Do jogo na mão ao sofrimento, em mais uma noite de desperdício e de sinais claros daquilo que a equipa precisa: um psiquiatra e homens para fazer estragos na frente. Apesar de todos os fantasmas, o Sporting conseguiu o mais importante, trazer os três pontos de Famalicão antes de ir para o retiro espiritual oferecido pelo Mundial 

A noite é escura, “chovecomamerda”, e há sinais claros dentro e fora das quatro linhas, até porque pouco depois dos 15 minutos já o Sporting tinha tido três oportunidades de golo desperdiçadas. Paulinho rodou bem e rematou mal, Trincão ficou a ver um golão bater no poste, Pote ficou à procura do Potter de há dois anos quando se viu frente ao redes.

O Famalicão vs Sporting só dava Leão, com os minhotos enfiados no seu meio campo, por vezes com as linhas todas juntas atrás do círculo central, e o Sporting a circular de um lado para o outro, ainda assim sendo capaz de jogar entre linhas, nomeadamente quando Morita ou Ugarte se chegavam à frente, quando Trincão vinha de fora para dentro, ou quando Reis ganhava a linha. No fundo, era uma espécie de réplica do que se tinha visto em Arouca, com uma diferença tão grande entre as duas equipas que só mesmo o desacerto da mais forte para equilibrar a partida.

No banco, Amorim era homem a pedir uma caixa de comprimidos para a hipertensão, ansioso por ver a bola entrar, e quando ela entrou, a cinco minutos do intervalo, até foi dos que mais festejou. Pressão alta dos de Alvalade, o redes do Fama a complicar, Morita a apertar, Paulinho a estorvar, e Trincão a confirmar a carambola em cima da linha. Pouco depois, penálti por corte com a mão (daquele que eu não marcaria), e Pote a converter com toda a calma. Podia dizer-se que o jogo estava acabado.

No recomeço, o Famalicão tentou sair lá de trás, o Sporting apostou em gerir. Reis esticou e pediu para sair, Arthur veio fazer de falso ala esquerdo e, com o pé direito, foi para cima dos defesas e construiu o lance diferenciador que o Sporting parecia não ser capaz de criar. Valeu um grande corte da defesa. No seguimento, golo ridiculamente anulado a Morita, com linha de fora de jogo que só se conseguiu ver na cidade do futebol. O 0-3 e o matar do jogo ficava adiado.

Depois entrou o Jaime que é craque e que eu já teria contratado há dois anos, e o Famalicão ganhou alguém capaz de ter a bola no pé sem ser quando o Puma começava a correr. O Leão parecia assustado, apesar da vantagem e de ter em Coates o limpa tudo. Atabalhoado, o Famalicão tentava chegar lá à frente, cruzava, e uma acrobacia do Ivan encontrou o peito de Juste que já dura um jogo todo, e enganou Adán. 1-2 e sofrimento à vista.

Esgaio compunha novamente a defesa, Arthur subia para uma posição que nem se percebia bem qual era, e o Sporting, completamente atarantado pelo medo de nova escorregadela, avançava para 15 minutos de sofrimento, que roçou o pânico quando todos vimos a baliza aberta e Inácio a salvar o que parecia o empate certo.

No final, depois de mais um jogo de golos falhados (foram pelo menos dez, os remates à baliza), o Sporting ganhou onde nunca tinha ganho desde que o Famalicão regressou à primeira liga, ganhou dois jogos consecutivos, coisa que não acontecia há dois meses, e chega à pausa Mundial a quatro pontos do segundo lugar. Amorim diz que será tempo e preparar o futuro, este que vos escreve deixa um desejo: que nessa preparação, alguém se lembre que o plantel não tem um homem golo e só a espaços tem alguém que vá para cima dos adversários e desmonte os blocos baixos (Edwards e Arthur).