Aqui estou Manuel Acácio para um balanço desta primeira fase da época. O meu olhar sobre os primeiros meses deste novo voleibol feminino do Sporting CP.

Para isso vou começar pelo princípio. Como todas as histórias de “era uma vez”, esta crónica também se cola ao sonho. Era uma vez um adepto que se emociona de orgulho quando vê a Daniela Loureiro a jogar. Como diz o título, o (meu) orgulho tem mesmo nome próprio (Daniela) e apelido (Loureiro). A melhor líbero nacional que teima em não deixar que ninguém, nem mesmo a idade, se intrometa nos seus objetivos, que são também os nossos. O destaque destes primeiros meses da época é dela pela qualidade que tem demonstrado. Continua a ser a máior (ler com sotaque do Porto) para mim. Escolhi a sua foto como ilustração, precisamente porque não há sucesso sem liderança, não há vitórias sem qualidade, não há Sporting CP sem Danielas.

Sendo a Daniela o meu destaque, a verdade é que a equipa tem estado muito bem. Um primeiro lugar assenta sempre bem ao Sporting CP, seja em que modalidade for. Apesar da época ainda ser longa, estes indicadores colocam-nos como candidatos ao título. Não sou hipócrita ao dizer que esperava porque é mentira. Vou passar-vos todo o meu raciocínio em relação a isso em 4 pontos:

Ponto 1:
Quando vi o plantel comecei por ficar surpreendido com a vinda da Maria Carlos, líbero titular do Vitória SC. Quando se faz um tipo de contratação deste género, levando até a uma deslocalização da pessoa, é porque não se confia em quem está. Acho a Maria Carlos uma boa jogadora, fez-nos a vida negra por diversas vezes, chegou-me até que era leoa. Também me dá a sensação que havia intenção, por parte do treinador Rui Silva, em fazer uma troca na posição. Isto é um risco grave, especialmente quando ESTA capitã é a alma. Verdade é uma, (A) ou a Daniela “não deixou” ou (B) eu estou enganado. Bloqueio a opção A. 

Ponto 2:
Quando não se contrata uma segunda distribuidora com qualidade acaba-se por se ficar refém da falta de rotação e do cansaço. Já aconteceu numa época anterior com a Margarida (longe da qualidade da Carrijo), por isso é um filme conhecido. Com o jogo do troféu Stromp e vendo os jogos seguintes, confirma-se que a Paquete (quando não está lesionada) pouca contou e pouco contará, seja por falta de acompanhante ou por falta de vontade técnica. Parece-me que o treinador está longe de confiar nela.

Ponto 3:
A escolha das centrais foi evidentemente ao lado, tendo de ser ajustada (de forma caríssima) com a muito boa Saška Đurović. A Mimosa e a Angie dificilmente seriam opção, por isso nem entendi bem o motivo da sua vinda. 

Ponto 4:
Por último, percebi (e confirmou-se) que há um núcleo muito fechado de atletas que são aposta e garantem aquilo que o treinador entendeu ser o melhor para o Sporting CP. São 6 e jogam estas. Há riscos e seguranças numa aposta deste género e as contas fazem-se no fim. 

Por aquilo que disse, a minha expectativa para este ano aponta para um 5º lugar. Independentemente da interpretação que fazem do que escrevi até agora, eu vou ser ainda mais objetivo e concreto para não se falar de viuvez. O treinador Rui Silva sentou-se ao lado do José Carlos Reis no PJR, ainda o treinador Rui Costa estava em funções, imediatamente antes do jogo de voleibol feminino. A mim ensinaram-me princípios e valores que não se encaixam com estes comportamentos e isso molda-me a opinião.

Apesar do que escrevi, a equipa tem imenso mérito no seu trajeto com os reforços a serem isso mesmo:

– Sara era a oposta que se esperou tanto tempo. Consistente, efetiva, potente, inteligente. Garante um ponto seguro à distribuição, fechando pontos com a facilidade com que o Tiago come amendoins. 

– Verásio é a revelação. Lembro-me do trabalho que ela dava com o seu serviço no K à nossa Bruzza (que recebe muito bem). Veio ter ao Sporting CP e é com grande alegria que a vejo. Algumas questões na recepção, mas potente no serviço e ataque. Merece o destaque!

– Leslie e Jéssica têm demonstrado que gostam de estar no Sporting CP. Especialmente a Jéssica que demorou a ter tempo de jogo, mas que foi transmitindo uma grande energia positiva e alegria contagiante. Já a acompanho desde o defunto CD Aves e a sua evolução é notável. A Leslie foi uma aposta ganha pelo CD Fiães e tem sido a mesma no Sporting CP. Potentíssima no ataque, dando uma opção, muitas vezes segura, para ponto. Belíssima jogadora.

– Durovic joga muito. Belo scouting! Quando há dinheiro há vícios. O orçamento extra valeu a pena e a nossa função como adeptos é apreciar a qualidade da jogadora e festejar os seus inúmeros pontos. Felizmente, tornou-se num belo upgrade àquela Jady de Janeiro a Abril de 2024. 

– Maria Carlos é uma referência do voleibol nacional pelo caminho que nos ofereceu durante a sua carreira. Não conheço ninguém que não goste dela. Eu não sou excepção. O timing da sua vinda não acho extraordinário e é só isso que questiono. Em termos de jogo, tem oferecido a possibilidade de substituição para segurar a recepção (quando não é segunda líbero) e isso tem-se revelado bom e oportuno. 

Por fim:

Amanda e Ozzy. A Amandinha já não é ‘inha, cresceu. Tanto escrevi sobre o potencial que agora já é uma certeza. Titular no Sporting, titular na Seleção e a desejada (secretamente) pelo Francisco para o seu FC Porto. É uma satisfação de encher o coração ter acompanhado este caminho. Parabéns Amanda! A Ozzy é o voleibol quando está em campo. Faz, mexe, ri, chora, cria, descria, serve, passa, bloca, defende, grita, fala baixo, mete intensidade, tira intensidade… tasqueiros, a Ozzy é voleibol. Já agora, no voleibol do Sporting CP, só houve dois: ela e o Dennis. 

Começo agora as minhas despedidas deste ano de 2024, querendo regressar, pontualmente, à escrita em 2025, claro. A vida muda, os caminhos seguem e as prioridades ajustam-se.

Continuo a ver o voleibol do Sporting CP, apesar da alegria já não ser a mesma. Citando Clovis de Barros, digo que “a felicidade não é só o instante de alegria que queremos repetir sozinhos, ela é partilhada, em especial com as pessoas que gostamos. A felicidade é para ser vivida junto. A partilha é um ingrediente fundamental para uma vida feliz.” Com apenas 200 pessoas no último jogo, parece-me que não penso assim sozinho. As finais e os derbys é uma conversa diferente, aí vêm todos e mais lugares existissem.

Vou demorar a ganhar a felicidade de antigamente porque foi um amor muito intenso. A paixão pela Bruzza, Aline, Jady, Daniela, Vanessa, Amanda, Carolina, Ju, Bruna, Ana, Lúcio, Rui, Ricardo, Tiago, José, Maria, Cheila, Joana, Nando, Hugo… foi tudo tão forte que a continuidade da “relação” pedia outra forma de estar. As vitórias mascaram qualquer coisa e uma conquista do campeonato possivelmente curará mais um pouco (imagino eu). O Sporting CP sempre foi e será dos seus adeptos, da sua intensidade, da sua alegria, da sua pertença, da sua dedicação. Festejarei SEMPRE todas as vitórias do meu clube. Já o apoio muito antes de muitos dos que lá estão agora pensarem em representá-lo. Estragaram o voleibol masculino, vamos ver se fazem o mesmo ao feminino. 

Saudações Leoninas e força Sporting CP.

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.