Esta semana pensei, “quem é que está a criar uma entropia para o voleibol feminino do Sporting CP? Será mais o Miguel Afonso ou o Paulo Cunha? Os dois em uníssono?”

Digo-vos que começa a ser desesperante a forma como se consegue não gerir desportivamente esta equipa ou perceber os momentos certos para atacar a história. E à “história” chamo a vergonha que foi o mandato do Miguel Albuquerque no que toca a modalidades femininas e a triste figura que o Miguel Afonso está a continuar a fazer sobre o mesmo assunto. Antes de ir ao jogo até dou dois exemplos dos sinais dos tempos e da incompetência de que já ando farto.

  1. Na pré-época, logo ali no torneio das vindimas, o Sporting CP apresentou no equipamento um novo patrocinador. Eu chamei a atenção disso. Bem longe dos segmentos dos queijos e dos carros (tudo bem com estes parceiros), o clube trouxe umas das empresas em maior crescimento em Portugal. O grupo YOUR, para além da sua identidade vincada e valores bem realçados, está a crescer financeiramente, ganhando destaque. O Sporting CP (ou o Miguel Afonso) nunca comunicou esta parceria e, neste sentido, nunca perceberam que isto era uma mudança de paradigma. Houve uma empresa, fora do consumo massificado, que se interessou por aquilo que a equipa feminina do Sporting CP andava a fazer e a atrair. Sinceramente, não chego a perceber se alguém internamente, seja quem for, entende a relevância deste patrocínio. Isto até abria uma boa conversa sobre a importância de captar audiências para aumentar o retorno com patrocínios. Se desportivamente a liderança do Sporting CP apresenta carência graves, esperaria melhores ações comerciais. Aqui está um exemplo extremamente básico de como gerir modalidades.
  2. É das primeiras vezes que vou discordar com o treinador Rui Costa. Na flash referiu que estava muita gente na bancada a ver o jogo. E isso é verdade, no entanto, quando estava a ver o jogo, um dos primeiros comentários que fiz foi relacionado com o facto de, ainda há (mais ou menos) um ano estávamos com o PJR a bater um record de assistência numa modalidade feminina no Sporting CP. A curva de interesse parece que já atingiu o topo e está a processo descendente. As assistências estão a diminuir e esse é já o primeiro indicador. Não é pessimismo, é só a minha opinião, tão válida como a de alguém diga exatamente o contrário.

 

Esta introdução serve para mostrar, como tenho tantas vezes dito, que é necessária uma mão de gestor nesta equipa. O exemplo do patrocínio indica que há um potencial caminho de rentabilidade e o segundo exemplo mostra que alguém precisa de acelerar o seu processo de decisão. Nos 3 pilares estratégicos (normais) parece que chegamos a janeiro sem lhes cheirar competência: (1) comunicação, (2) contratações (gestão desportiva) e (3) captação de receita. Qualquer gestor que consiga, proactivamente, assumir competência nestas áreas tem: (1) atenção dos adeptos, (2) equipas altamente competitivas que podem gerar trofeus e (3) patrocínios.

A equipa feminina tem o seu presente comprometido nas 3 áreas, mas aquela que mais preocupa hoje, é que lhe falta muito pouco para o salto desportivo. Um resumo do último jogo, do penúltimo e etc é que nós, seja com quem for, somos sempre ultracompetitivos. Não somos melhores que ninguém, mas transformamos as nossas forças levando-as ao limite competitivo. Ainda assim, pode não ser suficiente porque as armas são desiguais. Podíamos ter ganho ao SL Benfica? Claro! Pingou para o lado delas, tal como podia ter dado para nós.

Tivemos uma melhor receção, melhor sideout, mais blocos, mais diversificação de ataque, mais pontos no jogo! Ainda tivemos bónus da Bárbara ter assumido um papel importante, ao contrário do que tem acontecido. O problema é sempre o mesmo, precisamos de alguém que coloque a bola no chão com mais facilidade. O treinador do SL Benfica, que tem uma super equipa e pouco jeito, fez aquilo que todos os treinadores nos andam a fazer taticamente. Vejam o jogo e reparem na quantidade de vezes que tivemos 1×1 nas pontas e bloco duplo no meio. As equipas fecham um dos pontos mais pontuadores que temos, o meio, arriscando as pontas com 1×1. Como a nossa eficácia não é consistente, a atitude do adversário é de arriscar. Se não resultar, ajusta. Infelizmente isto só resulta porque nenhum diretor percebe que temos de contratar uma jogadora ponta com o braço da (reparem neste exercício):

Holt, Victoria ou Ana Gamboa (AJM)
Bonardi (SLB)
Bruna (Porto Volei)
Grécia e Nayara (Vitória SC)
Irene (Clube K)
(nem preciso explicar o que aqui fiz)

Termino como comecei. Quem é que está a criar uma entropia para o voleibol feminino do Sporting CP? Será mais o Miguel Afonso ou o Paulo Cunha? Os dois em uníssono? Num campeonato ultracompetitivo e onde se percebe que estamos a muito pouco de ser um real candidato, continuamos a brincar ao Sporting CP. Este fim de semana o Leixões SC até veio baralhar isto tudo com as suas vitórias. Não há equipas mortas e há 4 vagas para 7 equipas.

O raciocínio que o artigo levou é importante para acabar com a conversa da rentabilidade do voleibol feminino porque, com algumas palavras se percebeu está mais relacionado com a liderança/competência de gestão do que com paradigmas montados.

Isto não serve para tirar qualquer responsabilidade às jogadoras em caso de derrota. Muito pelo contrário. Se a Bárbara faz 20 pontos neste jogo, deve fazê-lo em todos. Se a Bruzza faz diagonais curtas explosivas daquela maneira, deve fazer mais vezes. Se a Ana Figueiras já percebeu que a Paquete precisa de entrar no jogo cedo, então que o faça sempre assim. A responsabilização de todos é um primeiro caminho para o sucesso. Mesmo aqui na Tasca, tento trazer sempre uma visão objetiva seja do momento, da gestão ou do jogo. Para isso preciso de ver (e rever) os jogos e estudar.

Hoje foi um artigo a falar menos do jogo e mais do momento. Desculpem, mas estamos tão perto que se torna frustrante tantos anos de voleibol do Sporting CP e poder estar a assistir a um declínio.

Sobre a equipa masculina vai ser o próximo artigo todo, porque vamos ter uma semana bem cheia. E insisto, como já venho escrito, “acredito mesmo que a próxima derrota desta equipa será apenas a 2023-02-25.”

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.