Margarida Bartolomeu, Sportinguista confessa, olha para o investimento do SL Benfica no futebol feminino e apresenta-nos o seguinte artigo.
—————-

Corria o ano 2018 quando o Sport Lisboa e Benfica revelou que iria formar a sua primeira equipa feminina de futebol, e integrar a II Divisão Nacional. No entanto, foi desde cedo assumido pelo departamento de futebol feminino do Benfica, que o objetivo a curto prazo era a subida de divisão, e a conquista da taça de Portugal, estando, desde o primeiro dia, definidos também os seus objetivos a médio/longo prazo – a conquista da hegemonia a nível nacional, e a presença regular na UWCL. 5 anos e 5 épocas depois, podemos dizer que todos os seus objetivos foram atingidos e, muito provavelmente, dentro dos prazos definidos pelos responsáveis do projeto.

Dizem que o futebol feminino não dá dinheiro, e que é difícil investir sem retorno. Tudo isto tem um fundo de verdade. Mas quando olhamos para o projeto feminino do Benfica, fica claro que, sem investimento sério, estruturado e bem gerido, nunca será possível obter retorno, seja ele financeiro ou desportivo. Olhando para a época 2018/2019, época de estreia das encarnadas, verificamos que foi essa a época onde foi quebrada a hegemonia do Sporting Clube de Portugal, a nível das competições nacionais femininas, tendo o campeonato nacional sido conquistado pelo outro grande candidato, Sporting Clube de Braga.

Desde aí, o Benfica conseguiu subir à primeira divisão, conquistar o campeonato por 3 vezes (sim, é verdade que uma delas foi em plena pandemia, e ainda com possibilidade de o Sporting chegar à vitória, e a outra ainda não está “consumada”), venceu 1 taça de Portugal, 2 taças da Liga e 2 supertaças. A hegemonia foi conquistada, e apenas se permite ser quebrada a espaços, por Sporting e Braga. Em termos internacionais, o Benfica é, atualmente, a equipa portuguesa mais bem-sucedida, de sempre, na UWCL, e tem vindo a registar um crescimento exibicional enorme, reconhecido por todos os adversários que tem enfrentado.

Enfrentou, por exemplo, e na presente época, a poderosa equipa do Bayern Munique, e bateram-se como “iguais” durante a quase totalidade dos 90’ de jogo. Ano após ano, a equipa vai melhorando o seu desempenho, vai reforçando cirurgicamente o seu plantel, exponenciando o seu potencial e crescimento.

Mas este sucesso não surgiu por acaso, nem sem um grande esforço e investimento. Olhemos então para o plantel com que o SL Benfica “atacou” o futebol feminino português, em 2018/2019:

Guarda-Redes:

  • Dani Neuhaus / Carolina Vilão / Catarina Bajanca – a primeira, na altura internacional brasileira, enquanto que Carolina Vilão era apontada como um dos maiores talentos nacionais, tendo, inclusive, representado o Sporting;

Defesas:

  • Daiane Rodrigues / Ana Alice / Raquel Infante / Pipa Rodrigues / Diva Meira / Inês Queiroga / Sílvia Rebelo / Tayla / Tita / Yasmim – 2 internacionais brasileiras, 3 internacionais portuguesas, e 2 jovens portuguesas com grande potencial de crescimento;

Médias:

  • Beatriz Cameirão / Daniela Santos / Paty Llanos / Ana Vitória / Pauleta / Francisca Nazareth / Rilany / Andreia Faria / Adriana Gomes / Maiara Lisboa – mais uma vez, um meio campo recheado de talentos. Além das jovens promessas Francisca Nazareth, Beatriz Cameirão e Andreia Faria, o Benfica foi capaz de contratar nomes como Pauleta (já conhecida dos adeptos em Portugal), a internacional brasileira Rilany, e uma das maiores promessas do futebol brasileiro, na altura, Ana Vitória (atualmente internacional pela seleção principal do Brasil);

Avançadas:

  • Lara Pintassilgo / Darlene Reguera / Carlota Cristo / Jassie Vasconcelos / Geyse / EvyPereira – de novo, uma internacional brasileira, e nome consagrado do futebol do seu país, um dos maiores talentos do futebol brasileiro, que hoje representa o FC Barcelona, e 2 dos maiores talentos da sua geração, em Portugal.

Analisando a constituição deste plantel, vemos que o Benfica optou por investir em talentos consagrados (muitos deles provenientes do futebol brasileiro), algo que apenas aconteceu porque as condições (monetárias e desportivas) foram garantidas às atletas que, em muitos casos, já eram profissionais. Por outro lado, a aposta na formação foi, desde cedo, assumida pelo clube, integrando no plantel principal jovens jogadoras com enorme potencial, dando-lhes a oportunidade de crescer, desportivamente, integradas num contexto profissional. 5 anos depois, e vemos nomes como Cloé Lacasse e Jéssica Silva a brilhar na equipa do Benfica. Jogadoras com carreiras “lá fora” bem estabelecidas, e que encontraram aqui, em Portugal, as condições ideais para potenciar as suas qualidades.

E, como elas, tantas outras existem no plantel encarnado, que é cada vez mais capaz de atrair talento, seja ele em desenvolvimento, ou já consagrado.

Quando olhamos para os principais adversários, Sporting e Braga, testemunhamos alguma estagnação nos seus projetos, que reflete, não só, mas principalmente, falta de investimento nos respetivos projetos, algo que se torna notório sempre que confrontam a equipa do Benfica. E com isto não quero dizer que os plantéis de Braga e Sporting não têm qualidade.

Quero sim dizer que os plantéis têm de ser construídos de forma estruturada e equilibrada, garantindo que, para cada posição existem várias opções válidas, de igual qualidade, que garantam a continuidade do desempenho de elevado nível das respetivas equipas. Além disso, fisicamente, a equipa do Benfica tem “outro andamento”, adquirido, talvez, como consequência da participação nas competições europeias. Mas, não deverá isso servir de exemplo aos restantes clubes “grandes” (onde também incluo o FC Famalicão)? Não deverá o “exemplo Benfica” ser demonstrativo de que o investimento vale a pena? Deixo esta questão no ar…

Se há algo em que acredito, é que o sucesso atrai sucesso. E quanto maior o sucesso, maior terá de ser o investimento associado ao projeto, de forma a garantir a continuidade do mesmo!

 

Texto escrito por Margarida Bartolomeu no site Fair Play
*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca