A 14 de Maio de 2000, após um triunfo em Paranhos frente ao Salgueiros, o Sporting sagrou-se campeão Nacional. Tinha 15 anos e pela primeira vez estava a festejar um título do “meu” Sporting.

Poucos se lembram ou sabem que nesse domingo, Portugal sagrou-se campeão Europeu de Sub 16, em Israel, com a presença dos leõezinhos Carlos Marques, Hugo Valdir, Hugo Viana, João Paiva e Ricardo Quaresma. Todos eles titulares na vitória, frente à Chéquia, por 2-1. Custódio foi posteriormente, contratado ao VSC. 

Se já tinha interesse por futebol de formação (tendo assistido a vários jogos do campeonato Nacional de Juniores, com FC Porto e Boavista envolvidos, que me deram a conhecer Ricardo Carvalho, Ricardo Costa, Postiga ou Bosingwa), esse foi o dia que me despertou paixão pelas jovens promessas, pois achava que com aqueles talentos o Sporting seria uma potência mundial!

Os meus pais tiveram uma papelaria durante quase 30 anos e desde sempre, devorei as publicações de futebol (ignorando nos jornais diários as notícias das modalidades, algo que ainda hoje faço) e o gosto pela modalidade ultrapassava a prática como federado.

No dia 18/08/2001, vi ao vivo, pela primeira vez, alguns dos jogadores do Sporting que tinham vencido o Europeu. Estiveram ao serviço da equipa B, num amigável disputado em Mangualde. Fiquei encantado e quando cheguei a casa, estava a ser disputada a segunda jornada da Primeira Liga 01/02, com o Sporting a perder 1-0 frente ao Belenenses. O resultado fixou-se nos 3-0.

Durante o desenrolar do jogo, disse ao meu pai que o Sporting tinha, na equipa B, o jogador que o meio-campo precisava (jogaram Paulo Bento, Rui Bento e o checo Horvath). Esse jogador era o esquerdino Hugo Viana.

Curiosamente, dois dias depois, Hugo Viana foi a principal novidade na lista de convocados de Laszlo Boloni, para um jogo particular do Sporting, frente ao Celta de Vigo, a 21/08/2021. Hugo Viana estreou-se pela equipa principal e nunca mais saiu da equipa.

A partir daí, estreou-se na seleção principal (a 14/01/2001, num particular frente a Angola), foi campeão Nacional pelo Sporting, convocado para o Mundial 2002 e transferido para o Newcastle por 12,5 milhões de euros (transformando-se no jogador mais caro com a sua idade na história do futebol mundial).

O percurso de Hugo Viana deixou-me convencido (eu tinha apenas 17 anos) que a formação era o melhor caminho. O aparecimento do jovem Cristiano Ronaldo, na pré-epoca 2002/2003, apenas veio fortalecer essa convicção.

Passado um ano, após inauguração do novo Estádio de Alvalade, o prodígio madeirense foi transferido para o Manchester United, transformando-se no melhor jogador da história.

Antes da transferência de CR7, assisti ao vivo, em Maio de 2003, à vitória de Portugal, frente a Espanha (de Adán e David Silva) no Europeu Sub 17, disputado em Viseu, com a presença dos leões Mário Felgueiras, Miguel Veloso, João Moutinho, e Carlos Saleiro. Acompanhar as seleções, quando se deslocavam ao meu distrito, sempre foi uma pretensão, mas o Europeu foi especial, pois estava cada vez mais convicto da importância da formação.

Nesse mesmo ano, em Outubro, deixei o meu distrito para ir estudar para a cidade dos estudantes. Durante o curso, não deixei cair a paixão pelo futebol de formação, pois aumentou a possibilidade de assistir a mais jogos dos mais jovens.

Em 2006, comecei a fazer uma base de dados com todos os jogadores da formação do Sporting, desde o escalão de Iniciados à equipa principal.

Ainda em 2006, tive influência na contratação de um jogador da formação do Boavista para o clube da minha terra (disputava a II Divisão B), que passado um ano regressou ao Bessa e chegou à Seleção Sub 21. 

Em 2007, tive preponderância na contratação de um jogador da formação do VSC, igualmente para o clube da minha terra. Durante esse ano chegou à Seleção Nacional Sub 20, despertando interesse de Nacional, Braga e SL Benfica. Assinou pelos madeirenses por 5 anos, com uma remuneração fantástica para um jovem da sua idade.

Ambos os jogadores fizeram belas carreiras e ainda hoje jogam, com 36 e 35 anos, na Liga 3 e II Liga respetivamente, sendo os capitães de equipa.

Nos anos seguintes, fui várias vezes consultado por dois treinadores com o curso de quarto nível da UEFA. Curiosamente desaconselhei a contratação de três jogadores da formação do Sporting (que acabaram por terminar a carreira precocemente).

Tendo terminado o curso em Coimbra, em 2007, passado poucos meses, fui trabalhar para a Região Oeste de Portugal, o que me permitiu adquirir muito conhecimento de futebol de formação, pela possibilidade de acompanhar as mais diversas equipas do Sporting, bem como as seleções nacionais jovens.

Com conhecimento de futebol de formação nacional, nomeadamente do Sporting das gerações de 82 até à fantástica geração de 88, foi a partir da geração de 89 que aprofundei mais conhecimento, por assistir ao vivo a um maior número de jogos. 

No sentido da estabilidade financeira, optei por apenas manter a paixão pelo futebol, investindo na minha carreira profissional.

Em 2012 decidi ir trabalhar para Lisboa, para estar mais perto do “meu” Sporting, evitar inúmeras viagens, adquirir a minha primeira Gamebox e estar mais perto de Alcochete.

Nesse ano, conheci a minha mulher que curiosamente tem um primo que jogou no Sporting até aos juniores, fazendo parte da geração de 88 (Rui Patrício, Daniel Carriço, João Gonçalves, João Martins, Fábio Paím…). Quando falámos dele, eu sabia melhor o seu percurso que a própria prima.

Ao longo dos anos, no âmbito da minha profissão, tenho-me cruzado com muita gente do mundo do futebol. Alguns ligados ao scouting e que ficaram admirados com os meus conhecimentos sobre a formação. Surgiram convites, mas a estabilidade da minha vida pessoal e profissional, foi sempre a prioridade. Mas tal, não me impediu de muitas “horas de jogo” dos Iniciados B à equipa principal. Poucos serão os que “gastam” mais horas do que eu. Mas talvez existam outros com mais “horas de Sporting”, pois continuo sem despender qualquer tempo com modalidades. 

Em 2018, criei conta no Twitter, durante muito tempo com a minha verdadeira identidade. Contudo, com a minha presença frequente nas bancadas de Alcochete, não me queria expor e criei o sporting_343.

Passado algum tempo, de um momento para o outro tinha convites para a elaboração de crónicas para A Tasca do Cherba e para marcar presença num Podcast do Sporting Táctico.

Ao longo destes anos de paixão pela formação, “sofri” muitas desilusões e frustrações, pois muitos jogadores não atingiram o nível que eu acreditava (Fábio Paim, Diogo Rosado, Diogo Tobias Figueiredo, Iuri Medeiros, Betinho, Joelson…).

Mas também tive vários casos em que a minha intuição estava certa (como os campeões europeus Rui Patrício, Adrien Silva, Cedric Soares, William Carvalho e João Mário). Ainda me lembro quando em 2017, no jogo de apresentação do Sporting contra o Mónaco, em que estava em campo Mbappé, com 19 anos, poucos dias antes da sua saída para o PSG, disse a quem estava a meu lado, que tínhamos na formação um “Mbappé”, de seu nome Rafael Leão e esse grande Sportinguista, com 50 anos de sócio, riu-se.  Agora imagine-se a desilusão que tive quando ele rescindiu, bem como quando Bruma forçou a saída ou Demiral foi vendido ao desbarato.

A chegada de Rúben Amorim fez-me acreditar que a aposta na formação que sempre defendi (alicerçada em jogadores experientes e de qualidade inequívoca), seria uma realidade e os primeiros meses confirmaram essa ideia. A alegria provocada pela conquista do título em 20/21, ficará na memória. O projeto estava consolidado e a formação estava incluída no mesmo.

Contudo, com o passar do tempo, provavelmente pela pressão das vitórias e os resultados mais desfavoráveis, a aposta da formação tem-se diluído, com vários jogadores a fazerem parte do plantel de forma fictícia.

Em momento algum a aposta na formação, tem de ultrapassar a importância dos resultados desportivos. O que me deixa desiludido é a forma como tem sido feita a gestão dos miúdos que “chegam à equipa principal”, cuja evolução não está a decorrer de forma condizente com o seu potencial, havendo casos de estagnação.  

O elevador A/B (com a paragem na equipa principal a limitar-se aos treinos), poderá prejudicar Afonso Moreira e João Muniz. Como tem prejudicado Essugo e Rodrigo Ribeiro e prejudicou Mateus Fernandes e Nazinho no ano passado. O único que se fixou foi Chermiti, que até vinha de uma paragem de 5 meses por pubalgia. Estreou-se num derby, sem qualquer minuto na época 22/23!

O tempo passa e ninguém dentro da estrutura questiona a importância de uma equipa B na segunda liga. Todos os jogadores mencionados, beneficiariam com a mesma. A subida à equipa principal aconteceria, quando os jogadores estivessem realmente preparados.

Para além dos miúdos da formação, facilitaria a integração de promessas recrutadas internacionalmente e a contratação das mesmas. Evitando assim situações de gestão errática, como a que se verificou com Fatawu, que apenas era lançado em situações desfavoráveis e contra adversários de elevado calibre.

Muitos destes miúdos fazem a semana de treinos com a equipa principal e chegam ao fim de semana e não têm competição, limitando a sua ação ao banco de suplentes. Ou então fazem um/ dois treinos com a equipa B e jogam na Liga 3, num sistema tático diferente daquele que treinam na maioria do seu ciclo de treinos. Algo que tem influência no rendimento, mas que se continua a ignorar na academia, nomeadamente por Cellikaya que está a cumprir a quarta época na equipa B e ainda não decidiu colocar a mesma a jogar com a disposição da equipa A.

Serei sempre defensor de que um jogador, tem de subir à equipa principal, se mostrar capacidade para tal e unicamente se for para ser aposta consistente. E isso não significa a titularidade. Mas também que não seja para convocatórias em jeito de visita de estudo ou prémio de mérito.

Nos escalões mais jovens, a gestão do Modelo Centrado no Jogador, também tem algumas inconsistências, semelhantes à gestão da equipa principal, apesar de melhorias em relação às épocas transatas.

Alguns estranham eu pedir Geovany Quenda na equipa B, mas também pedir (por exemplo) Pedro Sanca na equipa de Juniores. Tal acontece, pois devem ser atendidos os aspetos físicos, técnicos, táticos e psicológicos dos jogadores. Como tal um juvenil poderá estar preparado para a equipa B, mas um júnior de segundo ano, poderá ter de estar nos Sub 19, se não competir nos B ou Sub 23. Isso não tira valor ao jogador, mas sim respeita o seu grau de desenvolvimento. Por exemplo, Gonçalo Inácio e Geny Catamo, como juniores de segundo ano, disputaram campeonato nacional de juniores. 

Por mais evidentes que sejam os benefícios dos treinos, os jogadores precisam de competir. Não se aumenta a competitividade, a confiança e a “fome” dos jogadores, se não jogarem. Os benefícios fisiológicos da competição estão estudados cientificamente. Até jogadores como Nani, subiram diretamente dos juniores para equipa principal, no primeiro ano de sénior.  Mas claro que se os jogadores estiverem preparado para queimar etapas e forem utilizados nos escalões acima, esse é o cenário ideal. Mas se não estiverem a competir, queimar etapas, deixa de fazer sentido.  

Estes assuntos já os tinha abordado, mas houve um conjunto de situações recentes que me fizeram tomar uma decisão.

Na receção ao Arouca, Rúben Amorim após o golo do empate do Arouca, optou pela entrada de Eduardo Quaresma. Quando estava para entrar, o treinador voltou a chamá-lo, o jogador vestiu o colete, dirigiu-se para a zona de aquecimento, e em poucos segundo volta a ser chamado para ir a jogo. Esta situação foi percecionada por poucos e acredito que tenha trazido ansiedade extra para quem estava a estrear-se no campeonato. Tanto que aos 63 minutos (5 minutos depois de entrar em campo), já estava amarelado. Aos 68 minutos o Sporting fez o 2-1. Aos 80 e poucos minutos vi Neto a aquecer e disse ao meu companheiro e amigo de Gamebox, que se Amorim substituísse Quaresma me iria embora. Aos 87 minutos o Arouca ficou reduzido a 10 e no minuto seguinte Neto entrou para o lugar de Quaresma. Como sou um homem de palavra, abandonei Alvalade.

A substituição de Eduardo Quaresma foi algo que me incomodou e que tirou racionalidade.  Naquela substituição, para mim, não era só o Edu que estava a ser substituído, mas sim “toda a nossa formação”. Após a expulsão de Rafael Fernandes (curiosamente o suplente de Edu na nossa formação), no sentido de preservar o jogador, Ruben Amorim deveria ter cancelado a substituição, acreditando que tal não iria condicionar a vitória do Sporting, que obviamente é o mais importante.  

Mais recentemente, a ausência de Rodrigo Ribeiro e Afonso Moreira (estava apto e já tinha jogado pela equipa B frente à equipa principal, uma semana antes) dos convocados, frente a uma equipa do quinto escalão nacional, deixou-me dúvidas se a aposta na formação não passa de propaganda em vez de ser uma realidade. Se os jogadores não estão preparados para enfrentar o Ol. Moscavide, têm de estar fixos na equipa B.

Quanto à necessidade dos jogadores readquirirem o ritmo competitivo, imposto pela pausa das Seleções, deixo duas questões: “Será a intensidade de um jogo, contra uma equipa da distrital, superior a um treino de conjunto de uma equipa como o Sporting?”; “Se os jogadores que não competem nas pausas competitivas, precisam de ter minutos contra uma equipa da distrital, para estarem aptos frente ao Rakow e Boavista, vamos esperar que os miúdos que jogam na equipa principal, de dois em dois meses, tenham rendimento?”.

Assim, existe um conjunto de situações, que me deixam desagradado e desiludido, não querendo entrar num caminho de crítica fácil, o que para mim seria tóxico, pois poderia estar a influenciar negativamente a opinião dos sportinguistas.

A minha paixão pelo Sporting é demasiado grande e vai continuar igual, com presença constante em Alvalade e assídua em Alcochete. Apenas o sporting_343 deixa de comentar no Twitter e de fazer crónicas semanais para A Tasca do Cherba.

Espero ter contribuído para alguma paixão pelo futebol de formação, despedindo-me com aquele que é atualmente, o meu 11 favorito da formação (excluindo aqueles que já jogaram oficialmente pela equipa principal como Essugo, Esteves, Rodrigo Ribeiro e Afonso Moreira):

Diego Callai

Atanásio Cunha
Rafael Mota
João Muniz

Leonardo Barroso
Rafael Camacho
João Simões
Júlio Vieira

Geovany Quenda
Gabi Silva
Yanick Filipe

Saudações Leoninas,
Bruno

 

 

*”Crónicas para Formação Lovers é um espaço da autoria de sporting_343