica, com grande mérito, e que SÓ pode fazer bem às moças que têm esta experiência. Portanto, independentemente de se ganharem mais ou menos jogos, acho notável o que estão a fazer e aprovo – como se isso fosse sequer necessário! – o que o Clube está a fazer.

2º, foi o primeiro jogo que vi desta equipa, portanto, é uma opinião com uma base limitadíssima e que pode, obviamente, estar deturpada por isso mesmo. Mas, com certeza, não será a ultima vez que as vejo!

3º, Os Unidos eram uma equipa totalmente de rapazes, quase todos eles muito maiores que as nossas raparigas, que perdiam em todas as componentes físicas do jogo: menos velocidade, menos velocidade sobre a bola e com a bola, muito menos capacidade física e muito menos altura – 2/3 da nossa equipa chegava aos ombros de 1/2 da equipa do Os Unidos, para terem uma ideia da diferença que havia.

4º, a equipa bateu-se muito bem na 1ª parte, indo para o intervalo a perder por 0-1, num golo sem hipótese para a nossa GR que até defendeu um primeiro remate com uma grande defesa.

O jogo foi de um só sentido, o da nossa baliza, e as nossas moças nunca conseguiram sequer chegar à baliza do adversário com perigo. No entanto deu para perceber que havia ali qualidade com a bola nos pés, pelo menos em muitas das moças, e que só a muito inferior capacidade física e velocidade de reacção sobre a bola impossibilitava termos mais bola e trocar mais tempo a bola em progressão – invariavelmente caiam 2, 3 ou 4 rapazes sobre as raparigas que trocavam a bola e não davam muitas chances de manter a posse muito mais tempo. No entanto, principalmente no sector defensivo, percebia-se que as raparigas sabiam o que estavam a fazer, inclusive a GR, e safavam-se bem da (meia) pressão que os rapazes faziam.

Praticamente a primeira parte foi isto!

Os Unidos tiveram 4 ou 5 ocasiões de golo, marcaram uma delas, falharam a baliza numa outra, e a nossa GR defendeu o resto, sendo, para mim, talvez a melhor em campo – uma miúda que deve ter dificuldade em chegar à barra fez 2 ou 3 defesas fantásticas e esteve sempre muito segura, inclusive a jogar com os pés. Outra jogadora que me chamou a atenção foi a nº 3, central na 1ª parte e lateral direita na 2ª. Bem melhor a central, até porque a equipa decresceu muito na 2ª parte com a quantidade de substituições que se fizeram ao intervalo. Muito personalizada, bom toque de bola, bateu-se muito bem com rapazes “enormes”, sem “medos”. A terceira jogadora que me chamou a atenção foi a nº 10 (chamavam-lhe Clara), que jogou no ataque à esquerda. Se não era a mais baixa em campo, era a 2ª mais baixa. Muito bons pés, fintava os rapazes com alguma facilidade até eles encostarem nela, tendo depois muita dificuldade perante a mais rapidez e capacidade física dos rapazes.

Não tenho a mínima noção do que vale a equipa de Os Unidos, no contexto desta competição. Mas também não acho muito relevante para agora. O que acho relevante, não por causa deste jogo, e já aqui tenho falado disso quando abordo temas do FF, é a grande diferença de intensidade e velocidade que há entre o nosso FF e outros “futebóis”, nomeadamente o FM (no geral) e, mais em concreto, o FF internacional de bom nível.

Acho que é preciso fazer um trabalho de base nesse aspecto – porque velocidade e intensidade de jogo são coisas que se trabalham – para suprir um pouco a falta de capacidade física natural da rapariga/mulher portuguesa. Sem dúvida que este projecto do Sporting coloca as moças num contexto muito exigente, especialmente nesses 3 aspectos – velocidade, intensidade e físico – e ajudará a desenvolver os 2 primeiros naturalmente porque terão de se adaptar a essa realidade se quiserem ser competitivas.

No entanto, do que vi ontem, nem todas as moças parecem entender o contexto e numa ou noutra vi uma certa passividade, uma certa lentidão de processos que não são compatíveis com o contexto em que estavam a competir. Aliás, eu até acho que não são compatíveis em nenhum contexto competitivo. E, obviamente, muito menos num contexto em que do outro lado está uma equipa que apresenta as condições que os rapazes tinham. Mas eu acho que isto é um defeito que, para mim infelizmente, se aceita até nas equipas profissionais, como se pode constatar pelo que se vê no FF sénior português, que ficou bem evidente com as declarações do nosso treinador (adjunto) no final do jogo com o Albergaria.

Para mim, como espectador amante do FF, e que deseja muito ver uma equipa do Sporting competitiva no panorama internacional – e por arrasto, dominadora no panorama nacional – o jogo de ontem com o Albergaria foi… pardon my french, uma merda! Como eu disse nos comentários na altura, e só vi a primeira parte, que parece que foi bem melhor que a segunda, até eu com os meus 60 anitos e a minha barriguinha fazia uma perninha naquele jogo jogado a passo, como quem está a pastar ovelhas! E depois, uma pessoa ouve o treinador, a dizer que “na primeira parte houve intensidade e que se fez um bom jogo, tendo a equipa decrescido bastante na segunda parte mas cumprindo os objectivos, que passam por ser o melhor ataque da prova”.

Ora, todos sabemos que na 4ª feira há um jogo com o Braga, para a meia final da Taça de Portugal e todos percebemos que se foi mais fazer um treino em competição, sem puxar muito pelas jogadoras, do que se foi realmente competir e tentar fazer o melhor resultado possível. Agora, o jogo não foi, de todo, o que disse o treinador, que devia ter simplesmente sido frontal e assumido que se estava a pensar no jogo de 4ª feira e que bastava ganhar sem passar por nenhum susto. Chamar aquilo “intensidade”, caramba…

Enquanto não se subir o nível de exigência, o FF vai indo neste ritmo e demorará anos – demasiados – a atingir os patamares que se vêem lá por fora. E o nível de exigência tem de começar pelos profissionais do sector, sejam os clubes no seu todo, os dirigentes ou, especialmente, os treinadores. Já deu para ver que a FPF está mais preocupada em parecer que faz do que realmente fazer. Por isso têm de ser os clubes, acho que através dos seus treinadores e dirigentes, a puxar o FF para cima e a exigir mais. É preciso trazer melhores jogadoras e investir mais – é preciso relembrar que o investimento que o FF requer é muito residual se comparado com o absurdo que é preciso para o FM! – e, principalmente, ser mais exigente. E depois, acompanhar isto com o muito daquilo que o colega Álvaro está “farto” de aqui expor, no que diz respeito a medidas extra campo!

Há tanto para fazer, mas parece que falta a vontade… Basta ver como a verdade desportiva tem sido adulterada, perante a passividade da FPF, neste campeonato, quer com o que aconteceu no Sporting-Famalicão, quer com o que se passou ontem no Braga-Benfic@! Uma vergonha!

 

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Miguel 
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