Estar a ganhar por três vezes em Braga e deixar fugir dois pontos. O Sporting fez o mais complicado, mas não foi equipa suficiente para segurar uma vitória que daria um enorme boost motivacional para o arranque da época

 

Quando, há coisa de três meses, me deparei com a nova malha dos Mando Diao, não fazia ideia que, além de estar a escutar uma das canções obrigatórias de 2022, estava a escutar a banda sonora para o jogo do arranque da época. Sim, “frustração” é a palavra que melhor resume aqueles 20 minutos que, após o final do jogo, me levaram a perguntar a mim mesmo quão ridículo era ter estado a ganhar uma, duas, três vezes, e, uma, duas, três vezes, não termos sido capazes de conquistar os três pontos.

Sem capacidade de construção, algo já visto na pré época, o Braga apostou descaradamente no futebol directo. Artur Jorge não foi de modas, e surpreendeu com a colocação de Vitinha bem próximo de Banza, oferecendo ao ataque minhoto potência de sobra para incomodar a defensiva leonina. Vitinha, com tanto de bom jogador como de fiteiro, atacava directamente Gonçalo Inácio, Banza posicionava-se algures entre Coates e Matheus Reis. Tudo isto pensando em, fruto dos duelos, tentar ganhar segundas bolas, de forma a manietar o pé para pé leonino.

Claro que há sempre o reverso da medalha, e esta estratégia abria também brechas atrás de brechas no meio-campo, algo que Matheus Nunes, soltinho como gosta, começou a aproveitar ainda antes dos dez minutos, lançando Porro para uma cavalgada que terminou com o passe açucarado para Pote encostar para dentro da baliza.

O Sporting colocava-se em vantagem, mas foi sol de pouca dura: cinco minutos depois, Gonçalo Inácio e Matheus Reis começavam a desenhar uma tarde verdadeiramente desastrada, o primeiro abordando mal a disputa de bola, o segundo posicionando-se daquela forma catastrófica como se posicionava quando Amorim começou a colocá-lo como central à esquerda. Nuno Santos também ficou a dormir na tarefa de fechar quando isso tem que fazer, e Banza aproveitou. Estava feito o empate, que voltaria a ser desfeito três ou quatro minutos volvidos. Matheus Nunes voltou a aproveitar o espaço, arrancou de peito feito, correu meio campo, e libertou no flanco contrário, onde Nuno Santos pedia sem oposição. O canhoto que não costuma fazer-se rogado, voltou a ensaiar um dos seus pontapés de primeira e os deuses do futebol acharam que uma partida à luz do dia merecia que aquele remate batesse na relva e se transformasse num arco perfeito sobre o redes.

Mesmo estando sempre sobre brasas a defender, algo realmente estranho para uma equipa que assentou a conquista de um título nessa segurança da linha mais recuada, e que deliciava tudo e todos com a forma brilhante como geria a linha do fora de jogo, o Sporting agarrava-se à capacidade de passe de Morita, à liberdade de Matheus Nunes e à classe do renascido Pote para continuar a ser a equipa mais perigosa, com destaque para o lance em que, a dez minutos do intervalo, Trincão se viu com uma enorme oportunidade de visar a baliza. O remate saiu por cima, e o castigo veio mesmo em cima do intervalo, já depois de um golo bem anulado ao Braga (no seguimento de mais um momento horrível de Inácio): livre ainda muito longe, bola bombeada para a área e, de forma quase patética, Niakaté teve tempo e espaço para cabecear face à apatia dos Leões.

No recomeço, Rodrigo Gomes veio no lugar de Iuri Medeiros e o Sporting passou por sério calafrio quando ele e Banza não chegaram a uma bola que percorreu a pequena área. Do outro lado, Pote enganou Veríssimo, mas não enganou o VAR (penalti bem revertido, vamos ver quantas vezes isso vai acontecer ao longo da época), mas esse lance do camisola 28 deu o mote para o Sporting crescer e tomar conta da partida. A meia hora do final, Amorim deu um safanão no tabuleiro, trocando Morita, Nuno Santos e o fantasmagórico Paulinho por Manuel Ugarte, Marcus Edwards e St. Juste (muito pormenor a mostrar o que de bom pode oferecer). O Sporting mudava muito na defesa (Juste como central direito, Inácio a passar para central esquerdo, Matheus Reis a assumir-se como ala canhoto), trocava o cérebro de Morita pelo músculo de Ugarte e tentava ter finalmente três homens na frente, com o inglês a juntar-se a Pote e a Trincão.

Porro viu um remate seu ser desviado para o poste, e seria o escolhido para dar o lugar a Rochinha, com Amorim a arriscar tudo, puxando Trincão para jogar como falso ala direito. Mesmo com a equipa com a capacidade de concentração a 50% (veja-se o passe de Adán para Porro, quando o lateral já estava fora de campo por ser substituído… às tantas já só sabemos jogar às 20h30…), o arrojo foi premiado a cinco minutos do final, quando este que vos escreve soltava impropérios pela ausência de um Rodrigo Ribeiro no banco e ameaçava deixar de ver o jogo se Coates fosse para ponta de lança. Rochinha entrou na área e fez aquilo que se pede: teve coragem de enfrentar os adversários, e enquanto eles pensavam no risco de meter o pé e fazer penalti, viu Edwards solto no poste contrário. O passe é uma delícia, o sangue frio do inglês deixou a turba leonina em delírio.

Amorim não hesitou em chamar Esgaio para fazer o normal: recompor a defesa. Saiu o exausto Trincão, que veria do banco a entrada de Djaló e Abel Ruiz (três ponta de lança, apresentou o Braga). Esse mesmo Djaló enfrentaria Esgaio, arrancando de tal forma que o nazareno parecia uma traineira old school a perseguir uma mota de água. O momento deprimente ficou completo com a forma como a nossa defesa foi incapaz de cortar a linha de passe para os homens que se posicionavam dentro da área, permitindo a Ruiz fazer o 3-3 final, que esteve quase a virar 4-3 não fosse Adán mostrar a Vitinha a voz da experiência.

Prémio para a crença arsenalista, castigo para a incompetência leonina, num belo jogo de futebol, mas realmente frustrante para os verde e brancos, não só pela incapacidade de segurar três vantagens, mas por voltarem a ver os problemas bem conhecidos tentarem ser resolvidos com pensos rápidos. Que o que sobra de tempo até ao fecho do mercado permita olhar para a situação com a devida importância, e que a resposta, com mais ou menos betadine e idas ao psicólogo, chegue já no próximo sábado, frente ao Rio Ave.

 

I’ve got a lot of frustration
A matter of fact
We lost communication
Ooh it will bring us down
Down down down down
We’re going down
If we don’t it take back
We’re gonna hit the ground
So come on!