O Sporting entrou na Champions vencendo 0-3 em Frankfurt, assinando uma noite histórica com a primeira vitória alcançada em terras alemãs. Amorim desenhou a estratégia ao milímetro e foi compensando, num boost de motivação que pode ser fundamental para o ciclone de jogos que aí vem 

 

Volvidas dez horas sobre a vitória de ontem, continuo a sorrir, e é curioso pensar que isto até podia estar tudo ao contrário, se num daqueles lances em que esta rapaziada que soube interpretar à risca a estratégia desenhada pelo treinador resolveu oferecer oportunidades de golo ao adversário, tivesse havido golo para os alemães. É o futebol e a sua receita mágica que nos prende.

Amorim avisou na conferência de imprensa e colocou o plano em marcha no relvado: o primeiro objectivo passava por emperrar o Eintracht e a genica ofensiva que se previa, potenciada pela felicidade de fazer a estreia na Champions e empurrada por um público que me fez ter saudades das tardes e noites mais bonitas que vivi em Alvalade (que ambiente!).

Para fazê-lo, frente a quem ainda ostenta as insígnias de ter vencido a Liga Europa, o Sporting quis ter a bola o máximo de tempo possível. É verdade que os primeiros 45 minutos não foram bonitos, chegaram mesmo a ser chatos, mas o crescimento e amadurecimento de um grupo também se vê nestes pormenores. E, permitam-me, a isto também se chama “personalidade”. Sim, podia ter dado para o torto, se aqueles passes de risco de Ugarte ou de Adán, que isolaram adversários, tivessem terminado com os alemães a festejar, mas entre o regresso do redes espanhol ao nível mais elevado e a decisão dos deuses da bola de que seria castigo demasiado grande sofrer um golo quando se impedia o adversário de criar uma real oportunidade de golo através de uma jogada construída de fio a pavio (a mais próximo disso aconteceu quando o Sporting estava momentaneamente reduzido a dez e desequilibrado à direita da defesa), os Leões chegaram ao final da primeira parte com meia missão cumprida.

Nada mudou no recomeço, a não ser a lesão de St Juste que levou à entrada de Neto. E enquanto muito boa gente colocava as mãos na cabeça, o “avô” matava com um “carrinho filha da puta” a última oportunidade de golo dos alemães, novamente após uma perda de bola nossa naquela arrogância de não ceder um milímetro no plano de sair a jogar desde trás. Esse corte incrível, fez não só recordar aquele espírito do onde vai um vão todos, como deu o mote para o que se seguiria. Adán, Coates e Ugarte estavam a ser gigantes na arte de tudo parar, o corte de Neto disse ao resto da malta que jogasse quem jogasse, a defesa não ia abanar, e a equipa estendeu-se.

Morita foi-se libertando em acções ofensivas e começou a perceber-se que o que os alemães tinham corrido na primeira parte atrás da bola, começava a pesar-lhes nas pernas. E quando Morita foi por ali fora, combinando com Pote, a bola chegou a Edwards; o inglês, que já tinha ameaçado nas poucas vezes que o Sporting se tinha espreguiçado, enfrentou uma floresta de pernas com a bola colada ao pé e quando parecia que a redonda ia perder-se, rematou para a celebração com os cerca de 2 mil Sportinguistas presentes, entre eles vários que, embora longe, nunca deixam de estar perto.

Com os alemães atordoados com o soco que tinham levado, o Sporting desenha o segundo a régua e esquadro: Adán vê Trincão, o 17 não se nega a fazer de pivô e mete em Morita, o nipónico mete em profundidade para Pote, o 28 vai por ali fora e mete em Edwards, o inglês tem mais frieza de um cubo de gelo, ameaça uma, ameaça duas, e quando os alemães já estão todos de olhos postos nele, oferece o algodão doce a Trincão. Maravilha!

Mas a estratégia era para levar até ao final, e enquanto os germânicos carregavam a equipa de pontas de lança, Amorim metia lá para dentro homens frescos para jogar nas transições rápidas. Rochinha e Nuno Santos já estavam em campo, Paulinho regressava para a missão de guardar bola, mas seria do coração de Leão de Pedro Porro que nasceria o terceiro. Arrancada impressionante do espanhol pela direita, deixando dois adversários pelo caminho e tendo a capacidade de meter redonda quase na outra ponta do campo, onde Nuno Santos nem hesitou em disparar para o aconchego da rede. Estava feito!

Há jogos em que tudo parece correr mal, há jogos em que tudo parece correr bem. O Sporting já viveu os dois cenários esta época e, ontem, mereceu claramente ter uma grande jornada europeia, somando três pontos num grupo que promete ser disputado até à última jornada e no qual as vitórias fora de casa podem fazer toda a diferença. Agora, mais do que descansar, é aproveitar todas as boas vibrações que a conquista de ontem nos proporcionou. Afinal, quem não gosta de uma história de superação?

Hearts on fireStrong desireRages deep withinHearts on fireFever’s rising highThe moment of truth draws near