O Sporting ainda está para perceber como foi possível perder, o Braga já marcou excursão ao Bom Jesus, para agradecer o amparo numa noite em que merecia ser goleado e acabou a celebrar a passagem à final da Taça da Liga 

 

Olhando para os onzes iniciais, ficava relativamente claro: Amorim tinha Pote disponível, mas mantinha-o no meio campo, juntando Edwards a Trincão e Gyokeres na frente; Artur Jorge abdicava de referências ofensivas e apostava num ataque móvel, com Djaló e Horta, numa clara perspectiva de baixar as linhas para não dar profundidade a Gyokeres, apostando nas transições para chegar à nossa baliza.

Na prática, confirmou-se a teoria: um Braga enfiado no seu meio campo, a jogar pequeno, pequenino, incapaz de ter bola, incapaz de sair a jogar, despejando bolas na frente para respirar, fazendo tantas faltas e queimando tanto tempo (só em pontapés de baliza…) quanto Nuno Ferrari permitia; um Sporting a carregar e a desperdiçar, a desperdiçar, a desperdiçar.

O primeiro bruá, pouco depois dos dez minutos, deu o mote para o que se seguiria: Pote, fazendo provavelmente a melhor exibição da época, arrancou uma bomba do meio da rua que esbarrou com estrondo no poste do batidíssimo  Matheus.

Foi o redes a negar a oportunidade seguinte, num remate de Trincão após grande jogada colectiva, com a recarga do inenarrável Esgaio a acertar em cheio no lombo de um adversário. Pote rematava ao lado, Nuno Santos rematava cruzado, também ao lado, antes de encher o pé, num remate de ressaca, para uma das defesas do ano desviando a bola para o estrondo na barra! Depois, Quaresma, rodopiando como Zidane, transformando um central num criativo que queimava linhas e rematava cruzado para mais mãos na cabeça (grande jogo do Edu e do Inácio). A fechar, a nova candidatura de Nuno Santos ao prémio Puskas, numa trivela artística que acabou no poste. Inacreditável.

Ao intervalo, os 62% de posse de bola e os 11 remates leoninos encontravam um rotundo zero do lado adversário, mas… zero era também o que assinalava o marcador, algo que se manteve no recomeço. Gyokeres foi por ali fora como só ele sabe ir, mas a puta da bola teimou em passar um palmo para o lado errado. O sueco teve, logo a seguir, um momento de altruísmo, tentando deixar de calcanhar aquilo que normalmente costuma rematar, antes de Pote combinar com Trincão e ficar na tromba do redes, acabando a rematar ao lado! Não, não acabou, porque o deus do trovão acelerou pela direita e cruzou direitinho para o lado contrário, pedindo a entrada em fúria de Nuno Santos, mas a bomba foi com tanta raiva que acabou no País de Gales!

Se vocês sentem desespero ao ler isto, imaginem o que eu sinto ao escrevê-lo, depois de tê-lo visto ao vivo… depois… bem, depois, mais de uma hora após a partida ter começado, o Braga resolveu chegar à baliza do Sporting, e marcou, pelo entrado Ruiz.

E se há muito que não via o Braga ser feito chinelo velho como foi feito durante mais de uma hora, também há muito não via os jogadores do Sporting acusarem tanto um golo como acusaram este, incrédulos perante a partida que os deuses do futebol estavam a pregar-lhes. O espírito manteve-se, mas o discernimento foi-se, e quase que o 0-2 era oferecido numa trapalhada de Israel, que acabaria por brilhar quando o Braga teve a sua segunda oportunidade de golo.

No final, O Sporting ainda está para perceber como foi possível perder, o Braga já marcou excursão ao Bom Jesus, para agradecer o amparo numa noite em que merecia ser goleado e acabou a celebrar a passagem à final da Taça da Liga. E eu? Eu fiquei à espera que a equipa viesse agradecer à bancada que não se calou um minuto que fosse, aplaudindo quem deixou a camisola alagada e fez tudo para golear o adversário, menos meter a bola na baliza. Há noites assim e, a tê-la, que tenha sido na Taça da Liga que o Sporting visitou a terra do desperdício na época 23/24.