Quando o árbitro apitou para o final eu estava prestes a ceder à irritação e a partir qualquer coisa. O relógio avançava sem paragens,  o tempo de compensação esgotava-se e nós continuávamos a trocar a bola de pé para pé, toma lá dá cá, vai à frente, vai atrás, vai ao lado e regressa e nesta espécie de aula aeróbica com Jane Fonda dou por mim a ver que faltam 20 segundos para os 93′ e que não há um dos nossos que meta a bola lá na frente. Tanto não há que, passados 30 segundos, o apitador apita e a bola está à entrada do meio terreno germânico.

Este final diz muito da exibição do Sporting. Ou melhor, diz muito sobre as últimas exibições do Sporting e sobre a cerimónia que fazemos quando temos oportunidade de visar o alvo. Coisa que os alemães mostraram não ter, tanto em Alvalade como ontem, abrindo o marcador na primeira oportunidade que lhes foi consentida. Quando o improvável Ramos cabeceou para o fundo das redes, aos 12 minutos, ainda a equipa se adaptava ao surpreendente 3-4-3 com que Jesus surgiu em Dortmund e o resultado foram dois erros de posicionamento que valeram o golo sofrido.

Ao contrário do que podia esperar-se, o Sporting não abanou e o Dortmund não cresceu. Paulo Oliveira serenou ao lado de Coates e de Rúben, Schelotto e Zeegelaar foram acertando na formação de uma linha com William e Bruno César, Castaignos tentava pressionar lá na frente e a magia ficava a cargo de Gelson e de Bryan Ruiz. E mesmo com táctica nova, a irreverência voltou a surgir do nosso pequeno grande Martins. Com os alemães sem capacidade para furarem a teia leonina e com os adeptos verde e brancos a calarem os adversários, Gelson recebe de costas, deixa um adversário para trás com um passe de dança, combina com Castaignos e fica na cara do redes. Não remata de primeira e o redes tem tempo para sair, tal como um defesa haveria de ter tempo para oferecer o corpo à bola cinco minutos depois, desta feita após um bom cruzamento de Zeegelaar que encontra o mesmo Gelson ao segundo poste.

O jogo estava aberto, tão aberto que o Sporting se atirou para a frente e passou os últimos dez minutos da primeira parte a sofrer investidas amarelas. Na primeira, a bola embate estrondosamente na barra, nova lição naquele manual que devíamos ler todas as noites: remata à baliza sempre que puderes. Diz que Gelson (pois, sempre ele…) tinha uma edição de bolso no balneário e que não hesitou em folheá-la ao intervalo, aplicando um disparo cruzado ainda mal a segunda parte tinha começado. O redes defendeu, Dost, entrado para o lugar do compatriota, não chegou a tempo da recarga.

Depois seria Bruno César a ensaiar uma bomba de fora da área, antes de dar o lugar ao regressado Adrien (ninguém diria que esteve parado). Faltava meia-hora e Jorge Jesus perdia a oportunidade de assumir que “perdido por um, perdido por dois” e de trocar a segurança defensiva pela vontade de causar mossa no adversário. Pior, tirava um dos jogadores mais ligados à electricidade e que maior dinamismo imprimia ao nosso futebol. Por isso ficou tudo na mesma. O Sporting tinha a bola, jogava bem com ela no pé, mas não criava oportunidades de golo. O Dortmund estava cada vez mais confortável na manutenção da vantagem e jogava com o relógio. Os germânicos só não esperavam que Schelotto (bom jogo) sacasse um cruzamento a regra e esquadro que haveria de ser desperdiçado pelo embruxado Bryan Ruiz. Sim, ele outra vez a desperdiçar, naquele que vai sendo um castigo demasiado pesado para um homem só. Mais pesado, só o castigo de ser substituído para a equipa ficar a jogar com 10, mesmo que pelo meio exista a nota positiva de Markovic ter finalmente sido colocado numa ala.

Por tudo isto, quando o árbitro apitou para o final, eu estava prestes a ceder à irritação e a partir qualquer coisa. A calma chegaria com a imagem dos nossos jogadores exaustos, bom princípio para quem quer ganhar algo. Sem esse dar tudo em campo nada mais acontece e, por isso, sem paciência para vitórias morais, agarro-me à fé que, desde que me conheço, tem sido a palavra final da máxima Esforço, Dedicação, Devoção. Continue esta gente a correr e a lutar, que nós continuaremos a apoiar. Sejam eles capazes de acreditar, que nós vamos lá estar. Para vos apoiar e para vos ver ganhar.