Jorge Mendes. Um homem de negócios. Grande, dizem os que comem à sua farta “mesa”. Pequeno, dizem os que nunca tiveram esse prazer ou que o perderam. Os caciques abundam no mapa do dirigismo desportivo luso, mas entre todos, reina um…o Jorge, a omnipresença desta figura é tão evidente que se comenta muito pouco (e analisa-se ainda menos) quem é ou o que motiva a tentacularidade dos empreendimentos do “maior empresário do futebol”.

Sobre o trajecto do homem, nada posso acrescentar. As crónicas são muitas, mas raramente contam  mais do que o trivial, passando em fast forward as fases menos célebres para focarem a narrativa logo após as “felizes” coincidências que o tornaram num agente desportivo. À boa maneira do jornalismo “sacro-santo” o que tem interessado aos redactores é enaltecer a figura e não dá-la verdadeiramente a conhecer, os cronistas de campanha de qualquer imperador romano dar-se-iam mais ao trabalho de expor as facetas menos nobres de quem, com um estalar de dedos, poderia ordenar a sua crucificação. Ninguém sequer consegue (ou pelo menos tenta) explicar como um ex-vendedor de gelados e dono de clubes de vídeo, passa a dono de casas “nocturnas” no Minho e daqui para gerir a carreira de jogadores de futebol. É um eixo previsível (“diversão” noturna > FcPorto) mas porventura menos interessante para posicionar o todo-poderoso Sr.Mendes.

Admito porém, que estamos perante um brilhante “vendedor”. Daquelas almas que nasceram para impingir espelhos a cegos e corta-unhas a elefantes. Ninguém vindo do nada consegue construir o império de submissos que o Jorginho conseguiu sem talento, mas mesmo muito talento. Convém lembrar que este foi o génio que manobrou vender Secretário ao Real Madrid ou Bebé ao Manchester United.

Mas se a sua capacidade para gerar movimentações de dinheiro é sobejamente conhecida e destacada, escapa a muitos o lado mais negro deste “vendedor de gelados” de luxo. Alguns ex-colaboradores e ex-dirigentes fizeram ao longo destes quase 20 anos algumas declarações que indicam que o Super-Empresário tem muita dificuldade em ouvir um não e ainda mais a gerir o sucesso de terceiros. O que lhe é muitas vezes apontado como persistência e ambição, pode muito bem ser também a porta grande por onde sai a “besta” que ninguém está muito interessado (ou encorajado) em nos revelar.

Começando a vender Porto, a Gestifute atingiu o estrelato, acompanhando a fase áurea deste emblema.  Mourinho era o BFF de eleição (ainda é) e juntos encheram os cofres (deles e) do Porto. O Sporting, na altura chefiado por “gestores de gabarito”, depressa abriria as portas e os seus maiores talentos…sem entender que com este rapaz, nem ganha o clube que vende, nem o que compra, mas essencialmente ele próprio. Desenganem-se os que imaginam o empresário como um Midas que se aluga pelos clubes para trazer camiões de euros, o Sr. Jorge inflaciona os valores é um facto, mas retira maiores “fatias do bolo”…e as contas de merceeiro às transferências de Mendes com clubes portugueses estão todas, repito, todas por comprovar o tal estatuto de hiper-negócios.

Depois do namoro longo com o Porto, as comadres zangaram-se e Mendes deixaria de ser habitué no circulo de Pinto da Costa (alguém adivinhará porquê?). O Benfica era a nova praia e naquele areal imenso, o Jójó vendeu tanto, mas tanto gelado…que é por vezes difícil saber quem constrói os plantéis, se Mendes, se a “estrutura”. Certo é que Vieira, abriu as portas da Luz de par em par e é com o Benfica no topo de um grande negócio de pirâmide, que a Gestifute dá o salto para a internacionalização. O mundo é já pequeno, mas…ainda assim, existe alguém que se mostrou imune ao charme dourado deste homem. O Sporting. Depois da entrada da Direção de BdC e especialmente com a directiva de “parar de encher os cus dos empresários”…Jorge Mendes passa a ser um assunto delicado.

A Doyen escolheu o confronto. Não sei o que escolheu o Mendes, mas a julgar pelos negócios que fez com os jogadores que tinha no Sporting (zero), não foi certamente um caminho fácil a convivência com o novo presidente do emblema de Alvalade. E se tinha dado jeito alguém que conseguisse espetar gelados nas testas de alguns clubes europeus nessa altura. Jogadores para “despachar” (caros e sem mercado) foram mais que muitos…Mendes…zero. As renovações provariam ser outro duro teste, mas curiosamente ou não, assim que os atletas leoninos rejeitam o empresário comendado por Cavaco Silva, elas surgem. De repente até começam a surgir clubes interessados nos mesmos atletas. O empresário que vendia jogadores do Benfica B por 15 milhões de euros, nunca conseguiu a proeza de “cheirar” grandes negócios em Alvalade. Nem com Patrício, nem com Adrien, nem com…ninguém. Os próprios jogadores devem ter entendido a mensagem, o Sporting fê-lo bem mais cedo e a desconfiança de um pacto com o amigo Vieira dava aromas de regime de exclusividade…os milhões chegariam apenas à Luz.

Esta época o cenário está a modificar-se. O cerco do fisco espanhol aperta as operações no Valência, aperta a sociedade com Lim e a falência da colaboração do Porto com a Doyen…são dados novos no tabuleiro e o Jorge nunca foi conhecido por deixar orgulhos esvaziar carteiras. Hoje como ontem, Nuno Espírito Santo volta a ser a “ponta da lança” em África. As comadres enterram o machado e resta-me apenas uma dúvida: o Benfica nesta mudança é o “corno” ou a parceira tolerante que admite “relações abertas”? A resposta virá nos próximos meses.

Onde já não tenho muitas dúvidas é na total e absoluta influência na Seleção e nos corredores das decisões da FPF. Três quartos do elenco do Euro são jogadores da sua esfera de negócios, tantos como têm sido nas últimas grandes competições. Ninguém consegue explicar se os jogadores estão lá porque são por si agenciados ou se são escolhidos porque os Seleccionadores também o são. O que é mesmo factual é estar longe de Jorge Mendes é meio-caminho andado para ser figura secundária com as quinas ao peito.  Contam-se pelos dedos de uma mão ( que perdeu muitos dedos) os jogadores que não tendo nenhuma relação com este empresário chegaram, viram e venceram com a camisola de Portugal.

Por isso e é mesmo por isso que escrevi o post, quando estiverem entretidos a fazer 11s para o Euro, ou a pensar nos silêncios do futebol Português, nas eleições para a FPF ou Liga ou nas sucessões dos grandes em Portugal, pensem em tudo isto e tentem colocar Mendes no tabuleiro. Preparem-se para…não ficarem surpreendidos. “Money talks, and bullshit walks” ou como diz o outro “em terra de tesos, quem vende gelados é rei”.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca