Esta semana foi marcada por dois acontecimentos que impactaram o universo do voleibol do Sporting CP. O primeiro foi a contratação de João Coelho para treinador da equipa masculina e a derrota em Guimarães da equipa feminina. Vamos aos temas.

Novo treinador de voleibol
Numa primeira fase importa notar a parte divertida de ninguém saber que seria ele o treinador. As coisas estão tão blindadas que as notícias públicas que tínhamos era que o João Coelha não queria o projeto e os factos provaram o contrário. É, sem qualquer dúvida, a melhor escolha possível neste momento. Na fase da época que estamos seria complicado, em Portugal, ter alguém mais oportuno.

Há, também, um lado de sebastianismo que eu não me deixo levar. Quem é assíduo da Tasca sabe que a minha opinião é pouco manipulável ou comprável. Tento ser justo e com bom senso. Deste modo, não vejo o novo treinador como o salvador que nos tirará do buraco onde o Gersinho nos meteu. Nem há buraco nem há salvadores. O João Coelho é bom treinador como era o Gersinho. Tanto que nas duas equipas, com orçamentos idênticos, o Sporting CP teve melhores resultados com planteis por onde figuraram o Sapina, Vinha, Pernambuco, Renan, Sousa, Saliba e etc. Claro que quando digo melhores resultados é porque o Gersinho teve 1 titulo e a Fonte teve 0 para o período em questão (não conto com a taça da Federação). É inquestionável que fez um bom trabalho na Fonte, onde deu seguimento ao título de campeão do Alexandre Afonso e ajudou a estrutura para o título da supertaça pelo Nuno Abrantes. Não serve isto para tirar mérito, serve para abrandar histerismos e colocar a Fonte num contexto de projeto. Repito, acho que o novo treinador é a pessoa certa para o Sporting CP e que tem todas as capacidades de nos levar ao ambicionado título de campeão nacional.

Outro motivo para travar histerismos é devido à dificuldade que o clube tem tido nos últimos anos em garantir boas equipas técnicas. A constante rotação da equipa técnica (desde scout a adjuntos) é deprimente para um candidato seja ao que for. Nós passamos de um Sporting CP que na primeira época era altamente profissional e hoje temos elementos com a sua estreia em equipas profissionais de voleibol. Acham que o Marcel é o que é sem ter um bom scout? Esta introdução para dizer que, sozinho, pode imediatamente impactar pela liderança, rigor, DISCIPLINA, compromisso. No entanto, vai precisar de ajuda técnica indispensável, veremos se a terá. O plantel é bom e ele também o é, só precisa de mais “um bocadinho assim”.

Derrota da equipa feminina
Desde há uns meses que chamo à atenção que falta uma zona 4 pontuadora à equipa. Podemos bater palmas, fazer o pino, malabarismo ou tricot, mas a realidade é esta e traz consequências como a derrota deste sábado. O meu principalmente problema é que se olhe para o sítio errado para justificar derrotas. Vamos por parte e seguindo o raciocínio.

Quando o Sporting CP define um orçamento para o voleibol feminino deve ter em conta as evidências. O voleibol está a norte. E isso significa o quê? Dois exemplos:
O Sporting CP pode contratar uma jogadora como a Thaynara Nunes ou a Kyra Holt? Pode sim porque aloca um valor elevado (mas possível) do seu orçamento para contratar. Fizemos isso com a Regalado ou a Fernanda. Qualquer clube que as contrate paga o mesmo.
O Sporting CP pode contratar uma jogadora como a Sofia Gouveia ou a Margarida Maia? Jamais consegue. Isto acontece porque, para estas jogadoras virem para Lisboa ser profissionais de voleibol, teríamos de pagar um valor de tal maneira elevado que a percepção entre o valor pago e o valor recebido tornava-se descabido. Ambas estáveis nas suas profissões e residência, pedem um valor alto para a sua rentabilidade desportiva. Isto faz com que as equipas cá de cima consigam melhores planteis com orçamentos iguais ou inferiores ao nosso. Por isso é que o SL Benfica este ano tem Lila e Matilde porque aumentou muito o seu orçamento. É o que é, por isso é lidar. Não podemos (direção) achar que há um grande investimento no voleibol feminino quando, proporcionalmente, não é verdade.

Os exemplos anteriores mostram a realidade do Sporting CP. É fácil entender que, para criar uma equipa campeã requer um esforço financeiro muito maior que o Porto Volei por exemplo. Uma pergunta interessante, que até vi colocada, é “Há alguma explicação lógica (natural) para este desaire?”

Claro que há. Não jogámos nada (nem vale a pena individualizar) e mesmo quem veio do banco não conseguiu mudar o rumo do jogo. O problema é que numa equipa tão constante, idêntica, homogénea em qualidade, podemos no final dos jogos vencer o SL Benfica como podemos perder com o Vitória SC. Como já escrevi, o meu principalmente problema é que se olhe para o sítio errado para justificar derrotas. Eu conheço este filme porque já o vi tantas vezes. Há uma probabilidade alta, porque há muitas equipas fortes, de não estarmos nas decisões. Quando as derrotas acontecerem, porque vão acontecer, o treinador será o primeiro alvo. Pelo perfil que todos aqui já o conhecem, ele vai assumir a culpa. E no final das contas ninguém vai perceber que o homem fez mais do que qualquer outro treinador da liga conseguiria fazer. Por exemplo, do outro lado da 2ª circular temos um Lance Stroll montado num Red Bull que será sempre 2º ou 3º. Deste lado, temos um Airton Senna montado num Williams.

O diretor tem feito um bom trabalho, mas tem duas decisões a tomar para que (1) haja sucesso no masculino e (2) não deixe cair o grande responsável pelo voleibol feminino do Sporting CP. Até janeiro veremos como vamos contratar (se). O que eu sei é que não vou deixar cair o Rui Costa, mais depressa vou sobre a equipa. Tem a ação quem manda.

Saudações leoninas.

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.