Uma semana após a derrota em França, o Sporting voltou a perder com o Marselha, voltou a ter um jogador a entregar o jogo ao adversário e voltou a mostrar uma incapacidade gritante para alterar o seu sistema táctico. Como brinde, teve um treinador completamente de cabeça perdida a protagonizar uma das piores, senão a pior conferência de imprensa desde que assumiu o lugar 

Não é fácil escrever uma crónica na ressaca de uma noite como ontem. Lembrei-me várias vezes, inclusivamente, da crónica que tive que escrever dois meses após ter começado a trabalhar a sério no mundo do jornalismo, quando perdemos em casa, 0-3, com o Spartak de Moscovo, também na fase de grupos da Champions, com dois golos de um tal Titov e um autogolo do Dimas.

Costuma dizer-se que quem brinca com o fogo corre o risco de queimar-se. Foi o que aconteceu ao Sporting, ontem, com a agravante desta ser uma queimadura que já se fez sentir no terreno do Santa Clara (21/22), em Braga (22/23) ou no Bessa (22/23), campos onde Ricardo Esgaio, que não tem culpa de, primeiro, ter sido contratado, e, segundo, de ser posto a jogar, deixou a sua marca e fez com que o Sporting perdesse pontos. Ontem, Ricardo Esgaio conseguiu, em três minutos, matar a equipa, vendo um amarelo totalmente dispensável e, logo a seguir, abalroando um adversário em plena área, fruto da sua incapacidade para ler o jogo misturada com a sua incapacidade de correr a mais de 10 km por hora. O penalty foi convertido e, a partir daí…

No final, o treinador, ao contrário do que aconteceu há uma semana, com Adán, não podia dizer “o Esgaio já nos salvou várias vezes”, por isso fez o papel do pai que vê o filho fazer merda atrás de merda, mas, ainda assim, prefere dizer que a culpa é dos outros: “o Esgaio não é um dos preferidos dos adeptos, mas é um dos meus preferidos e vou protegê-lo”.

Tirando o zero por cento surpreendido em relação ao facto de Esgaio ser um dos preferidos do treinador, tendo direito a um tratamento claramente diferenciado em relação ao que teve, por exemplo, esse outro barrete milionário chamado Vinagre, prontamente encostado depois de fazer um jogo à Esgaio frente ao Ajax, aproveito estas linhas para dizer a Rúben Amorim que, após a expulsão do coitadinho, o que se viu foi um verdadeiro desnorte a partir do banco, que já se mostrava incapaz de perceber que o Marselha nos tinha estudado e que, por exemplo, o Guendouzi, tinha deixado de ser um médio centro para ser o gajo que pressionava a nossa saída de bola pela esquerda.

Sai Morita e entra Fatawu, sendo a ideia baixar Pote para o meio campo, deixando Trincão e Edwards na frente para as transições, e acreditando que o sangue na guelra do criativo ganês pudesse fazer algum milagre. Como Pote fazia tanto mais atrás como mais à frente, o treinador resolveu proteger outros dos seus preferidos e mantê-lo em campo, retirando Edwards, o mais virtuoso e capaz de inventar uma cena qualquer com a bola no pé, para meter Sotiris no lugar que era de Morita.
Nos entretantos, Coates lesionou-se, que esta cena de mandar gajos que acabam de recuperar de lesão fazer dois jogos em quatro dias tem tudo para um momento St. Juste, e talvez seja essa a explicação para Porro ter começado no banco, assistindo de cadeirinha ao que o coitadinho Esgaio fazia. Dizia eu, Coates lesionou-se, mas nem isso fez o mister colocar a hipótese de abdicar do seu desenho táctico, colocando Marsà e insistindo em lançar Nuno Santos em loucas correrias pela ala até ele rebentar (depois do desgraçado do Ugarte, que correu que nem um desalmado para tentar tapar buracos, Nuno Santos foi, uma vez mais, um exemplo de competitividade e até foi o único a perceber que o imbecil do espanhol que apitava ia mostrar cartões sem hesitar).
A propósito, aos 60 minutos, o Pote que nunca sai, mesmo que apenas esteja em campo a fazer figura de corpo presente, viu dois amarelos em 15 segundos. O primeiro pela falta, o segundo por qualquer coisa que disse e que só o tal árbitro espanhol pareceu entender. Se o Sporting, com dez, já era uma equipa praticamente incapaz de passar do meio campo…

E, assim, a meia hora do final, o jogo terminou. Muita gente levantou o cu da cadeira e foi à sua vida, não fosse ficar entalado naquela passagem ridícula criada por causa das obras, junto ao metro. E essa debandada silenciosa foi continuando, gota a gota, como a alma que se esvazia num estádio que já não a tem.

 

Maybe then, I’ll fade away
And not have to face the facts
It’s not easy facing up
When your whole world is black
No more will my green sea
Go turn a deeper blue
I could not foresee this thing
Happening to you