Dezanove de maio de 2013. Nenhum sportinguista se vai, alguma vez, esquecer deste dia. Terminava a época horribilis do Sporting e, para trás, ficavam Ricardo Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e Jesualdo Ferreira. Levámos com Pranjic, Boulahrouz, Joãozinho, Ventura, Xandão e Labyad – que dura e dura e dura –, Viola, Rubio e Jeffrén. 2013 foi também o ano da não resolução do contrato com o Bruma e da saída do Izmailov para o Porto. A época terminava com a pior classificação da história do Sporting, num sétimo lugar que nos colocou atrás de Paços de Ferreira, Braga, Estoril Praia e Rio Ave! Para além disso, o imbróglio com o BES, o aumento brutal do passivo, as comissões do Freitas e do Duque, e a pré-falência do Sporting à vista. Ficou, ainda, para a história recente, a transferência do Moutinho para o Porto, os quases do Paulo Bento, as fraquíssimas casas de Alvalade e a baixíssima entrada de novos sócios. Mais do que a falta de títulos, era o desnorte, a falta de ambição, o baixar de braços – sempre demasiado prematuro por força da realidade –, que fez os sportinguistas ter de suportar várias humilhações e paródias dos eternos rivais, particular incidência para as que vinham do outro lado da 2ª Circular.

Por entre uma eleição extremamente concorrida, e após uma primeira derrota eleitoral que só o foi por causa dum sistema eleitoral que praticamente impedia a ascensão de quem não fosse barão, ou visconde ou algo do género, fechando o clube sobre uma elite que se servia, em vez de servir, Bruno de Carvalho chega à liderança do Sporting. Desde então, Duque candidatou-se à Liga, aprovou-se o sorteio dos árbitros – para a seguir se voltar atrás miraculosamente –, Vítor Pereira permanece de pedra e cal à frente dos árbitros, um árbitro preside efetivamente à Liga, onde faltou a luz sobrou água na Luz, impediu-se a negociação centralizada de direitos televisivos, e os almoços “amigáveis” em dias de jogo sucedem-se. Por entre os pingos da chuva, o impoluto Vieira, o senhor altivo e insuspeito, foi apanhado a escolher árbitros, falou em Roubo nas primeiras páginas dos jornais, falava do “futebol que temos”, dizia que já havia “faixas encomendadas” a Norte, desculpava os erros do Roberto e a falta de pontos com as arbitragens e apontava baterias aos sócios e adeptos do clube «”Alguns senhores que estão a arbitrar perderam a vergonha toda”: “o que fizeram ao Rui Costa, ontem(sábado), foi um autêntico atentado ao futebol”, disse Vieira. Referindo-se às críticas vindas de sócios, indignou-se “não posso conceber que haja benfiquistas que só aparecem para desacreditar o clube e os jogadores”». Para finalizar esta pequena resenha, ficaram ainda as declarações de “Basta”, ao mesmo tempo que alertava para a necessidade – entretanto abandonada, porque inconveniente – de introduzir tecnologias no futebol. Têm sido anos calmos, estes, na presidência encarnada, trazendo ao futebol português a tranquilidade e a classe tão amplamente reclamada. Por fazer, ficou a condenação oficial por parte do Benfica ao caso dos Very Light, trazido pelas claques benfiquistas no futsal e no futebol. Prioridades.

Bruno de Carvalho trouxe à presidência do Sporting uma linguagem inflamada, dissonante, e que tem pecado, em algumas situações, por excesso. Consigo trouxe, também, auditoria interna às contas do clube, a resolução dos problemas com a banca, a recuperação financeira do clube, o aumento exponencial do número de sócios, enchentes em Alvalade, a luta pelo sorteio dos árbitros e pela centralização dos direitos televisivos e, acima de tudo, o regresso do orgulho aos sportinguistas. Transformou Alvalade num inferno igual ou pior que Anfield ou o Westfalenstadion de Dortmund, com o “Mundo Sabe Que” e devolveu a ambição e a garra à equipa do Sporting. Não mora mais em Alvalade a satisfação pelo segundo; e só o tremendo orgulho na entrega e devoção destes jogadores é que pode explicar que, apesar do amargo de boca, os adeptos que se deslocaram a Alvalade para receber a equipa vinda de Braga seja capaz de fazer, a todos, percorrer um arrepio de espinha que não se consegue explicar. No Sporting sempre foi bem claro que não é a todo o custo que se pretendem as vitórias, nem tão pouco são os insucessos que fazem os seus adeptos amainarem o apoio à equipa. A falta de parecença de Bruno de Carvalho com a mulher de César, característica tão amplamente apreciada por estes lados, faz com que o tom das suas palavras seja mais vezes avaliado que o conteúdo das mesmas, já que, como há muito se diz, o jogo é para se fazer nos bastidores e pela calada.

Terminada esta época, urge preparar a próxima. Não sobrem dúvidas sobre a guerra em surdina – mesmo que seja à vista de todos – que se continuará a travar no futebol português. E, desta guerra que se avizinha, com ou sem contenção verbal presidencial, a única coisa que é inegociável é a manutenção da garra, da ambição, da entrega e do querer vencer. O sistema de nomeações vai continuar, a diversão mediática também, e as lamúrias cirúrgicas surgirão sempre que necessário; tudo isto de forma imaculada e inatacável. Que se reserve a glória ao Sporting, agora que a aprendizagem está feita, emergindo por sobre as manobras já identificadas. E que para o ano, finalmente, quem vestir a verde e branca, o faça, em todos os jogos, com o mesmo pensamento que ecoou em permanência em Alvalade esta época: “Eu quero o Sporting campeão”!

ESCRITO POR João Duarte Albuquerque
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]