(Antecipo já que esta vitória foi muito emocional para mim por muitos motivos e isso vai-se rever neste artigo. Não sei o futuro, mas para este artigo, interessa o hoje. O título foi roubado à música do Luís Trigacheiro – “O meu herói. https://youtu.be/sshPrjw48s4. A porta ficou realmente aberta e esta equipa voltou a entrar por ela. Obrigado.)

 

Praticamente um ano depois de ter visto a equipa de voleibol feminino ao vivo, regressei com emoção. Numa hora onde os olhos dos sportinguistas estavam, com toda a lógica, virados para o estádio da Luz, aconteceu Sporting CP.

Na melhor exibição da época, o Sporting CP cilindrou a AJM/FC Porto num jogo, absolutamente perfeito das nossas jogadoras e do treinador Rui Costa. Comentei com um amigo que estava com “um feeling muito positivo” para o jogo. Ainda bem que se confirmou! Esta vitória vinca ainda mais o artigo da semana passada e o jogo de hoje respondeu à minha pergunta da culpa. A resposta é Miguel Afonso porque, na importância do estar, o diretor Paulo Cunha é a presente constante, intensa e atenta. Esteve nos Açores, esteve no PJR e esteve no Dragão à vista de todos. Posso criticar decisões, mas desarmam-me com carácter. O Paulo Cunha tem. Sempre exposto e junto às equipas.

Quanto ao jogo, só deu Sporting CP. A AJM/FC Porto teve um jogo intenso na quinta-feira e apresentou-se com as ausências da Piu e da Clarisse. Isso eram condicionantes reais, mas depois podemos ver que jogou a Victoria (reforço de inverno) e a Karina (melhor jogadora do campeonato passado) estava no banco. A AJM/FC Porto tem um plantel fortíssimo e extenso.

O treinador Rui Costa montou muito bem a equipa confirmando, como tantas vezes já disse, que é o melhor treinador português. A forma como condicionamos a Kyra Holt, melhor jogadora da liga, foi brilhante. Não será sempre assim, mas ontem foi. A marcação de bloco estava a fechar muitíssimo bem a diagonal, dando até bastante linha à jogadora, e isso foi decisivo. A Renatinha, outra das maiores pontuadoras, também foi condicionada através do bloco com estratégia idêntica. Apesar das nossas dificuldades de defesa em zona 1 e 2, com a boa marcação de bloco, tudo ficou mais fácil. Isto tudo acontecia na perfeição porque a receção da AJM/FC Porto não estava a permitir jogar pelo centro da rede. Isso deu tempo à Aline e à Jady para ler o passe com mais assertividade. Com a recepção perfeita e o ataque a pontuar, que normalmente é o nosso ponto mais fraco, seria difícil alguém bater-nos. De realçar também que estivemos emocionalmente muito bem quando o pavilhão pressionava (e muito) a equipa. Admito que foi uma surpresa a estabilidade que apresentaram.

Melhor que isto, só dizer-vos o que se ouvia nas bancadas do Dragão Caixa, e que servirá de resumo ao jogo antes de passar a umas palavras de cada jogadora: “F***-se, elas não estão a jogar com mais? Defendem tudo.”

 

Maria Maio:

A Maria Maio não jogou. A Maria Maio brilhou e aqueceu-me o coração. Quando alguém passar por ela na rua, por favor agradeçam-lhe aquilo que ela faz no Sporting CP. A partir do banco, a Maria canta as músicas do Sporting CP! Uma colega ia para o serviço e, sozinha puxava um cântico. Já várias vezes disse isto e insisto. MUITAS MARIAS MAIOS JÁ! A atitude de uma atleta não se vê apenas no campo, mas também naquilo que pode levar para as colegas, enquanto líder ou motivadora. A palavra certa de como fiquei é embevecido. E no fim, um miúdo começou a insultá-la (malta do futebol) enquanto ia para o balneário ao que ela olhou para ele e o enxota, pedindo calma e alguma dignidade.

 

Vanessa Paquete:

Que jogão. No final do jogo as distribuidoras já não tinham coragem de meter a bola em mais ninguém. Não sei se foi o melhor jogo com a camisola do Sporting CP, mas estará no top 3 certamente. A entrega do costume, a raça habitual, o vigor já conhecido, acrescentado com uma performance de ataque de sonho, em especial no final do jogo. O meu sonho era ter esta Paquete até Maio.

 

Daniela Loureiro:

No ano passado disse que era a sua melhor época de sempre. Se calhar vou ter de reformular porque está a jogar para car*lho. Só se um adversário tiver uma paciência de budista é que aguenta a quantidade de bolas que ela lhes defende. Eu adoro porque é das nossas, mas chega a ser desesperante a forma como a bola, simplesmente, não cai. Uma líder, uma leoa, uma capitã, chamem-lhe o que quiserem. Será absolutamente injusto se terminar a sua carreira sem ser campeã nacional no Sporting CP. Por tudo o que deu, dá e dará ao voleibol e ao clube. Melhor jogadora desta equipa.

 

Bruzza:

O Sporting CP precisava dela a servir para disparar no marcador. Isso foi acontecendo e não é coincidência. A consistência defensiva e de receção é fenomenal, quando lhe juntamos o ataque fica impossível parar. A par de toda a equipa, também ela com um grande jogo. Com uma Bruzza normal, somos candidatos a vencer os jogos, com uma Bruzza neste nível somos candidatos ao título.

 

Bárbara:

Esta é a Bárbara que toda a gente quer/deseja/sonha/adora. A titular da seleção, campeã nacional pela AJM/FC Porto, várias vezes finalista do campeonato nacional, melhor zona 4 portuguesa neste momento fez aquilo que sabe. Parece, finalmente, feliz por estar no Sporting CP. Se me deixassem, congelava o tempo e o momento para que a Bárbara nunca mais se esquecesse deste agora. Até lhe recomendo leitura, o poema Recomeça de Torga. A sequência, desde aquele 4º set com o Vitória SC continua em crescendo. Não pares, por favor Bárbara.

 

Aline Timm:

O melhor elogio que lhe posso fazer é dizer que, até há uns meses, a sua maior lacuna era o bloco. Neste momento, é a sua maior virtude, mantendo os ataques pontuadores e o serviço difícil. Muito atenta ao jogo e a querer sempre estar bem para quando for chamada pela distribuidora. Lembro-me de uma (meia) bola que atacou sem bloco, sem que ninguém esperasse grande coisa, ela pontuou forte e com classe.

 

Jady:

A consistência manteve-se e deu o que se esperava. Joga muito bem e evolui a cada jogo. Os seus festejos são arrepiantes (literalmente). Uma nota importante, a Jady está a evoluir imenso na bola que não está perfeita para atacar forte. A nossa jogadora está a arranjar alternativas para fugir de ser blocada. Isso é treino e maturidade.

 

Ana Figueiras:

A Ana está num bonito caminho evolutivo. Zanguei-me imenso há uns jogos quando se esqueceu as dinâmicas básicas da equipa. Quando até eu que estou na bancada, as sei. Voltou a distribuidora competente. Gostava de elogiar 2 ações:

A primeira é a sua coragem em insistir com jogadas mesmo quando não foram bem-sucedidas à primeira tentativa. É preciso mesmo ter uma confiança muito grande nos ritmos da equipa e nas colegas para manter a segurança em jogadas quando houve bloco anteriormente. Especialmente no centro de rede.

A segunda é o bloco. A atleta mais baixa em campo tem um tempo de salto tão bom que não há quem bata por cima dela. Para melhorar, ainda toca imensas vezes na bola! É maravilhoso ver que a sua altura nunca foi um motivo de decisão entre as distribuidoras. Ontem com Holt, Vitoria, Karina e Renatinha foi sempre muitíssimo competente.

 

Martinelli:

Ganhou espaço quando a Ana vacilou um pouco nas tomadas de decisão do 3º set. Sinceramente, eu gosto assim, não está a dar, troca-se e tenta-se mudar. A Martinelli entrou sem nenhum interesse em inventar. Fez o que tinha de fazer – passar a bola à Paquete. Claro que foi tentando pegar no resto das colegas, mas ela sabia que o “ouro” estava na oposta. Foi ainda a tempo de uma belíssima defesa em zona 1 que aumentou, ainda mais, os índices de confiança dela e da equipa.

 

Rafaela:

Entrou, serviu, ganhamos pontos, voltou a servir, defendeu, ganhamos pontos. Entrou bem, usando bem a sua especialidade de serviço. Está no banco, mas entrou feliz. Não se pode pedir mais, só se pode apreciar e agradecer.

 

Ainda uma palavra para os seniores masculinos. Esperava que o artigo hoje fosse apenas sobre eles. Esperava que a próxima derrota tivesse sido apenas com o SL Benfica, fora, em Fevereiro. Esperava ter vencido os 2 jogos com a AJ Fonte do Bastardo. Claro que podemos continuar a acreditar nos objetivos, mas fica mais difícil. Vamos ver como é que o treinador João Coelho consegue dar a volta à falta de receção e à pouca consistência na defesa. Isto está a matar-nos.

 

Admito que já me tinha esquecido do quão bom era ver as meninas ao vivo.
Saudações leoninas.

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.