Não foi bonito, mas foi o suficiente; não foi empolgante (e chegou a ser chato), mas foi mais do que justo. O Sporting venceu o Rakow por 2-1, ficou com a passagem à próxima fase da Liga Europa na mão, e conseguiu gerir alguns atletas a pensar no dérbi

Quando, ali por volta dos oito minutos, St Juste fez uma arrancada como todos sonhamos que St Juste faça arrancadas jogo após jogo, Alvalade empolgou-se.

O Sporting tinha entrado como lhe competia, a dominar o campeão polaco e a procurar os três pontos que, enquanto chutavam para o infinito as hipóteses do Rakow seguir em frente na Liga Europa, davam ao Sporting um importante balanço para conseguir precisamente o contrário.

A cavalgada do holandês, central com uma velocidade que daria uma incrível prova de 100 metros frente ao nosso querido Jeremy Mathieu, ainda deu direito a uma cueca daquelas que, na rua, nos faria pedir desculpa provocatória, antes do central com nome de medicamento para problemas cardíacos (Racovitan) abraçar Juste de uma forma tão ostensiva que até um dos irmãos Calheiro teria dificuldade em não assinalar penálti. Ainda assim, foram precisos dois minutos de assobios e uma ida ao VAR para o sr do apito assinalar o que eu tinha visto a 100 metros de distância.

1-0 (Pote, de penálti) e expulsão do central, numa espécie de momento kármico, como que a equilibrar as coisas depois de Gyokeres ter sido expulso na Polónia, aos sete minutos de jogo. A partir desse momento, a questão era se iríamos ter goleada ou gestão?

Com Pote ao lado de Bragança, com Trincão e Edwards a acelerar o jogo nas alas entre as quais se movia Paulinho, e com Gonçalo Inácio e St Juste quase a juntarem-se aos médios na tarefa de fazer circular a bola e encontrar espaços entre o bloco polaco (em vários momentos, o Sporting parecia ter Coates como único central, enquanto o Rakow já tinha trocado um avançado por, precisamente, um central, de forma a recompor a defesa), é verdade que o Sporting dominou e dominou e dominou, mas sempre num ritmo tranquilo, como que a poupar energia. E o jogo foi-se tornando chato, até porque depois de um dia de trabalho quem está na bancada precisa de uns sobressaltos espantar a moleza.

Lá houve uma bomba do Nuno Santos por cima, depois veio Adán fazer uma finta temerária quando pressionado por um adversário, Trincão quase celebrou o golo que anda a merecer, enquanto Edwards fez uma das suas brincadeiras, junto à linha de fundo, mas perdeu-se na “garganeirice” de querer marcar sem ângulo, quando Paulinho estava isolado. O mesmo Edwards, a fechar o primeiro tempo, daria ao redes adversário a oportunidade de brilhar pela primeira vez, tudo isto com um rapazinho a destacar-se entre os verde e brancos: belo jogo de Daniel Bragança, dando sequência ao que havia feito frente ao Estrela.

O segundo tempo começou animado: Paulinho mostrou os dentes, mas o VAR disse que o tinha feito partindo de posição irregular; Edwards cruzou para a área e o VAR viu a mão marota do defesa polaco. Segundo penálti, segundo golo de Pote (com Edwards e Paulinho e pedirem para bater), ponto final da partida.

Começou a dança das substituições, com Amorim a tirar Pote, Inácio e Esgaio, para as entradas de Hjulmand, Matheus Reis e Fresneda (deixem o miúdo jogar, que nota-se claramente essa necessidade de ganhar confiança). Depois, St Juste e Edwards dariam lugar a Diomande e a Tiago Ferreira, e com tudo isto o jogo ficava ainda mais morninho, pese as tentativas de Trincão, uma a rasar o poste, outra defendida com os pés.

Tão morninho estava, que os Leões ficaram todos a bocejar quando os polacos marcaram um livre de forma rápida, dando origem a um remate que Adán defendeu, e a uma recarga para a qual todos ficaram a olhar. Ora, a vinte minutos do fim, o Sporting resolvia dar vida a um adversário que, também ele, parecia aconchegado num jogo decidido.

Bragança, tantas vezes acusado de ser “mole”, era o dinamizador da equipa, primeiro aproveitando um cruzamento de Fresneda para quase voltar a marcar (bola cortada por uma defesa quando já ia lá para dentro), depois rematando de primeira por cima, por último oferecendo a defesa da noite ao redes polaco.

Sem fazer o 3-1, o Sporting acabou a desconfiar de si próprio e da sua capacidade de segurar a vantagem, oferecendo uns irritantes seis minutos de compensação em que os dez polacos andaram por perto da nossa área demasiado tempo. Mas, como canta Carlão, um dos lampiões mais porreiros que conheço, há coisas que tendem a irritar-nos, mas, se formos a ver bem, não merecem que desperdicemos assim tanta energia com elas.

O jogo de ontem é um exemplo disso mesmo. Não foi bonito, mas foi o suficiente; não foi empolgante (e chegou a ser chato), mas foi mais do que justo. O Sporting venceu o Rakow por 2-1, ficou com a passagem à próxima fase da Liga Europa na mão, e conseguiu gerir alguns atletas a pensar no dérbi que pode embalar-nos para o título.

Eu só quero tar tranquilo, rodeado de algumas coisasQue preciso para ter a minha pazPra quê andar atrás daquilo que não controloQuando na verdade o essêncial satisfaz