A crónica do Sporting vs Boavista que pensavas que já não lias, ou aquela que nem vais querer ler, mas que eu tinha mesmo que escrever

“Porra, ó Cherba, mas o jogo foi assim tão interessante que justifique trazer a crónica fora de horas?!?”. Bem, lê o que vem a seguir e decide se valeu a pena ou não.

Amorim sugeriu um Dj e alguém mandou o Botas tomar comprimidos. Foi a primeira nota da noite, com a habitual banda sonora, normalmente com malhas dos Supporting, a ser substituída por uma playlist orbital, enquanto o speaker de serviço tinha que conter as acrobacias vocais até quase à hora do início do jogo. A segunda nota foi para a entrada do Sporting.

Amorim havia alertado para as flutuações de intensidades que por vezes acontecem no intervalo dos jogos das competições europeias, e ainda João Pinheiro se preparava para o seu número de circo com o apito na boca, já Chermiti cabeceava rumo às redes, vendo o redes fazer a defesa da noite e desviar a bola para a barra. Estavam decorridos trinta segundos.

O puto haveria de falhar mais dois golos cantados, mas vamos mesmo criticá-lo quando foi altamente associativo e ainda meteu o cabedal no meio dos centrais adversários, contribuindo para amassar aquela defesa tripeira? Edwards estava endiabrado, Pote estava visivelmente cansado, Esgaio parecia mais acelerado, Ugarte parecia estar em todo o lado, numa espécie de versão Palhinha movida a erva-mate. Com tudo isto, uma nuance táctica que se via perfeitamente lá do alto da bancada: Nuno Santos era quase sempre extremo esquerdo, pressionando o lateral lá em cima, pedindo a Matheus Reis para se encostar mais à linha, deixando Coates e Diomande (promete, o sacana do puto) a dominar o centro, com Esgaio mais contemporizador face ao volume de jogo quase sempre pela ala canhota. Resultado deste desenho que bem lixou o Petit que não é Emanuel, Morita ganhava espaço no miolo para ser uma espécie de interior esquerdo que dinamitava as linhas boavisteiras.

O golo, esse, só chegou tarde, para tal volume ofensivo, mas quando chegou deu-nos outro momento para recordar: Edwards voltou a rasgar a defesa, deixando a bola no coração da área, mesmo a pedir uma trancada bem dada. Nuno Santos olhou para ela, percebeu que a redonda estava a jeito do pé que só serve para dar equilíbrio e não foi de moda, aplicou-lhe uma rabona furiosa que entrou na baliza com a velocidade de um Dodge Charger. Que golo do cacete, candidado a golo do ano à escala planetária.

O Sporting baixou o ritmo, levando a partida para o seu momento mais chato, tão chato que Salvador Agra, vendo que a sua equipa não conseguia chegar à baliza de Franco Israel, se atirou de carrinho para um corte que colocou a bola dentro da sua. Lá está, uma noite pode ser para lembrar pelos mais variadíssimos motivos.

A coisa teria virado épica se, logo a abrir a segunda parte, Ricardo Esgaio tivesse marcado um golo a desafiar o de Nuno Santos. O lateral encheu-se de venetas, fintou dois aos tremeliques, puxou com a direita para dentro e sacou um remate em arco com a esquerda, levando a bola a esbarrar no travessão! Só visto, que isto aqui contado pode não dar para acreditar, até porque é bem mais simples acreditar que João Pinheiro voltou a fazer das suas. Lembram-se do penalty assinalado contra o Sporting, no Bessa? Ora, neste domingo à noite, Trincão entrou e depois entrou embalado na área, levando um encontrão que nem num jogo de futebol três com tabelas é carga de ombro. Siga, disse o artista.

E o jogo foi seguindo, Amorim foi gerindo, e já que a noite era para lembrar, toma lá mais uma memória: Esgaio vai à linha e cruza para Paulinho encostar para o 3-0. Diz-me agora, se valeu ou não a pena a crónica fora de horas?