Noite histórica para o Desportivo de Chaves, noite de Sporting a roçar o inexplicável, fruto de uma época planeada de forma descuidada e que à quarta jornada, atira o principal objectivo, o campeonato,  para o campo da fé

 

Tinha dito a mim mesmo, e escrito, já não me recordo onde, que se, ao terceiro ano de trabalho desta estrutura e desta equipa técnica para o futebol, o Coates voltasse a ser a nossa opção para jogar a ponta de lança quando precisássemos de um homem de área, me levantava do meu lugar. Ontem, aos 65 minutos, num Estádio José Alvalade que começa a ter menos agitação nas bancadas que um museu, levei com esse desafio em cheio na tromba.

Tinha passado o intervalo a dizer à minha filha, que o Rodrigo Ribeiro tinha que entrar. Não importa se é puto, não importa se é inexperiente, é o avançado que temos disponível e toda a primeira parte tinha mostrado que faltava um homem na área. Tudo o resto, estava lá: a capacidade para criar desequilíbrios, com a velocidade de Edwards, Rochinha e Trincão, a capacidade de meter a bola na linha, nomeadamente na canhota de Nuno Santos, até o facto de Pote ser o gajo com mais golo nos pés estava presente (aquele remate ao poste…). O problema, é que os infindáveis cruzamentos iam ao encontro de Rochinha ou de um Trincão sem apetência para se posicionar na área e atacar a bola, não sendo de admirar que o golo tenha sido quase gritado quando Edwards meteu a preceito para a cabeçada de Gonçalo Inácio, com o redes pregado ao relvado a ver a bola sair ao lado.

Nesses primeiros 45 minutos, nos quais foi feito mais do que suficiente para irmos para o intervalo na frente, faltou quem marcasse. O ponta de lança estava no banco e quem estava lá dentro também não teve a inteligência para perceber que insistir em cruzamentos por alto ia resultar em nada. Mais irritante ainda, quando nas vezes em que se ganhou a linha e se procurou cruzar rasteiro, existiram mini pânicos na defensiva adversária, como aquele em que um flaviense tirou o remate de Trincão já em cima da linha.

Rodrigo Ribeiro não entrou ao intervalo, como eu tanto pedia, mas entrou Matheus Nunes para o lugar de Neto, derivando Inácio para a direita, dando nota que Amorim tinha visto que nos faltava quem, a partir do tridente de centrais, saísse na condução da bola, mas reforçando, também, a incredulidade de quem continua a ver um dos principais reforços da equipa, St Juste, sentar-se no banco onde continuam a estar dois guarda redes que dão um jeitão para o aquecimento inicial.

Veio uma arrancada do Edwards para defesa do redes, veio o primeiro buraco na defesa para uma mancha impressionante de Adán. O regresso da parede espanhola à nossa baliza era uma óptima notícia, mas, pouco depois, aquele filme ridículo de um livre batido de frente para a defesa, já visto em Braga, repetiu-se, permitindo a um tal de Steven Vitória marcar um golo de cabeça que nem ele sabe como aconteceu, tal a distância a que cabeceou e tal a perfeição que o arco fez sobre Adán. A tal carambola a que estamos sujeitos sempre que deixamos o jogo ir-se arrastando sem que o matemos. Mas se as coisas estavam más (se ganharmos ao Chaves vai ficar tudo bem, dizia Amorim), ficaram piores a seguir, quando Juninho correu meio campo e meteu novamente a bola dentro da nossa baliza.

Faltava meia hora para o final do jogo e a opção de Amorim foi colocar Coates a ponta de lança. Não faltavam cinco minutos, não estávamos nos descontos. Foi consciente, como o treinador leonino haveria de deixar claro no final. Uma vergonha. Pensei seriamente em ir-me embora, depois pensei que não seria o melhor exemplo que daria à minha filha e deixei-me levar pelo “puto Cherba” que felizmente ainda por aqui e vive e que acredita sempre que vamos virar jogos de forma épica.

No que restou, o que esse puto viu foi um desnorte tão grande quanto a opção de colocar o uruguaio lá na frente, de lançar Rodrigo Ribeiro a descair para a esquerda ou a jogar nas costas de Coates, de ter onze gajos perdidos em campo, de ver 35 minutos em que os bons cruzamentos da primeira parte se transformaram em balões quando já tínhamos um “farol” na área, de perceber que não havia inteligência em procurar jogar por dentro, de ter que levar com o Nuno Santos a cruzar de letra como se estivéssemos a ganhar por dois.

Como brinde, ao fim de sete anos a irmos juntos ao futebol, com dolorosas goleadas caseiras com as toupeiras ou com o City, por exemplo, a minha filha pediu-me para sairmos mais cedo do estádio. Acabámos por ficar, saindo a engolir a vontade de assobiar, mas há jogos que assinalam um antes e um depois nas relações que vamos tendo com equipas técnicas e com jogadores.

 

That’s me in the cornerThat’s me in the spot-lightLosing my religionTrying to keep up with youAnd I don’t know if I can do itOh no I’ve said too muchI haven’t said enough