O Supremo Tribunal da Suíça decidiu não dar provimento ao recurso interposto pela Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD sobre o chamado “caso Doyen”. Nesse sentido, foi confirmada a sentença proferida pelo Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne (TAS) que condena a Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD ao pagamento de 12 milhões de euros à Doyen acrescidos de juros.

Ora, isto não é surpresa para quem quer que seja. Incluindo para os eternamente optimistas, como eu. A verdade é que por mais que consideremos que a luta contra os fundos é algo que faz sentido e que saibamos o que representam as Doyens da vida, também sabíamos, desde o início, que dificilmente nos seria dada razão. Mais, pelos menos os mais atentos a estas coisas dos números, desde início que tinham esta recusa em pagar como um acto de gestão bem calculado por Bruno de Carvalho que, nessa altura, fez do dinheiro retido a quantia que o Sporting necessitava para se libertar de um espartilho de fair play financeiro. E, tal como na altura, volto a aplaudir não só o apontar de dedo aos fundos como o inteligente acto de gestão.

Mas se a decisão, verdadeira endireita pilas para o jornal o Jogo, não doy minimamente, tenho que confessarmos que me causa comichão o anúncio da parceria com a Traffic Sports.

traffic

O nome já de si é manhoso, mas todos sabemos que isto dos nomes vale o que vale. O que me provoca a dita comichão é atentar nas palavras do nosso presidente – «Hoje é um dia efetivamente triste para o futebol mundial. Estamos a falar de uma instituição cuja designação por outras instituições foi de propensa à lavagem de dinheiro, estamos a falar de uma instituição que já foi repudiada pela UEFA e pela FIFA» – e, depois, vê-lo assinar uma parceria com uma empresa que, no fundo, também funciona como fundo e que, há coisa de ano e meio, esteve envolvida no escândalo de corrupção da FIFA.

Para quem não se recorda, o dono do grupo Traffic, o brasileiro José Hawilla, admitiu as acusações de fraude eletrónica, lavagem de dinheiro e obstrução à justiça pela sua implicação no caso e aceitou devolver 151 milhões de dólares através da Tusa, braço da Traffic nos Estados Unidos, onde foi desencadeada a investigação que levou à detenção de sete dirigentes ou ex-dirigentes da FIFA na Suíça.

Claro que também podem dizer-me que a Traffic é organizadora da Copa América e explora os direitos comerciais/televisivos dos principais torneios do continente americano, nomeadamente a Gold Cup, a Taça Libertadores, a Taça do Brasil e uma das ligas dos Estados Unidos, a NASL. E que é uma empresa com esfera de influência sobretudo no mercado sul-americano (especialmente no brasileiro) e no chinês, áreas nas quais o Sporting pretende desenvolver a sua influência.

Ficou, aliás, explícito na assinatura da parceria, que o Sporting nela vê uma oportunidade no que toca a desenvolvimento dos jogadores jovens ( que o Sporting CP depois pode ajudar a desenvolver e melhorar), uma oportunidade para conseguir uma maior ligação aos clubes brasileiros e ao seu mercado, bem como ao chinês, bem como para procurar implementar novas Academias Sporting e novos parceiros de patrocinadores.

Se o Elias acabar na China a troco de uns bons milhões, até pode ser uma entrada de pé direito na parceria, mas confesso-vos, com o prazer que o nosso treinador tem em lapidar diamantes, nomeadamente vindos do outro lado do Atlântico, sinto a comichão a alastrar-se. Vou ali tomar um anti-histamínico, esperando que de tanto coçar isto não acabe a doer-nos.