É unânime o salto qualitativo que a nossa equipa de futebol profissional deu este ano. Mais 10 pontos conquistados, mais 12 golos marcados, menos 8 golos sofridos e sobretudo uma qualidade de jogo que empolga os adeptos. Este Sporting venceu as partidas pelo domínio e não por circunstâncias tácticas ou rasgos pontuais. Jogou “à grande” e com mais autoridade até que os seus maiores rivais. Disputámos o título, não o vencemos, mas confesso que me custa colocar o rótulo de “não vencedora” a um equipa que perdeu 2 jogos que não merecia e empatou 5 tendo feito mais que o suficiente para os vencer. Gostava por exemplo de saber qual foi a última equipa campeã que venceu todas as partidas no terreno dos 9 primeiros classificados. É cruel e quase ilógico, mas apesar de tudo o que estes jogadores fizeram, não foram campeões. As razões que levaram outra equipa a fazer um registo ainda melhor, são complexas e pouco contarão na avaliação da nossa. Não foram de certeza absoluta encontradas no terreno de jogo e mesmo com a derrota no último derby, 3 pontos não justificam a forma como se disputaram os restantes 99. Os campeões deste ano são o retrato de como se pode vencer a Liga Portuguesa, não sendo a melhor equipa, mas tendo, sem dúvida nenhuma, a simpatia de tudo o que rodeia e arbitra o próprio jogo.

Mas, apesar da qualidade, apesar dos bons resultados, não resta ao Sporting outra solução que não o caminho da melhoria. Carpir as injustiças não levará a mais do que ao afunilamento do que podemos fazer e a colocar um excesso de energia nas declarações, nas polémicas, nas guerrilhas por cadeiras e processos de tribunal. Não, o foco deve ser a melhoria das condições de treino, do estado do relvado, na construção de um plantel ainda mais forte, na manutenção de JJ e na continuidade do seu trabalho. Estas são as 4 áreas que o Sporting deve dedicar 95% do seu empenho nos próximos dias, não dispersando a sua concentração na vaga de “bullshit” que já começou a dar à costa. Mais do que ceder à tentação de fazer justiça a esta equipa nesta época, o Sporting deve fazer isso mesmo focando de forma absoluta a próxima. O único prémio de consolação estará na construção de uma equipa melhor, que nos dê ainda melhores garantias de sucesso…e isso, acredito não vai ser fácil. Em ano de Europeu, montar equipas é um puzzle ainda maior que o habitual, a dúvida de quem sai estica-se para além do normal, a dúvida dos que compram espera pelos grandes certames para perder a cabeça, porque os que compram depois, compram mais caro, mas também compram o “fenómeno” e isso para Barcelonas, Real Madrids, Manchesters ou PSGs às vezes é decisivo.

Não sei se de facto iremos vender João Mário, Slimani ou outro qualquer. Mas sei que será difícil que todos continuem. E não vejamos isto como uma perda absoluta. Há forma de compensar o talento que sai e equipas como o Sporting quer ser, têm de se habituar a prescindir de alguns atletas quando os mesmos atingem o seu zénite de valor no mercado. Somos um futebol ainda marginal à Europa dos milionários e as nossas finanças não estão consolidadas ao ponto de poder recusar entradas imediatas de dezenas de milhões de euros por 1 jogador. Além disso, mandam as regras da boa gestão, que não seja apenas contemplada a preparação de curto prazo, o Sporting tem alguns problemas por resolver que podem ter implicações sérias na competitividade do clube a longo prazo…e algum do dinheiro que chegue deveria ser imediatamente empregue no fortalecimento da nossa Academia, que aguarda há muito tempo por um investimento quer em infraestruturas quer no reforço do quadro técnico. Olhar em frente não é só para o que está imediatamente à nossa frente, mais também pelo que parecendo longíquo não demorará a apresentar graves carências a nível estrutural.

Bruno de Carvalho já nos habituou a “trabalhos incansáveis” e o que se pede é mais ou menos, a repetição da receita. É evidente que o “sistema” não quer JJ no Sporting, receia-o mais do que tudo o resto. Alguns empresários tentarão o treinador com o melhor que consigam encontrar, acenando com o mesmo tipo de promessas que já lhe foram feitas no passado, a imprensa cuidará de alimentar cisões entre JJ e BdC com tudo o que conseguir inventar. O Benfica e o Porto ficariam felizes numa mudança do nosso treinador para a cidade invicta. O Porto porque finalmente teria um treinador a seguir a Mourinho e o Benfica porque poderia continuar a alimentar o ódio a JJ, reforçado com a “traição” ao Sporting. Até que o Porto anuncie treinador, o filme terá sessões diárias. Este e outros argumentos serão sistemáticos e cabe a esta Direcção avaliar o quanto deve responder à mesma. Por mim seria zero. Ou seja, concentração total na próxima época, concentração total na construção da equipa, respeito absoluto por tudo o que foi construído na época que agora acaba. No início das competições, no trabalho feito, aí estaríam as nossas respostas.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca