Estou de volta à regularidade da Tasca.
Estas semanas marcaram o regresso das nossas equipas de voleibol à nova época. Creio que, pela primeira vez, vamos a jogo com as mesmas ambições (ou expetativas) em relação a ambas.

Falando primeiro dos rapazes, esta nova época trouxe algo ao qual pouco estávamos preparados – planeamento. Notou-se que não andámos até à última hora atrás de reforços, nem que optámos por jogadores, com currículo, em final de carreira. Creio que muito fruto da nova liderança, criou-se um ritmo de trabalho que só ajuda a modalidade. Também largámos o catálogo habitual dos mesmos empresários e olhamos para o que era necessário. O Gersinho precisava de juventude para explanar o seu potencial de bom treinador de voleibol que é. Este ano tem uma boa equipa, finalmente.

Na minha opinião é claramente candidata ao título, mas partindo como outsider. Os jogos têm mostrado que vamos estar uns furos acima de toda a concorrência, excepto do SL Benfica. Evidentemente que o SL Benfica é o mais forte candidato, tanto pela estabilidade do seu plantel, da qualidade do seu treinador e pela sua história na modalidade (venceu 7 dos últimos 10 campeonatos). Acredito também que o Sporting CP subiu o seu nível de plantel para uma homogeneidade de qualidade em todas as posições. Exceptuando libero, com Gil Meireles, e distribuição, com Gelinski, todos os outros titulares são uma incógnita.

Com a qualidade vem a responsabilidade! O patamar subiu e esperam-se jovens cheios de fogo e força para vencer aquilo que todos queremos conquistar. Há momentos onde a diferença é abismal e só dá para acreditar em milagres. Há outras situações, como agora, onde sonhar já nos é permitido. O que deixou de ser permitido, com esta equipa, são escorregadelas sem ser com o SL Benfica.

Em jeito de curiosidade tática, para quem gosta da modalidade deixo 3 notas do jogo do troféu Stromp:
– O Pedro Cardoso é um senhor jogador;
– Vamos jogar bastante mais rápido este ano;
– Vamos blocar com 3 elementos muitas mais vezes.

Ao longo do tempo falarei de mais pormenores táticos porque, na verdade, ainda só vi 1 jogo.
Em jeito de resumo, é dizer que temos equipa e vamos para cima deles!

As meninas começaram a pré-época, há já algum tempo, meio aos tropeções. Tal como nos masculinos, notou-se uma preparação da época. Contratámos cedo e fomos tentar colmatar as lacunas que tinha o plantel. Era crítico contratar 3 atletas: uma passadora para o lugar da Ju Carrijo, uma oposta e uma zona 4.

Falarei, depois, em particular sobre cada jogadora, agora fica só um esboço geral. Para passadora substituímos a Ju Carrijo por duas jogadoras com idêntica qualidade. Seria impossível substituir a nossa antiga distribuidora pela qualidade imensa que tinha. Arriscamos em duas jogadoras do nosso campeonato e bem a meu ver. Uma internacional argentina e uma internacional portuguesa. Para oposta veio a mexicana Fernanda que é, claramente, a grande aposta da equipa. Teremos tempo para perceber se confirma a qualidade dos vídeos e dos jogos que tem feito ao serviço da seleção. Para zona 4 está a Rafa Bertolini que terá o seu papel. Precisávamos de uma zona 4 que se destacasse de caras, mas certamente por falta de orçamento não veio. Acho a Rafaela uma boa jogadora e gostava que fosse a surpresa da equipa.

Este fim de semana fomos a jogo em Lamego e a coisa não correu nada bem. Duas derrotas pesadas que mostram que precisamos de trabalhar. Penso que agora conseguiremos porque temos todo o plantel disponível, o que não tem acontecido. Tivemos a Aline, a Bárbara e a Amanda 4 (!!) meses na seleção fazendo com que não tivessem parado o verão todo. O Sporting CP voltou aos treinos e as atletas ainda estavam na seleção. Não consigo entender como é que optam por estar 4 meses em treino intensivo e jogo, não precavendo férias e o início da época. Não foi só Sporting CP a ser prejudicado, mas eu preocupo-me é com o meu clube. Vamos ver os próximos jogos para entender como estarão até dezembro.

De resto, as ambições desta equipa têm de estar intactas pela estabilidade que se garantiu. Claro que há aqui um ponto chave da época chamado Fernanda Rodríguez. Se mantemos a estrutura sabemos que a recepção irá sempre um ponto forte, que a defesa também terá momentos bons. As fragilidades também as conhecemos. Basicamente, precisamos de fechar pontos, muitas vezes com coragem e à bruta.

Por fim, gostava de tocar num assunto indiretamente ligado ao voleibol feminino chamado hóquei feminino. O Sporting CP enquanto decisor existe nas pessoas que nele lideram. O Sporting CP não decide que a aposta se mantém no voleibol feminino, mas há um conjunto de pessoas no Sporting CP que decidiu isto. Por isso, há um conjunto de pessoas no Sporting CP que decidiu que o hóquei feminino devia ser humilhado. Sim, começar uma época com 1 guarda-redes e uma equipa retalhada é desrespeitar a modalidade, as jogadoras e os adeptos do clube. Não é de hoje por ali! Quem não se lembra do caso da Inês Vieira? Por isso, em primeiro lugar gostava de mostrar toda a minha solidariedade com esta equipa. O custo de uma humilhação paga-se, seja agora ou no futuro. Espero que não doa muito esse custo. Será impossível, principalmente quem se dedica ao hóquei feminino, sair disto sem dor.

O salto para o voleibol feminino é evidente. Esta modalidade começou na 3ª divisão, a treinar e jogar nos “quintos do caralh*”. O tempo ajudou, a competência também e hoje é das modalidades mais acarinhadas do Sporting CP. Daqui saem duas coisas:

A primeira é que o caminho para crescer é duro, mas para cair é num instante. Esta época é aquela que traz mais responsabilidade às costas porque será preciso o dobro de tudo. O dobro de trabalho, o dobro de empenho, o dobro de esforço. A atenção também virá em dobro, a exigência também e as expetativas também. A mistura é potencialmente explosiva. Quem não entender o passado destes últimos anos de Mariana Veiga, Rita Mira, Sara Serrano, Catarina Barbosa e Daniela Loureiro, não está cá a fazer nada. Sim, porque relembro que a melhor libero da época passada (para mim) foi espreitar a 2ª divisão, dando um passo atrás para dar dois à frente. Há um caracter interno de Sporting CP que tem de ser preservado e melhorado. Num mundo que tanto dá por garantido o seu status quo, convém relembrar acontecimentos, como este do hóquei feminino, para perceber tudo é vão.

Em segundo lugar há outra responsabilidade acrescida este ano. Se antes falei do caracter local, agora escrevo sobre a dimensão nacional. Comparem o voleibol feminino antes e depois de Sporting CP. O nosso clube é um antissistema, um clube que na voz do seu treinador, tem reclamado o espaço digno e merecido da mulher no desporto português (por exemplo: árbitros de linha). O Sporting CP no voleibol feminino, e mérito também deste diretor, tem IGUAIS ofertas aos homens. Para além de iguais as condições logísticas (que tantas vezes são diferentes), elevou a qualidade no voleibol feminino. Um exemplo crasso é o PJR! Quantos pavilhões conhecemos no voleibol que são gelados no Inverno ou até metem água!? O único gelo que a equipa apanha no PJR é o banho de gelo. Sim! Sim! Elevamos o voleibol feminino, sim! Quem está, tem de ajudar a continuar a construir mais porque senão não está cá a fazer nada.

Em jeito de resumo, é dizer que temos equipa e gostava que este plantel acreditasse que este caminho não pode ficar por aqui. Acredito muito na qualidade do Rui Costa. Nunca, até hoje, 25 de setembro de 2022, data que escrevo, o voleibol feminino do Sporting CP teve tão boas condições para ser aquilo para o qual foi chamado a ser – campeão nacional.

Já agora, dois pedidos para este ano diretamente para o diretor Paulo Cunha:
– Precisamos de uma organização da final 4 no nosso Pavilhão João Rocha. Somos um barómetro de qualidade. O voleibol precisa de um Sporting CP participativo e, curiosamente, um voleibol descentralizado.
– Precisamos de comunicação para ambas das equipas. Foi vergonhoso o trabalho que foi feito com o lançamento da época, tal como com o trofeu João Rocha. O voleibol deve viver por si e não de espasmos comunicacionais, e isso só se faz com um consistência e qualidade. Comunicar resultados só espicaça o gang dos #.

Boa época a todos!
Viva o Sporting Clube de Portugal!

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.