Começo pelo princípio da história. Lia-se, numa das bancadas, uma tarja a dizer “orgulho sem fim”. Sempre gostei bastante da palavra “fim”. Está relacionada com finalidade, com algo determinado, algo que se cumpriu, que fez o seu intuito… que teve o seu fim. É por aqui que se vê o grande dia que foi ontem. Ninguém vence o nobel da literatura sem ter cumprido a 1ª classe. Logo, sim foi um dia histórico, importante, relevante, festivo, alegre, pertinente, marcante, essencial, fundamental, basilar sem termos ganho nenhuma taça!

Vamos ao jogo.

O treinador Rui Costa começou com a surpresa da Moara em campo no lugar da Lauren e reforçou a confiança na Liza. A Amanda também não teve lugar no 6, mantendo Aline e a Jady. Quando começou o jogo foi para aqui que olhei. Pelas características da Moara, a verdade é que o treinador Rui Costa estava a voltar à base. Pegou nas “suas” jogadoras e deu a tranquilidade tática necessária para atacar este jogo. 

Claro que o voleibol é sempre imprevisível, ainda assim notava-se a nossa superioridade em relação à equipa dinamarquesa. Infelizmente para as nórdicas, a Ozzy foi demasiado rápida a perceber a fragilidade do bloco central e brincou na rede. Movimentou as centrais para todo o lado, o que baralhava as centrais adversárias. Se a bola tivesse perfeita, que foram muitas vezes, ou atacávamos sem bloco no meio ou tínhamos vantagem nas pontas. Voltámos ao nosso adn de serviço de defesa e recepção. Apesar de ambas as equipas estarem com serviços extremamente táticos, ainda assim fomos superiores. Não tivéssemos nós perdido com o Leixões SC e estas dinamarqueses nem 15 pontos faziam em cada set. Estamos, ainda, num caminho de recuperação emocional que é longo, que ninguém se iluda do contrário. Ontem houve alegria e confiança porque estava a correr tudo bem e a bancada ajudou muito. 

Vamos às jogadoras porque o jogo também se lê a partir da prestação de cada uma.

Ozzy: Leu a maior fraqueza do jogo das adversárias assim que começou o jogo. As dinamarquesas tinham extremas dificuldades com as centrais. A Ozzy tirou as nossas da curta na cabeça (não me recordo de nenhuma bola ali) e dançou com a Jady e a Aline. Percebeu, também, que o bloco não era especialmente forte no 1×1, por isso prendeu muito as centrais, dando espaço para a Moara e a Liza brilharem com uma bola mais rápida. Também serviu muito bem! Andou 2 sets a incitar a Moara para atacar mais forte. A Ozzy via o que a Moara não tinha visto ou não tinha coragem. O bloco adversário estava lento no meio, com a bola acelerada que a Ozzy estava a insistir na entrada, as dinamarquesas iam levar sempre com a bola na cabeça. No 3ª set voltava-se a ver a Ozzy: “Moara, bate forte no meio! Ela passa!”. Quando passou, a Moara ficou imbatível.

Liza: Melhor jogo da alemã no Sporting CP. Largou a obsessão pela diagonal comprida e variou o seu jogo. O resultado foi ser uma das maiores pontuadoras do jogo. Tem de se soltar mais e aumentar a rapidez de chamada. Fez um belíssimo jogo.

Bruzza: Voltou a Bruzza que conhecemos, a eye of the tiger. Segura na recepção, concentrada na defesa e a contribuir no ataque. A consistência ao serviço do grande Sporting Clube de Portugal. Houve ali um momento usou a camisola da Dani para soltar um grito de raiva com o dedo do meio, pareceu-me. Fez bem, a vida é feita de explosões também. 

Moara: Me apaixonei por uma menina; Que tem 1 metro e 60 (oitenta) e uma tatuagem do seu ex; Ela é do tipo que acaba uma família; Basta encostar nela uma vez. Eu caí no corpo dela e me viciei; Agora eu tô apaixonado, olha onde eu entrei”

https://youtu.be/fd3PJfv7SaY?si=tpRdUovX4qhzW8mZ

Quando ouviu a Ozzy virou bicho. Como já tinha dito, cheira a revelação por todo lado. Força!

Jady: Onde andaste tu? Belíssimo jogo da Jady que conhecemos. Jogo perfeito. Perfeita.

Timm: Bom jogo da Aline também. Oferece outro tipo de bolas à distribuição o que ajuda muito à diversificação de jogo por parte do Sporting CP. Muito Muito bem no serviço! Andava-se a esquecer que servia muito bem nos últimos tempos. Com a altura que tem, torna-se uma enorme dor de cabeça receber aquela bola seca e forte que vem lá do 15º andar. 

Dani Loureiro: Menos exuberante que o costume, mas igualmente eficaz. A qualidade e maturidade a capitanear uma equipa que se deve guiar pelo seu exemplo como liderança. Não se iludam, teve um jogo muito difícil. A equipa adversária não estava a servir para ela, o que normalmente baixa os índices de concentração. Reparem, no 1º set teve apenas 1 bola de recepção. Só com muito foco e obstinação de que “a próxima bola é para mim” torna possível ter índices de defesa que apresentou ontem. Impressionante. 

Rui Costa: Continua a ser o melhor. Ponto. Mexe taticamente na equipa voltando às raízes, especialmente defensivas. Coloca a Moara, certamente por aquilo que vê nos treinos. Dá uma nova oportunidade à Liza, mas colocando-a a obedecer a diferentes variações de ataque. A primeira folha de jogo, na 3ª divisão, apresentava o Sporting CP com o treinador Rui Costa. Depois de 6 anos, a folha de jogo na primeira participação do Sporting CP nas competições europeias apresentava o mesmo Rui Costa como treinador. Só cabem aqui 4 palavras: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. Esperem, consistência e qualidade também. 

Algumas notas intermédias daquelas de “se eu trincar a língua morro”:

– As p*tas das linhas mal se notam na Sporting TV, mas quem é que se importa, não é?

– Ri-me muito ao ver o Miguel Afonso, o José Carlos Reis e o José Carlos Manaças juntos na tribuna. Chama-se a isto Guerra Fria?

– Na supertaça não deu jeito aparecer, era longe. Agora apareceram para testemunhar aquilo para o qual pouco fazem. Até o orçamento deve ser o Zenha aprovar. 

– Pergunta sincera: O pavilhão estava bem composto com uma bancada apinhada. Faltaram 3 por encher. Quando uma equipa com este nível de relação com os adeptos (engagement), não enche um pavilhão e não tem a comunicação de qualidade apoiar, a quem é podemos chamar incompetente? 

– Ainda bem que toda a gente está feliz quando se ganha. Como ainda estamos no início da época, espero que quando as coisas não correrem tão bem, não voltem às cabeças baixas e aos silêncios. Silêncios dentro de campo e fora de campo. Felizmente, há uns dias após o Leixões SC, a capitã rompeu o silêncio com a sua palavra. Sim, as redes sociais não servem só para quando tudo corre bem e para o manchetão. A força do Sporting CP sempre esteve e estará nos seus adeptos. Sempre. E há várias pessoas ao longo destes anos que sabem explicar isso, internamente. 

Nota final de alegria:

– Que foto do treinador Rui Costa, Dani e Moara a festejar;

– Que vídeo da tensa da Timm e o festejo exuberante daquela que, com 38 anos, já ganhou quase tudo o que há no voleibol. Que amor ao jogo!

– Belíssimo ver a formação do voleibol do Sporting CP no pavilhão a ver o jogo;

– Muito bom ver a Daniana, o Tiago e a Cristiana na bancada.

Sábado há jogo em Matosinhos e vamos ganhar 3-0 para ficarmos todos com mais azedo ainda por termos perdido a supertaça. 

Da raça que nunca se vergará!

SL

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.