Este relatório e contas tinha tudo para ser perfeito, tinha tudo para me desfazer em elogios, tem muito daquilo que defendia e defendo como necessário para promover a sustentabilidade.

Despachando numa penada as coisas muito boas, vemos, como nunca tínhamos visto um resultado líquido positivo de 13M, vemos reconhecida a recompra das vmocs do BCP por 14.1M e que permitem um controlo maior da SAD, vemos que a divida ao BCP foi regularizada e com uma elevada mais-valia de 12M, que basicamente contribuiu para o lucro registado, vemos pela primeira vez em muitos anos o debito à SAD de 2M em royalties pela utilização da marca.

Só que há coisas que enquanto associado não abdico, transparência, comunicação, respeito pelos sócios e pelos estatutos e por isso nunca poderia fazer elogios e esquecer de fazer referência à opacidade, ao pântano em que se transformou a gestão do clube.

A única coisa que nesta altura podemos dar por adquirida é que estamos completamente reféns da SAD e dependentes do adiantamento de receitas.

Não há, não houve e nem vai haver explicação sobre o processo de aquisição das vmocs e liquidação da divida bancaria, mas ficamos a saber que a Plataformas devia ao clube 8.8M mas agora é o clube deve à Plataformas 12.2M. Uma brutal variação de 21M e sabendo que as principais receitas da Plataformas é a distribuição da SportingTv facilmente se percebe porque houve necessidade de antecipar o contrato nós e mais facilmente se deduz a necessidade destas receitas e que agora não existem num futuro próximo.

A divida à sad, apesar do debito de 2M em royalties também aumentou 1.5M, sendo agora de 21.6M.

Só aqui, entre a Plataformas e a SAD são já mais de 33M em divida que resultam em grande parte do adiamento de receitas futuras e ao arrepio da obrigação estatutária de obter autorização dos sócios. Acho que agora nem sequer se vão atrever a justificar a falta de comunicação e autorização dos sócios com a desculpa da compensação entre contas do grupo.

Como vai o clube sobreviver tendo já importantes receitas adiantadas? Haaa… já sei, vai extinguir modalidades pois o valor dos salários de colaboradores continua a crescer …

Não há, não houve e nem vai haver explicação sobre os critérios e eventual protocolo feito com a SAD que possa alavancar e sobretudo fundamentar para futuro o debito de royalties. Lembro que nem sequer estavam mencionados no orçamento da época 2021/22 e que agora aparecem assim como caídas do céu e pela necessidade de não amplificar ainda mais a dependência de financiamento para manutenção das atividades correntes, tornando ainda mais claro o deficit de tesouraria existente.

Agora não posso deixar de referir e deixei para segundo plano para não dizerem, até com isto este gajo implica: é inadmissível que não tenha sido comunicado a disponibilização das contas para consulta, apenas por acaso soube que o link enviado em julho para consulta do orçamento agora também funcionava para consulta das contas, entretanto, não sei já enviaram mail com a informação, pelo menos eu não o recebi.

Por outro lado, o formato e qualidade, do documento é de tal forma que mesmo com uma boa placa gráfica rapidamente se perde a vontade de o analisar com atenção, pelo que, apenas fiz uma leitura muito transversal seguramente muita coisa mais fica por dizer.

Não só inadmissível, mas também inconcebível que as AG continuem a permitir a votação sem a apresentação e discussão previa ainda por cima com assuntos tão importantes como os que relatei, mas tenho a certeza de que muitos mais haveria para esclarecer e que poderiam condicionar o sentido de voto de quem queira votar conscientemente.

Em conclusão a ideia que fica nesta altura é que estando reféns da SAD e com receitas futuras adiantadas, se e quando a SAD, voluntaria e ou involuntariamente secar a fonte, o clube não terá alternativa que não seja, desfazer-se do seu praticamente único ativo valioso (excluindo o PJR), as ações da SAD de forma a financiar a sua atividade corrente e ou reembolsar os seus credores que nesta altura além das dividas de 33M às entidades do grupo tem uma divida de 35M ao novo banco e o resto das vmocs por comprar. Os astros alinham-se.

Não poderia rejeitar umas contas em que tanta coisa importante foi feita, mas por outro lado a falta de transferência, o desrespeito pelos sócios e pelas obrigações estatutárias, o desconhecimento da estratégia, o rumo para o abismo que parece cada vez mais sem retorno nunca as poderia aprovar sem explicações convincentes. Como sei que as explicações não vão ser dadas e ou se dadas serão com um atropelo enorme à verdade, caso tivesse presente na AG, em sinal de protesto optava pelo abandono e ou voto branco ou nulo.

Tal como a maioria dos sócios gostava mesmo era de aguardar mais calmo ou mais ansioso pelo início dos jogos, mas depois do susto de 2012 não consigo enterrar a cabeça na areia e adquiri o estranho hábito de ler e avaliar estes chatos documentos que transmitem uma ideia do estado da gestão do clube. E com isso tentar projetar as dificuldades e os desafios do futuro mais próximo. Sempre com a perspetiva, não direi pessimista, mas moderada e acreditando que a sorte é coisa que a gestão não deve incluir na mensuração de estratégias e objetivos. Prefiro que a base seja o trabalho, o rigor, a competência e a transparência, todo o resto vêm por acréscimo até porque já vi acontecer Sporting demasiadas vezes (leia-se banhos
de água fria).

Não sou, não quero ser ou melhor prefiro não ser masoquista e prometo que vou combater esta estranha adição e deixar de importunar com estas reflexões que percebo interessam a poucos e acabam apenas por cultivar antipatias e ódios de estimação. Afinal já está, já está e não há nada que se possa fazer para contrariar a declaração pragmática que nos informa «O que não tem remédio, remediado está».

 

ESTE TEXTO É DA AUTORIA DE… Malcolm 
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