Custa-me sempre muito contar uma historia pelo fim. Hoje, claro, no ritmo rápido e onde o rigor pouco importa, torna-se numa ferramenta de propaganda. Neste espaço, que o Cherba me empresta, a desonestidade não tem tolerância. Por isso, aqui vamos.

O voleibol feminino do Sporting CP nasce pela mão do treinador Rui Costa. Ponto. Nos pavilhões frios de Lisboa, andava uma equipa a treinar e jogar de borla, longe dos holofotes que tinha a equipa masculina da altura. (E tudo bem! Vibrei muito nesse ano). Foi assim desenhado o projeto. Passo a passo, subiram de divisão e recrutando grandes talentos do nosso voleibol. Na segunda divisão chegava a Daniela (internacional portuguesa) e a Fernanda (ainda hoje titular do SL Benfica). No primeiro ano na liga principal chegava a Couto (my first love) e Bruninha. E os anos subsequentes foram trazendo nomes e mais nomes onde o maior deles todos é, evidentemente, a brilhante Ozge Kirdar.

Desde os anos de amadorismo até ao profissionalismo, há um denominador comum chamado Rui Costa. (O Lúcio e a Sofia que me desculpem, mas hoje vou por aqui). Quando uma pessoa se estende no tempo há um de dois motivos, ou é ditador ou é competente. Aqui parece óbvio. 

Sempre se destacou por dois motivos:

– defesa acérrima e feroz ao voleibol feminino e das mulheres. Lutando e reclamando publicamente os mesmos direitos e oportunidades. Um dos maiores exemplos foi a introdução do árbitro de linha nos jogos do feminino. 

– Espírito leonino a sair pelos poros de cada atleta que vestia a nossa camisola. Um fervor e responsabilização de tal ordem que criou uma sinergia (quase) perfeita entre equipa e adeptos.

As suas conferências de imprensas são a forma que temos de o entender. Fala claro e de maneira a toda a gente entender. Puxa a si a responsabilidade total em casos de fracasso, dando a cara por tudo (parece o Amorim, certo?). Só este ano já tivemos o caso das atletas que ficaram “presas” da Sérvia, o voo com 30 escalas para fazer Belgrado – Lisboa ou a saída de uma equipa profissional do Sporting CP para Guimarães de madrugada para ter jogo depois de almoço. 

Mais! O mundo do voleibol é tão pequeno e o Sporting CP ainda mais é, que podemos até fazer contas. Sabe-se tudo, por isso também se sabe das dificuldades anuais em ter orçamento para lutar pelo título, exigência normal no nosso clube. Este ano fica latente mais uma vez a diferença entre o FC Porto (orçamento 800k€ a 1M€) ou SL Benfica (400k€ e 600k€). Assumindo o nosso entre 200k€ e 300k€ se percebe que tanto o Vitória SC como o Porto Volei devem apresentar valores idênticos. No entanto, pela geografia do capital humano, faz-se mais com menos dinheiro a Norte porque a deslocalização de um atleta é dispendiosa, como é fácil de perceber. Como exemplo, se o Sporting CP contratasse a Victoria e a Holt teria um custo de 1/3 do seu orçamento em apenas duas atletas. Impossível claro está.

 

Se virmos todos os casos anuais que existem e não lhes dermos contexto ou os olharmos isoladamente, podemos menosprezá-los. Se os virmos como um saco que acumula merdas, temos um caos. 

Há aqui um engodilho que até se vê pelo facto de quase todas (ou todas mesmo) equipas de pavilhão terem recebido reforços agora em janeiro excepto… Mesmo percebendo que estamos mancos na posição de central, não houve reação.

Portanto, chegamos a fevereiro com o treinador Rui Costa numa situação sensível, numa época que já começou torta com uma derrota com o Leixões SC (relembro que nenhum dirigente esteve nessa final de supertaça). Utilizo esta palavra, sensível, porque na flash do Vitória SC ouvimos um pequeno suspiro (interpretei eu) sobre a forma como é gerido o voleibol feminino. (Alguma verdade há-de ser porque, já este ano, o diretor que colocou ordem na secção bateu com a porta por desacordo com donos das modalidades). E, no jogo da semana passada, tivemos PELA PRIMEIRA VEZ DE SEMPRE um lamento em relação à postura das jogadoras. No último jogo, estava eu com o Hugo e a Joana no pavilhão, e até fiz um comentário (se for mentira que eles digam): “Eu estou a festejar mais que elas, parece que até quero mais”;

Eu gosto de atletas, aceito que lhes podemos chamar ídolos quando há realmente A SINERGIA PERFEITA. Acontece que o seu espaço só existe até o quererem mesmo. Quando deixam de desejar estar no Sporting CP passam a ser indiferentes. Sem narcisismos digo que o Sporting CP é um ponto alto de carreira e há barcos que só passam uma vez. Não há “us” sem sportinguistas, nem “amazing” sem PJR a fervilhar de emoção nas bancadas.

No sábado falou de nós, disse que o “Sporting CP é feito de pessoas, de adeptos e às vezes esquecemo-nos que isso existe. Nós só jogamos porque há muitas pessoas que gostam do Sporting CP e elas vêm aos nossos jogos. Peço que continuem a vir porque nós vamos continuar a lutar”. Com a eloquência habitual disse o que mais ninguém diz, nem o departamento “tik tok” de comunicação. 

Em resumo, parece-me evidente que o querem mandar embora, mas ele insiste em aparecer qual fénix.  Lê-se fim de ciclo por aí e, sabem que mais, parece-me que pode ser mesmo. Quando se fica só contra o mundo, ou se desiste ou vira-se super homem. Eu como não acredito em super heróis, parece-me melhor que se salvaguarde porque JÁ FEZ HISTÓRIA NO SEU CLUBE DE CORAÇÃO, vencendo a taça de Portugal contra todas as probabilidades. 

O treinador Rui Costa está só e só há dois grupos de pessoas capazes de o dignificar: ADEPTOS e as atletas. As atletas têm as próximas semanas para responder se será como este fim de semana. A minha parte está escrita no título deste Bonito Serviço:

Não cairá sozinho. Seremos cinco, pelo menos, contei eu.

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.