É tempo de falar da saída do treinador Rui Costa, daqui em diante designado apenas por Rui.

Há algumas semanas escrevi sobre o momento que atravessava onde, intuía, que fosse um fim de ciclo. Não por vontade minha, mas porque os ventos pareciam soprar desse jeito. Parece que a coisa deu-se mesmo e, pelo seu próprio pé, como fazem os homens (não os ratos) anunciou que deixava de ser treinador do Sporting CP a partir desta época. A perfeição não existe e houve momentos em que a equipa ficou aquém das expetativas (se calhar dele próprio também). Apesar disso, o balanço é extremamente fantástico.

Para mim é uma grande tristeza porque os 7 anos dele no Sporting CP, são os mesmos que tenho aqui na Tasca (para completar o ramalhete contemporâneo devo escrever também os nomes do Lúcio Loureiro e da Sofia Reigoto). Vi, como todos os tasqueiros, o crescimento do voleibol feminino para patamares onde nenhuma outra equipa feminina de pavilhão do Sporting CP já esteve, seja em adeptos na bancada, interesse comercial, audiência digital, profissionalismo… Uma obra bonita que o Rui fez questão (e bem) de referir. 

Ganhou bastante, num caminho de crescimento. O campeonato nacional da 3ª e 2ª divisão, as taças da Federação e a Taça de Portugal. Também o voleibol feminino se fez notar com os prémios Stromp da Fernanda Silva (ainda na 2ª divisão), da Sofia Reigoto ou Daniela Silva, ou pelos seus prémios individuais do Rugido de Leão ou o prémio de ‘Treinador do Ano’, troféu atribuído pela Associação Nacional de Treinadores. Apesar de tudo o que fez, claro que toda a gente ainda queria ganhar o campeonato nacional e encher completamente o PJR. Esteve quase a cumprir ambas! Faltou o quase, infelizmente. 

Para além de tudo o disse, que já resume bem, queria complementar com 2 pontos de encerramento da sua passagem:

Carisma
Realmente é um treinador acarinhado por muitos sportinguistas. Acontece a quem tem carisma! Falou-nos sempre com clareza e frontalidade. Sempre assumindo as fraquezas, foi dizendo o que achava. Pelo que se percebe, não pactua com papagaios, por isso torna mais difícil a vida de uns quantos, sejam eles internos ou externos. É divertido ver que a quase regra de sair do Sporting CP a mal (parece até uma necessidade) não se está a aplicar neste caso. Felizmente ainda há memória. 

Melhorou o voleibol feminino
Tantas vezes que defendeu o voleibol feminino! Seja o exagerado número de jogos no campeonato num curto espaço de tempo, seja a falta de árbitros de linha, seja o excesso de público no tempo do covid, seja as horas dos jogos da final 4 da taça, seja seja seja. Se as coisas estão melhores foi porque, muitas vezes sozinho, dizia publicamente o que era necessário mudar. Contra uma Federação viciada e monárquica defendeu mais do que apenas os interesses do seu Sporting CP. 

Após o anúncio da saída notou-se estar praticamente só. Apenas eu, através do Twitter, dei eco às suas palavras. Nem atletas, nem Sporting TV, ninguém! Até o Porto Canal, em pavilhão adversário, no espaço na flash interview, quis dar eco a esta saída mostrando-se respeitosos pelo trabalho desenvolvido pelo Rui. No Sporting CP há medos escondidos e respeitos esquecidos. Há aí umas fracos(as) que vão dormir um bocadinho pior de noite pelo que andaram a cozinhar durante a época como, por exemplo, patrocínios boicotados para contratações. 

Para terminar, digo-vos que a sua maior conquista ele não sabe que a teve – o meu primeiro jogo ao vivo do Sporting CP com o meu filhote foi de voleibol feminino. Agradeço, em meu nome, tudo o que fez pelo Sporting CP e pelo voleibol feminino. Fiz muitos amigos à pala das suas equipas. Foi um prazer, Rui!