Noite memorável do Sporting em Londres, eliminando o líder da Premiere, Arsenal, no desempate por grandes penalidades, prémio para uma das melhores exibições europeias dos últimos anos por parte dos Leões

O jogo terminou há quase três horas e eu estou aqui, com tanta imagem a ilustrar-me os pensamentos que já comecei a escrever esta crónica quatro vezes. Diz que é assim quando vives as coisas intensamente, e tentas organizar as ideias em vez de deixar sair disparado tudo o que tens para dizer sobre uma noite que será lembrada sempre que alguém quiser visitar a história das noites europeias leoninas, nomeadamente as que falam sobre vitórias épicas como a de Alkamaar ou de Manchester (City).

Em noites como estas, em que a equipa o é na realidade, lutando e acreditando como um todo, sabe quase sempre a injustiça fazer destaques individuais, mas a verdade é que todos os espartanos têm o seu Leónidas, e no Emirates não faltaram protagonistas: Ugarte, numa exibição monstruosa; Adán, numa noite de redenção com defesas para a vitória; St. Juste, Diomande e Inácio, formando um trio de centrais intratável, com destaque para o jovem de 19 anos, que substituiu o capitão Coates e não o deixou ficar mal uma única vez.

Este foi o quinteto fantástico de uma equipa que pisou o relvado personalizada e concentrada, sendo mesmo a primeira a causar real perigo, quando Trincão arrancou da direita para o meio e ensaiou um remate em arco que passou muito perto do poste. Estava decorrida uma dúzia de minutos e os Leões tinham 58% de posse de bola, mas de um momento para o outro e sem que nada o justificasse, os ingleses colocaram-se na frente: Martinelli é lançado pela esquerda (tal como em Alvalade, foi quase sempre por aí que os ingleses tentaram entrar) nas costas da defesa, Esgaio falha o corte, Adán defende, mas a bola sobra caprichosamente para a recarga de Xhaka.

O golo atirou o Sporting para a sua fase menos exuberante na partida, cerca de 15 minutos em que os verde e brancos pouca bola tiveram e quando a tinham raramente conseguiam sair a jogar para o último terço. Foi tempo de cerrar os dentes, foi tempo de Adán começar a sua noite de redenção europeia, dizendo não a Martinelli e Gabriel Jesus, foi tempo dos outros quatro de quem também já vos falei se agigantarem, com Ugarte a parecer capaz de estar em todo o lado, com Inácio a calar tanta voz, com Diomande a deixar perplexo quem se lembrava que há dois meses estava a jogar pelo Mafra, com St Juste a ser uma espécie de líder, até na forma como resolveu arrancar da defesa e, galgando 100 metros em passa rápida, chegar à área adversária para um disparo por cima que não entrou, mas libertou novamente a equipa portuguesa. Ugarte, mesmo em cima do intervalo, ainda usou o seu quarto pulmão para ir lá acima rematar tão perto do poste que muitos de nós já víamos a bola lá dentro.

Se no primeiro tempo o Sporting tinha sido um exemplo de personalidade, no segundo disse ao lider da Liga Inglesa que estava ali para ganhar. Que segunda parte do caray, camaradas! O Emirates caladinho, escutando os rugidos de três mil Sportinguistas na bancada e observando as camisolas listadas a tomarem conta dos acontecimentos. Faltava meia hora para o final, quando o Sporting recupera uma bola no meio campo. Pote fica com ela, e assim que pisa a linha do grande círculo decide que é hora de tentar um chapéu ao redes. O que se segue são segundos em que o mundo parou e acordou entre as lágrimas de felicidade dos adeptos portugueses e a boca aberta dos adeptos ingleses. Puskas que pariu! Golo do ano, num momento de antologia que fica gravado na história.

 

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O jogo estava empatado e só dava Sporting, com o papão inglês enfiado no armário, empurrado pelo monstro Ugarte, com os centrais a irem atrás e a pressionarem tão alto como os maiores da Europa. Paulinho, de cabeça, esteve quase a repetir a dose servida ao Tottenham, Esgaio teve passe genial a isolar Marcus Edwards, mas o camisola dez, a 20 minutos do fim, viu a felicidade bater na cara do redes para desespero da turba verde e branca. Só dava Sporting, repito, em casa do líder da Premiere.

As coisas inverteram-se no prolongamento, e logo de início Essugo fez um mau passe que isolou Trossard, com o belga a não conseguir desviar de Adán e a bola e parar corações antes de parar no poste. Porra, também merecemos! Nos entretantos, Arteta ia ao banco buscar Saka e Odegaard, e era o Arsenal a encostar o Sporting lá atrás. Foi hora de dar as mãos e de resistir, foi hora de ver Adán voltar a voar para tirar o golo que Gabriel queria festejar, antes de Diomande substituir o seu redes em cima da linha. Arthur ainda foi por ali fora, e todos imaginámos um contra ataque que ia acabar com o jogo, mas a lentidão e a perda de bola valeram a expulsão a Ugarte, quando tentou recuperar e emendar erro alheio.

Vieram os penáltis e o Sporting já nem tinha em campo os habituais marcadores. Isso também ajuda a explicar a noite de superação, onde uma equipa me fez recordar a intemporal melodia do Feiticeiro de Oz, que a todos diz Somewhere over the rainbow, Skies are blue, And the dreams that you dare to dream, Really do come true.

O resto? O resto é história, e fecha assim este capítulo tão bonito.

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