Na visita à Luz, num dérbi onde só a vitória lhe servia, o Sporting foi aquilo que consegue ser, fruto de uma época pessimamente planeada e de um plantel extremamente desequilibrado, que oferece ao Leão uma manta feita de gente cheia de vontade, mas onde faltam peças que permitam tapar todas as necessidades da equipa

Se o Sporting visitasse a Luz a três ou quatro pontos do rival, podia dizer-se que o empate a 2, ainda com mais de meia volta do campeonato por cumprir, era um bom resultado. Acontece que o Sporting visitava a Luz a uma dúzia de pontos do rival, líder do campeonato, com a agravante de também estar a nove de distância do segundo classificado e a cinco do terceiro, ou seja, apenas a vitória servia os interesses dos verde e brancos (e corremos o risco de cair para quinto, caso o Casa Pia vença no Estoril).

Diga-se em abono da verdade, que o Sporting entrou bem no jogo, fruto de uma pressão consistente, como que convidando o benfica a procurar a bola (coisa que os encarnados não sabem, propriamente) e a abrir espaços, nomeadamente deixando isolados os laterais Bah e Grimaldo, abrindo caminho às subidas de Nuno Santos e do incrível Porro, que ainda foi o primeiro a criar uma situação de perigo, na marcação de um livre directo.

Foi preciso esperar cerca de 15 minutos para que a bola voltasse a rondar uma das áreas de forma efectiva, desta feita a do Sporting, com Adán a dizer presente às tentativas de João Mário e de Rafa, esta última permitindo a Coates sair a jogar com um cabrito dentro da área, que merece ser visto em loop pela categoria. Focado no plano traçado, o Sporting voltou a investir pela direita, onde Porro tem energia suficiente para contagiar Edwards, deixando Grimaldo às aranhas quando o inglês cruza para a pequena área, onde Trincão aparece a emendar a meia com Bah, e a provocar a festa dos três mil Sportinguistas presentes em casa do adversário.

Estavam decorridos quase 30 minutos do primeiro tempo, e o Sporting parecia conseguir anular um benfica que também já teve melhores dias, com Ugarte a engolir o meio campo, parecendo estar em todo o lado e ser capaz de disputar todas as bolas. Depois, aconteceu o que já aconteceu tantas vezes esta época: uma falha de concentração defensiva e golo do adversário. 1-1, resultado com que se chegou ao intervalo.

No recomeço, logo aos cinco minutos, penálti claro sobre Paulinho, mais expedito do que António Silva a atacar a bola, com o defesa encarnado a chegar atrasado e a derrubar o ponta leonino (alguém mostre as imagens ao Schmidt, para ele não fazer tristes figuras nas press). Pote pegou na bola, sorriu e meteu-a lá dentro. Os Leões estavam novamente na frente, mas a capacidade de segurar a vantagem e de ser uma parede defensiva, voltou a durar apenas dez minutos. Gonçalo Ramos foi novamente deixado sozinho, e só teve que encostar para o bis, já na linha de pequena área.

Depois… depois aconteceu o mais normal, tendo em conta o estado das duas equipas. Os lampiões, muito menos vertiginosos a atacar do que há três meses, apenas de bola parada voltaram a criar perigo, pese as diversas soluções que estavam no banco. O Sporting, fruto de uma época pessimamente planeada e de um plantel extremamente desequilibrado, voltou a ser uma manta feita de gente cheia de vontade, mas onde faltam peças que permitam tapar todas as necessidades da equipa sem destapar outras. A saída de dois rapazes para Inglaterra, por exemplo, não foi devidamente acautelada para que a qualidade e a intensidade de mantivesse, e isso ajuda a explicar, muito, a forma como a defesa se mostra mais exposta ou o facto de não termos conseguido segurar as duas vantagens no marcador. Depois, terminar um dérbi com um trio ofensivo composto por Jovane, Arthur e Chermitti, com o extra do puto ser lançado meio à toa (e respondeu bem, tal como Rodrigo Ribeiro havia respondido quando lhe tocou essa prenda), é igualmente sintomático.

Ou, se preferirem, é o que é, e numa altura em que Janeiro vai a meio, o facto de estarmos mais preocupados em garantir que Porro fica, do que em ir ao mercado buscar as soluções que levem a equipa para outro patamar, mostra que o melhor que temos que fazer é respirar fundo e aguentar, que a viagem 22/23 é longa e só termina no final da Maio.

 

It is what it is, and I know it’s all that we gotIt is what it is, and I know it feels like a lotIt is what it is, what it isAnd I’m tired of trying to make it be what it’s not