Houve dois Sporting na recepção à Atalanta: um, que nos primeiros 45 minutos levou um banho de bola e foi para o intervalo a perder 0-2; outro, que nos segundos 45 minutos encostou os italianos às cordas e deixou a nação leonina a acreditar que era possível a remontada. O resultado foi a primeira derrota da época 

Amorim tinha dito que ia ser um jogo divertido, mas nada faria prever que isso incluiria um Sporting com dupla personalidade, num feriado à tarde, com tanta criança espalhada pelas bancadas, olhando incrédulas para aquilo que ia acontecendo no relvado ao longo dos primeiros 45 minutos.

A Atalanta, que carrega no símbolo uma deusa, como que chegou a Alvalade e deixou os Leões anestesiados. Os homens do experiente Gasperini, há quase oito anos a treinar a turma de Bérgamo, transformando uma equipa que lutava para não descer numa das 6 melhores equipas italianas, pareciam ser mais, pareciam correr mais, pareciam saber mais em todos os aspectos. Processo, na teoria aplicada à prática em jeito de quase perfeição.

O futebol tem duas equipas, e a Atalanta foi imensamente melhor na primeira parte. Pode dizer-se, obviamente, que preparou melhor os detalhes do embate do que nós, e que o “velho” Gaspe deu um banho de bola ao “puto” Amorim, com Charles De Ketelaere e Marten de Roon a segurarem na mangueira que despejava a água por onde deslizava o diabo Lookman.

Do nosso lado, um rotundo zero. Incapazes de sair a jogar, despejando bolas para o desgraçado do sueco tentar fazer um milagre ou acreditando que Nuno Eminem Santos ia sacar qualquer cena numa correria pela ala canhota, sem meio campo (o que deram a Hjulmand ao almoço?), com uma defesa à toa, nomeadamente à direita onde Fresneda e Diomande encarnaram uma espécie de dupla de comediantes de um filme parvo dos anos 80, onde tudo lhes corre mal.

A posta em Paulinho falhou redondamente, Pote é capaz de não ter acertado um passe para uma possível transição, e enquanto os verde e brancos usavam o jogo directo, os azuis e pretos faziam circular a bola de pé para pé, rapidamente e com uma tal panóplia de soluções que o 0-1 até chegou tarde, depois de duas ou três ameaças, e não será exagero dizer que o 0-2 não espantou quem quer que fosse (mais de dez remates, contra um ou dois nossos), novamente num movimento de fora para dentro.

Da bancada vinham assobios, como que a lembrar que era preciso uma revolução ao intervalo, e Amorim não hesitou: Coates, Edwards e Geny vieram para o relvado, Nuno Santos, Hjulmand e Paulinho ficaram no duche. Pote baixou para o lado de Morita, e finalmente Gyokeres teve quem o acompanhasse na vontade de ferir o adversário, com Geny e Edwards à solta e com ordem para ir para cima dos italianos.

Jogando quatro velocidades acima, bastaram seis ou sete minutos para cheirar a golo na baliza dos italianos, quando Inácio, de cabeça, viu a bola desviar-se para o lado errado do poste. Inácio era, aliás, um impulsionador do futebol leonino, muito mais confortável com a presença de Coates ao seu lado, enquanto a Atalanta via ser colocada em causa a estratégia de Gasperini, que começava a ver os seus jogadores transformarem as marcações individuais em faltas e em cartões amarelos, face à incapacidade de segurar a velocidade de Marcus e Geny. Era a ver do “puto” Amorim colocar em cheque a experiência do mister adversário.

Gyokeres disparava duas bombas que encontravam pernas de defesas pelo caminho, nas bancadas os assobios davam direito a força extra e a crença, reforçada com um penálti por mão na bola (meh…) que Gyokeres converteu com a frieza de um inverno sueco antes das mudanças climatéricas. Faltavam 15 minutos.

Geny e Edwards levavam dinamite nas botas, e entre eles desenharam dois lances que mereciam melhor sorte. Primeiro, Geny lançou Edwards, mas o inglês não conseguiu marcar quando estava na cara do redes; depois, Edwards lançou Geny, e o moçambicano disparou acertando no poste direito da baliza, com a bola ainda a ir caprichosamente à cabeça do redes e a sair pela linha final.

Esfumava-se o empate, que seria o resultado mais justo, até porque, realmente à rasca, os italianos acabaram por optar por esconder a bola e deixar correr os minutos de ansia leonina. E, com isso, ganham vantagem no grupo, aproveitando aquela primeira parte horrível do Sporting (não jogamos sozinhos, atenção), com os Leões, numa noite de duas caras, ainda assim, a poderem tirar algo de positivo deste jogo, caso Amorim assim entenda: deu para perceber a diferença que pode fazer ter verdadeiros desequilibradores a acompanhar Gyokeres. Resta saber se será para repetir.