Com a cabeça em Arouca e as pernas cansadas, o Sporting contou com a ajuda dos postes para empatar 1-1 e sair vivo da primeira mão dos quartos da Liga Europa, frente a uma Atalanta que confirmou ser um dos piores adversários que nos podia ter calhado 

 

“Obviamente que a questão física preocupa, a equipa sente muito. E uma coisa são ciclos de três dias entre jogos, outra são dois dias, mesmo rolando sente-se a equipa cansada. Mas estamos nas competições todas, o que estamos a fazer é rodar toda a gente, jogar toda a gente. Hoje no jogo senti que era mais sobreviver do que jogar e dividir a eliminatória”.

No final, Rúben Amorim não podia ter sido mais transparente, não escondendo aqui que tem sido visível: os melhores têm jogado quase sempre e estão completamente esticados, por isso, e porque é para isso que serve um plantel, joga quem não tem as pernas à beira da falência.

Por isso jogou Koba, uma estreia a titular para dar descanso a Hjulmand. Por isso jogou Paulinho, para dar descanso a Gyokeres. Por isso Pote nem no banco esteve, deixando as despesas das alas para Edwards e para Trincão. Porque, parece-me, a estratégia era clara: recuperar fisicamente jogadores, não perder nenhum para a visita a Arouca, e tentar manter a eliminatória em aberto para a visita a Itália.

No fundo, o Sporting jogava os quartos de final da LE, sabendo que, no domingo, tem uma final em Arouca, e neste momento pouco importa berrar que o plantel é desequilibrado, que falta uma opção para aqui e outra para ali. São estes que terão que lutar por nós dentro de campo!

E lutaram, obviamente que sim, começando bem na tarefa de trazer a Atalanta para o nosso meio campo, de forma a tentar desmontar a teia em que os italianos se movimentam de olhos fechados (é uma equipa de autor, não é à toa que Amorim diz que, ao fim de quatro anos, sente que esta é a sua melhor versão do Sporting). Quando o conseguiu, Trincão teve todo o espaço do mundo e meteu redonda para uma surpreendente velocidade de Paulinho, que embalou quase meio campo para marcar um golo à Gyokeres!

O Sporting tinha entrado bem, e aqueles primeiros 20 minutos, com uma jogada de craque de Edwards pelo meio, não faziam prever o que se seguiria, a partir do momento em que a Atalanta assentou o seu futebol, prendeu os movimentos do incrível samurai Morita (joga tanto), deixou de dar espaço às mudanças de direcção de Koba (muito interessante, enquanto esteve ligado), e foi metendo o Sporting cada vez mais lá atrás, com uma pressão a todo o campo, homem a homem, que transformou o resto do primeiro tempo num tormento. Valeram os postes, por duas vezes, e o jovem Israel, que na baliza ia safando o que podia (enorme defesa, a negar o segundo a Scamacca), pese a dificuldade em controlar a profundidade e saber quando deve estar mais subido para jogar como uma espécie de libero.

Foi dessa falta de calo que nasceu o golo do empate, depois de um passe meio à queima de Quaresma a que o redes demorou a reagir. 1-1, com toda a justiça.

Ao intervalo, Amorim lançou St Juste, Hjulmand e Gyokeres para os lugares de Diomande, Koba e Edwards, mas o jogo pouco mudou, com o Sporting a ter enormes dificuldades em chegar à área adversária e sempre com aquele sentimento de que, quando apertava, a Atalanta estava perto de fazer o 1-2 (esteve quase a fazê-lo, por Lookman, numa jogada individual brutal, e quase a terminar, na sequência de uma bola parada), ao que o Sporting respondeu com uma arrancada de Geny, que rematou em vez de colocar no isolado Gyokeres, e com uma cabeçada de Coates ao poste.

Dentro de uma semana há mais, em Bérgamo, e a verdade é que o Sporting viaja para Itália com tudo em aberto, depois de se ter agarrado à vontade de sobreviver. Pedir mais, neste momento, é uma utopia.