O Sporting entrou bem, chegou à vantagem, despediçou ampliá-la, e entrou em modo kamikaze até Amorim ver o que se vai vendo semana após semana e arrumar as peças nos sítios certos do tabuleiro, garantindo uma vitória que mantém os Leões ligados ao ventilador 

Existem duas ideia que, recorrentemente, nas últimas semanas, Ruben Amorim tem vindo a reforçar nas antevisões ou análises aos jogos: o Sporting perde pontos ou jogos em função de pormenores + esta época medonha (esta palavra é minha) desde a sua preparação serve para perceber o que se pode mudar.

Ora, quando foi anunciado o onze que subiria ao relvado do Municipal de Chaves, campo que desde que me lembro de ver bola sempre foi uma das saídas mais complicadas, mesmo sem azias coroadas, o que se viu foi mais do mesmo. Trincão, esse rapaz que ameaça o lugar de destaque na galeria dos pongolles, lá tinha nova titularidade, Paulinho, o ponta de lança que faz tudo bem menos meter a bola na baliza, lá mantinha o lugar cativo como referência atacante. Novidade, mesmo, só a estreia de Diomande, com o jovem central a dar bem conta do recado ao lado do estafado Coates e de um Gonçalo Inácio estranhamente aos tremeliques.

A irritação provocada pelo onze depressa desapareceu, pois o Sporting entrou com a fome que Ugarte havia dito ter estado ausente contra os dinamarqueses que Tonel, esse comentador de excelência, transformou em noruegueses porque, para ele, são países cujo nome começa por D. Espectáculo, como diria o Fernando Mendes, esse Sportinguista ferrenho que deve ter vibrado com aquela entrada a encostar o adversário às cordas, e provocando, ao minuto sete, um lance dividido em que Paulinho vestiu a pele de Taremi e o árbitro  apontou para a marca de penálti (inexistente, na minha opinião). Pote, ontem outra vez uma espécie de oito, avançou e bateu docemente seco e colocado. 0-1.

O Sporting pressionava, não deixava o chaves sair a jogar, e mesmo diminuindo o ritmo inicial, eram os Leões a dominar e, claro, a desperdiçar. Paulinho, pivot de excelência, homem que baixa linhas para criar outras aos companheiros, lá se viu a pisar a linha da pequena área adversária, depois de um cruzamento de Trincão no único momento em que se viu Trincão. Era só encostar, mas foi na barra que o camisola 20 conseguiu acertar, e desse falhanço de esconder os dentes resultou o eclipse do Sporting.

Quando Juninho partiu disparado nas costas de defesa, Adán deu o peito à bola para evitar o empate. Depois, reclamou-se penálti por suposta mão de Coates, e por esta altura já os Leões tinha perdido mão na partida, porque assim que o adversário consegue sair de zonas de pressão, este meio campo a dois com Pote e Ugarte deixa o uruguaio sozinho na tarefa de ter que pressionar, cortar, recuperar, tarefa complicada para um homem só que acaba, naturalmente, a fazer com que se encolha e se aproxime dos centrais. Semanas a ver isto, Amorim, tal como todos víamos que isto estava mesmo a indiciar um golo flaviense, que acabou por surgir num remate de longe, precisamente porque Ugarte não pode estar em dois ou três lado ao mesmo tempo, e João Teixeira aproveitou para disparar da entrada da área, cruzado, numa bola a que Adán se fez demasiado tarde.

Até ao intervalo, tempo em que o Sporting acusou o golo sofrido, nota de destaque para uma entrada de sola sobre Paulinho, que nem falta foi.

 

O Sporting voltou a entrar bem, novamente pela esquerda, com Nuno Santos a servir Paulinho para o primeiro golo em fora de jogo. Este foi com o pé, o segundo foi com a cabeça, por 12 centímetros, mas dá que pensar a falta de agilidade mental do avançado, que vê que está a sair de uma posição irregular, tem tempo para se posicionar, e consegue estar sempre adiantado em relação à defesa. Pelo meio, Nuno Santos esteve na cara do redes, vendo-o fazer a defesa da noite, a uma mão, dizendo “não” à picadinha.

Trincão estava a mais em campo (a sério?!?), Pote estava perdido no centro dele, Amorim lá viu o que todos estavam a ver e chamou Morita. O japonês ocupou o lugar que é dele, Pote subiu no terreno, e na primeira vez que teve oportunidade de vir da esquerda para o meio sacou um remate em jeito de fora da área que só parou onde se faz a festa. Como diriam os Wu Tang Clan, the game of chess is like a sword fight, you must think first before you move.

A meia hora do final, com as peças de xadrez no seu devido lugar, o Sporting não deixou dúvidas sobre quem mandava para lá do Marão, até porque a tentativa de esticar o jogo por parte dos flavienses abriu o jogo e permitiu ao Sporting ter mais espaço para apontar à área adversária. Nuno Santos fez o terceiro, após assistência de Paulinho e um ressalto feliz, Chermiti entrou a dez minutos do fim, ainda a tempo de roubar a bola a um defesa e desperdiçar na cara do redes, antes de ver Pote dizer-lhe “toma”, na marcação de um penálti que daria ao 28 a possibilidade de fazer um hattrick. O puto bateu denunciado, o redes adivinhou o lado, e já com o Leão desligado foi o Chaves a reduzir a diferença, mesmo em cima do apito final.

Ficam os três pontos, justíssimos, numa vitória que mantém o Leão ligado ao ventilador na esperança de ainda se apurar para a Champions e, tão ou mais importante, injecta confiança para a ida à Dinamarca, na quinta feira.