Antes de começar, uma pergunta: Viram o último desenho do Pedro Serranho? Uau!!

Agora sim. Desde que comecei pela Tasca, não me recordo de um momento tão “no limbo” como o atual no voleibol feminino. A razão não se sustenta nas derrotas porque estas vão e virão como um iô-iô (o nosso futsal é o paraíso na terra, um tema à parte). O motivo está na relação criada entre as expetativas, exigência e realidade. O alcance mediático e desportivo que o voleibol feminino alcançou em tão pouco tempo, atraiu também uma exigência colada aos resultados. Isto tem de ser encarado com naturalidade porque acontece em todas as profissões. A questão que se levanta sempre, após se sentir esta dor de crescimento.

A pressão é uma droga que nos alimenta por dentro. Se algumas vezes nos faz superar, outras coloca-nos no chão de tal maneira que pensamos que “tudo de mal me acontece”:
– Só a superação conseguiu colocar o Leicester campeão da Liga inglesa em futebol na época de 2015-2016
– Só a lei de Murphy justifica a vida do pobre Oliver Pugh. É natural de Buxton, uma cidade inglesa, e, com apenas 26 anos pode ser considerado o homem mais azarado do mundo. Já sofreu de quatro doenças potencialmente fatais, ficou sem parte de um dedo polegar num acidente e a mulher traiu-o. Como diz Murphy “Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível”.

Normalmente, a parte mental é fundamental no desporto. Esta dá superpoderes como nos faz parecer miúdos de 12 anos. Andamos neste limbo na vida e é uma valente merda isto. Ainda não se descobriu a fórmula mágica para contrariar as sequências negativas. Para uns é ver o Gladiador, outros será ouvir um Funk ou o Eye of the Tiger, conversar com um psicólogo, rir ou, uma cena que a minha avó fazia, que era tirar o quebranto (seja lá o que isso for). Cada um descobre nas diferentes etapas da sua vida. A nossa equipa terá de descobrir este fim de semana.

Sim, Adrien S., mas o que é que se passa?
Na minha opinião não se passa nada de invulgar ou incomum. A equipa tem qualidade técnica, tem potencial para vencer, tem carga de trabalho. Tal como referi, há mesmo alturas em que as coisas nos correm mal. No domingo vi-nos a tremer na receção quando somos das melhores recebedoras do campeonato. Não há um motivo, para além do psicológico, que justifique isso. E nem tem de ser um problema identificado, pode ser “apenas” a pressão circunstancial do momento que atravessamos.

Sem me querer alongar demais, gostava de recordar quem somos (aos meus olhos). A opinião simples e sincera de quem é esta equipa. Se perdermos no fim de semana invalidará o que escreverei a seguir? Não porque a nossa circunstância molda-nos o momento e nunca quem nós somos. Por me correr mal a semana, ou o mês, eu não deixo de ser alguém trabalhador, feliz, ambicioso e com vontade de crescer. Dirá que falhei hoje, mas não dirá que falharei amanhã. Então quem é que somos, afinal?

Amanda Cavalcanti
A Amanda é uma jovem com 1,90m que será a melhor central portuguesa de sempre. Os saltos de qualidade que tem dado a cada ano, já mostram a certeza que é. O potencial foi substituído pela qualidade real. Tem entrado para substituir a Aline ou a Jady, sempre que estejam menos bem em jogo. Quando há a substituição, aporta valor à equipa. A atenção ao jogo faz que bloque, ataque forte (uma novidade este ano), mas também que defenda e faça proteções aos ataques das companheiras de equipa. Será o último ano com o estatuto de suplente e fico hesitante em perceber se será (ou não) a Amanda a “salvar” esta eliminatória.

Aline Timm
A Aline é (a mais) rápida atacante de bola curta no centro da rede do campeonato. Quando consegue/quer/está bem consegue imprimir um tempo zero de tal forma demolidor, visto que é muito alta, que torna o seu ataque praticamente indefensável. A Aline tem o empenho da motivação verbal e o trunfo da motivação em jogo quando bloca. Se faz 2 ou 3 blocos seguidos, arrasa a central adversária para o resto do jogo. Titular da seleção e do Sporting CP.

Jady Gerotto
Quem diria que esteve no CD Aves no ano passado. A sua evolução este ano é brutal! Que injusto que é estar um pouco abaixo da sua forma habitual. Ainda assim ela luta para c******! A forma como festeja os pontos que faz é de leoa e de alguém que busca mais e mais e mais. É a grande surpresa da equipa neste ano pela evolução explosiva. Vamos Jady!!

Ju Carrijo
A melhor distribuidora do campeonato. A forma como se faz dançar em campo com o seu corpo, mente e olhos torna-a dificílima de acompanhar. Nunca passa sem olhar para a rede adversária, sem pensar em como coloca uma vantagem às suas colegas atacantes. Quando está na defesa dá-nos uma garantia de que podemos fazer contra-ataque. Tem perfil de capitã e é um eixo do voleibol do Sporting CP. Nota-se que exige das colegas, tal como exige de si, mas a culpa não entra no vocabulário. Que sorte tê-la cá.

Margarida Rocha
É oficial! A Margarida é a arma secreta do serviço. Demorei a perceber ou ela demorou a mostrar-se. Neste momento, eu já penso nela para uma substituição de serviço. Já nos deu sets e jogos.

Daniela Loureiro
A capitã está a fazer a sua melhor época. Para mim é a melhor libero nacional e do campeonato. Comanda a defesa, a receção e a bancada. Tem contribuído para a qualidade do voleibol do Sporting CP através das suas performances, em especial da defesa. Realço esta porque requer inteligência, leitura, (re)posicionamento constante. Se alguma adversária vai atacar a bancada já diz: DANIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII.

Carolina Garcez
A menina dos nervos de aço tem feito uma época interessante sempre que chamada. Apesar de suplente, não menosprezo a sua qualidade. Como libero que é, pela capacidade de leitura de jogo que deve ter e pela possibilidade de leitura de jogo a partir do banco, espero que consiga, em muitas ocasiões, passar boa informação de tendências de ataque do adversário. Os líberos e os passadores são pessoas com grande capacidade de leitura do jogo.

Vanessa Paquete
Não são 2 jogos que lhe retiram o mérito da grande época que está a fazer. Tem uma ótima capacidade física e boa leitura de jogo, ou seja, ataca forte e defende bem. A par da Bárbara é a única que sabe o que é ser campeã nacional em Portugal e isso é uma vantagem para ela, para a equipa e para nós. É uma guerreira nortenha que, se tudo correr bem, será imparável.

Katherine Regalado
O último jogo antes de vir para Portugal, fez a cabeça em água à seleção do Brasil. Quando o seu serviço entra é quase impossível não fazer mossa nas adversárias. O bloco alto é intimidante e o ataque para o fundo de campo é uma das suas principais armas. Queria a peruana Kat e não a tuga Kat para o resto da época,

Thais Bruzza
Outra jogadora que está a fazer uma bela época. Nota-se, até, uma qualidade superior no ataque em força que era um dos seus pontos de melhoria. Tem uma receção segura e o seu posicionamento defensivo é do melhor que se pratica em Portugal. A sua agressividade em campo é uma imagem de marca que deve ser sempre levada para a sua superação e não o contrário. Tenho um amigo que a bajula constantemente, certo Tiago?

Evgeniia Bochkareva
A estabilidade da Bochka não está no ataque e isso faz com que a opinião sobre ela possa também ter oscilações. A russa tem como pontos fortes o serviço e bloco. Aqui é fantástica. Não tendo um ataque demolidor, torna-a numa atacante de poucos pontos. Verdade seja dita que, nesta fase menos positiva da equipa, as suas entradas têm gerado sempre momentos de recuperação.

Daniana Esteves
Eu vi jogos onde a Daniana foi fundamental. Por exemplo, em Guimarães nesta 2ª fase, vencemos porque a Daniana entrou para mudar o rumo. Apesar de ter, naturalmente, perdido espaço desde janeiro, é uma leoa que vibra e sente Sporting CP. Se isto não é fundamental numa equipa, então como é que queremos dar a volta?

Lucia Verdier
Está com pouco tempo de Sporting CP e com pouco tempo de jogo por isso não tenho uma opinião fundamentada.

Bárbara Gomes
A jogadora que chegou para nos dar esperanças. Sim, nós subimos a nossa exigência e expetativas porque a Bárbara está na equipa. Aportou de tal maneira qualidade que começámos a sonhar com mais força. Os elogios a esta jogadora não cabem num parágrafo, mas o agradecimento por ter escolhido o Sporting CP cabe: Obrigado. O futuro do Sporting CP tem escrito vários nomes e um deles é Bárbara Gomes, gostava muito que o presente também se pudesse soletrar com as suas letras.

Eu acabei de dar os elogios. Os defeitos é no gabinete ao lado. Eles existem, caso contrário estaríamos invictos neste campeonato. Para hoje quero manter esta imagem, estas características que nos colocaram no 1º lugar da 2ª fase. Quero dar-me esperança e ansiedade para o próximo jogo porque nós todos merecemos isso. Se perdermos, muda a circunstância, mas nunca quem nós somos.

Ontem, a @guida1906 chamou a atenção a uma bonita efeméride. Fez um ano que dezenas e dezenas de pessoas responderam à pergunta: “Quem está com o voleibol feminino”. Depois da taça de Portugal, todo o Sporting CP, clube e jogadoras, reduziram comunicação, exposição e optaram pelo recolhimento. Viemos, nessa semana, de um período forte de exposição que foi travado. Acho, sinceramente, que todos devem ter coragem de voltar a expor-se porque a força do Sporting CP esteve, está e estará sempre nos seus adeptos. Vão cobrar? Podem criticar? Certamente que sim, antes de disto irão apoiar como NENHUM CLUBE EM PORTUGAL CONSEGUE IGUALAR. Coragem é sinónimo de vitórias.

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.