O Sporting colocou de lado as tradicionais canções de Natal, e, encarnando os Eels, ensaiou um conjunto de riffs de guitarra que estraçalharam o Braga em 45 minutos. Exibição categórica dos Leões, em mais uma goleada a carimbar a passagem às meias finais da Taça da Liga

Depois dos 6 ao Farense e dos 5 ao Marítimo, 5 ao Braga. A resposta ao “deixa lá ver se aquele fogo todo trazido da pausa para o Mundial, se repete frente a uma equipa mais forte”, foi categórica.

Não se sabe se toda a equipa foi ao psicólogo do Paulinho, mas uma coisa é clara como a água da chuva à qual o relvado vai resistindo: o facto da equipa entrar com o pé no acelerador e não o levantar assim que marca um golo, faz toda a diferença e ajuda a cavar distâncias para os adversários. O resultado, ontem, foram três golos em 20 minutos, cinco em quarenta e cinco, com o Braga incapaz de recusar o cabaz de iguarias verde e brancas que lhe ia sendo imposto à força.

Inácio abriu o activo pouco depois dos cinco minutos, na sequência de um canto, juntando mais um golo a uma belíssima exibição, jogando quase sempre na antecipação, e formando com Coates e Matheus Reis uma sólida muralha. A partir daí, foi um verdadeiro banho de bola, como que acompanhando a chuva que ia aumentando e fintando a cobertura do estádio. Para esse banho de bola, em muito contribuiu o renovado Paulinho.

É impossível dissociar este rapaz de cabeça limpa, solto, confiante, com seis golos nos últimos quatro jogos, das constantes vagas ofensivas dos Leões. Servindo de pivot, o camisola 20 era a referência que fazia girar tudo o resto: Trincão e um intratável Edwards na frente, com a bola colada ao pé com uma classe técnica que delicia; Porro e Nuno Santos como setas pelas alas, servindo o espanhol, também, de referência para as variações rápidas de flanco. Um pouco mais recuado, mas sempre pronto a servir de apoio a Paulinho quando este recuava, Pote. E neste verdadeiro carrossel, os bracarenses andaram quarenta e cinco minutos a cheira a bola e a vê-la entrar na sua baliza.

Paulinho, assistido com inteligência por Trincão após uma das tais variações de Porro, fez um grande golo, picando a bola por cima do redes como não picaria a bola por cima do redes antes de se deitar no divã. Edwards, em mais uma daquelas arrancadas que levantavam os vinte mil nas bancadas, foi carregado em falta dentro da área, num penalti que Pote converteu. O mesmo Pote veria, pouco depois, um remate ser cortado por um defesa quando a bola se encaminhava para a baliza, na sequência de uma arrancada louca de Paulinho, como se lhe tivessem colocado nitro nas chuteiras.

O melhor momento, pelo menos para mim, chegou de um desenho perfeito de contra ataque. Porro ganhou uma bola e, apertado, aguentou até Paulinho baixar; o 20 serviu de pivot e deu em quem estava de frente para o jogo, Ugarte, que não hesitou em virar para a corrida de Nuno Santos, a uns bons quarenta metros. A recepção orientada foi perfeita, o timing de cruzar para Trincão idem idem, o o 17 fez o quatro golo da noite. Golaço!

Para a manita, Edwards inventou um stop motion dentro da área, num pára arranca, que obrigou o defesa a mais uma falta. Novo penalti claro, desta feita com o inglês a ter a merecida oportunidade de converter um dos lances por si criados. 5-0.

Ao intervalo o jogo estava mais do que acabado, e o que se viu na segunda parte foi uma equipa adulta, a gerir e a impor ritmos, aqui e ali com Coates a tentar uma daquelas arrancadas em que sonha fintar meia equipa e marcar um golo, com Porro e Edwards a dançarem na direita, com Amorim a ir lançando que precisa de minutos (Jovane, Essugo, Arthur, Esgaio, Sotiris), o Braga a tentar chegar ao ponto de honra (sempre de longa e meia distância, o que atesta o lento recuperar da solidez defensiva por parte dos Leões, que juntam zero golos sofridos aos 18 marcados nas últimas quatro partidas disputadas), e com mais três ou quatro oportunidades claras junto à baliza arsenalista, ameaçando levar o resultado para níveis indecorosos.

Quinta feira há mais, agora para o regresso do campeonato, frente ao Paços e, para já, a equipa fez o que lhe competia: disse aos adeptos que vale a pena ir vê-la. Vamos?