Foi sofrido. Não propriamente por culpa do Moreirense, que só conseguiu criar perigo em dois livres directos, um a passar perto do poste, outro a obrigar Patrício à única defesa do jogo, antes por aquela sensação de que, pese a segurança como a equipa leonina defendia, alguma partida do destino podia deitar tudo a perder.

Mas nada fazia prever esse roer de unhas e essa inquietação que complica os nervos a qualquer Leão. O Sporting entrou bem, com a defesa colada ao meio-campo e o meio-campo a empurrar a equipa para a frente. William e Adrien agarravam todo o miolo, com o capitão a ser o primeiro homem de pressão, lá bem acima, ao nível de Ruiz e João Mário, esta noite mais esforçados do que inspirados (como quase toda a equipa). E após algumas vagas de ataque o golo acabou de surgir: momento de gala numa noite de operários, com Teo a fazer uma picadinha para a subida de Schelotto (a redimir-se do jogo passado) e este de primeira a colocar nos pés do homem golo, Slimani. As dúvidas em relação ao posicionamento do argelino são tantas que em a televisão consegue dissipar, mas, obviamente, como o golo favorece o Sporting, a comunicação social cá do burgo vai berrar que o golo foi fora de jogo ao invés de sublinhar que o árbitro auxiliar fez o que dizem as regras: em caso de dúvida deve beneficiar-se o ataque.

E esses mesmos veículos de propaganda irão bater palminhas à decisão de anular o golo de Teo, mesmo em cima do intervalo, num lance em que o colombiano parece em jogo, mas que, uma vez mais, é muito complicado de analisar. Desta vez o ataque não foi beneficiado e, já depois dos tais dois livres do Moreirense, de uma arrancada mal concluída por João Mário e de um cruzamento para Teo que levou a altura da cabeça de Slimani, as equipas recolheram aos balneários com aquele 0-1 no marcador.

Numa noite de irritante chuva, num campo de medidas muito próprias, frente a um adversário que baixava tanto o bloco que o meio campo e a defesa se confundiam só para, depois, poder mandar umas traulitadas na bola para a corrida de dois catrapilas na alas, a segunda parte confirmaria um Leão com muita vontade de trabalhar, mas sem inspiração para bailar. Bruno Paixão ia descarregando amarelos a torto e a direito (Slimani, o único em risco de ficar de fora, foi dos poucos a escapar) e tornava o jogo ainda mais penoso do que ele já estava. Coates limpava toda e qualquer tentativa de contra ataque (impressionante a passada do uruguaio, permitindo-lhe recuperar metros de terreno quando os adversários têm arranques mais rápidos), Jorge Jesus ficava a olhar para o palerma do apito e a fazer contas de cabeça: já foi mais vezes expulso em dez meses de Rampante do que em seis anos de milhafre. E foi já do camarote que o técnico haveria de mandar entrar Gelson para o lugar de Ruiz. O jovem extremo haveria de tentar agitar o longo bocejo que estava o jogo, mas o seu remate cortado, em arco, vez questão de desviar-se uns 30 cms do golo.

E a propósito de golos, ficamos nós, sportinguistas, a maldizer o facto de não termos acrescentado mais uma goleada ao campeonato. Mas, pensando bem, quem disse que para ganhar é preciso golear? Sim, é verdade que foi sofrido. Não propriamente por culpa do Moreirense, antes por aquela sensação de que, pese a segurança como a nossa equipa geria o jogo, alguma partida do destino podia deitar tudo a perder. Não aconteceu, o Sporting venceu, vai batendo recordes estatísticos e alojou-se no primeiro lugar. Para a semana há nova enchente em Alvalade, aconteça o que acontecer até ao final da jornada.