Filipe Chaby assinou em definitivo pelo Belenenses e a notícia provoca-me um misto de sensações. Se, por um lado, fico feliz por ver, finalmente, ser dada uma oportunidade ao talento deste jogador no escalão maior do nosso futebol, não posso deixar de lamentar que essa oportunidade não lhe seja dada com a camisola do clube que é o seu e que é o nosso, o Sporting Clube de Portugal.

Depois de uma óptima época ao serviço do Covilhã, onde teve oportunidade de expressar a sua qualidade técnica, fosse em bola corrida fossem em bola parada, aliada a uma cada vez maior noção do que exigem os vários tempos de jogo (o que lhe valeu pelo menos duas distinções mensais como melhor jogador), Chaby dá o tão desejado salto. Não sei se ter um Domingos Paciência como treinador será o melhor que podia acontecer-lhe (apesar de ter sido o treinador que primeiro o chamou para junto dos crescidos, quando estava em Alvalade), mas, pelo menos, é uma oportunidade de calar aqueles que continuam a achar que no futebol só há lugar para intensidade associada a jogadores grandes que varrem o campo de uma ponta à outra.

Neste momento, apetece-me recordar uma entrevista publicada há seis meses, onde podiam ler-se as seguintes passagens

Esteve muitos anos na Academia do Sporting. Sente que lá teve tudo e que agora encontra condições menos boas, dificuldades maiores, ao estar num clube dito pequeno?
Claro que sim, o Sporting é um mundo à parte. É um clube fantástico que oferece todas as condições para nos podermos formar enquanto jogadores e homens e nos tornarmos profissionais. Quando saímos deparamo-nos com algumas dificuldades, mas felizmente por onde tenho passado tenho encontrado grandes condições. Mas, como é óbvio, é diferente por isso é que o Sporting tem uma das melhores academias do mundo. Não é por acaso.

E como é que o Chaby encarou o desafio de deixar um grande para ir para um pequeno?
De forma natural. A oportunidade surgiu porque não estava a jogar o que pretendia no Sporting B. Surgiu o União e decidi dar esse passo, muito pensado. Felizmente as coisas correram bem. Pensei que as coisas iam ser mais complicadas, talvez numa fase inicial, por ter de abandonar o sítio onde estive tantos anos, mas felizmente correu bem.

Sentiu que se estava a afastar do Sporting?
Não, foi uma saída pensada também com os responsáveis do Sporting. Sentia que a minha evolução estava parada e que precisava de outro desafio para continuar a evoluir e a jogar. Arrisquei e correu bem.

No União da Madeira teve Vítor Oliveira como treinador, que o elogiou numa entrevista ao Maisfutebol, e que disse que o Chaby ainda precisava de rodar para se afirmar no Sporting. Concorda?
Respeito a opinião de todas as pessoas, ainda mais daquelas que trabalham comigo. Mas, é óbvio, que eu tenho outra maneira de pensar. Só estou à espera da oportunidade pela qual trabalho. Acho que o futebol nacional tem muito talento e que há imensos jogadores com muita qualidade que só precisam de uma oportunidade. E eu estou à espera da minha, é para isso que tenho trabalhado. As coisas têm corrido bem, tenho ajudado o Sp. Covilhã e tenho tido frutos do trabalho, mas agora é continuar à espera dessa oportunidade. Se preciso de crescer, não sei. Mas sim, no fundo, todos precisamos de crescer e de ir evoluindo. Isso só é bom.

E que treinadores é que o ajudaram a crescer na formação?
Todos foram importantes, mas destaco o Tiago Capaz e o Ricardo Sá Pinto. Gostei imenso do Tiago, mas também porque foi muito importante para mim numa fase complicada. E o Sá Pinto porque foi um treinador que nunca deixou de apostar de mim, que esteve na minha melhor fase individual e coletiva e é um treinador por quem gostava de ser treinado, pelo menos, mais uma vez.

O primeiro contacto com a equipa principal foi com Domingos Paciência e Leonardo Jardim também apostou depois em si. Qual foi o mais importante nesse sentido?
Talvez o Leonardo Jardim porque foi com quem passei mais tempo, mas o Domingos foi com quem me estreei. Foi de igual forma importante. Foi a partir daí que comecei a dar nas vistas e depois o Leonardo deu-me a oportunidade de trabalhar com a equipa na pré-época e um bocadinho durante o campeonato.

Tendo em conta a atual equipa, a chegada de estrangeiros e as muitas opções, acredita que pode voltar ao Sporting e afirmar-se agora na equipa principal?
Neste momento, não vou mentir, está difícil. O nível de exigência aumentou. É óbvio que penso sempre em voltar e que é esse o meu sonho. O meu objetivo sempre foi jogar no Sporting Clube de Portugal. Sei que tenho gente à minha frente, mas não vou desistir. Tenho trabalhado para atingir esse patamar. Que está difícil, está, mas não deixo de acreditar.

Está difícil porquê?
Porque o nível de exigência está maior porque a qualidade do plantel é maior. Infelizmente, neste momento, as coisas não estão a correr tão bem para o Sporting como eu, como adepto, e como o Sporting gostaríamos, mas o Sporting tem um plantel fortíssimo, sem sombra de dúvidas, um plantel para ser campeão. As coisas não têm acontecido como gostávamos, mas este plantel já demonstrou o que pode fazer.

O que gostava de fazer com a camisola do Sporting?
[Nem hesita] Gostava de ser campeão!

E uma pergunta quase da praxe… vê-se a jogar num rival do Sporting? FC Porto ou Benfica?
Não, não. Penso que não. São coisas que são pensadas no momento, mas acho que não conseguia. Não conseguia porque sou demasiado sportinguista e acho que a minha família também não ia ficar satisfeita comigo, se tal coisa acontecesse.

Já o podia ter feito, no passado certo?
Exatamente.

Podia ter ido para uma das três formações…
Sim. Na altura também tive ofertas do Benfica e do FC Porto e decidi optar pelo Sporting. Foi uma opção minha com a ajuda da minha família. Sou sportinguista de gema, não me arrependo nada da escolha que fiz.

Na época passada, após marcar e vencer o Benfica B escreveu nas redes sociais: «Não há melhor sensação do que fazer um golinho a este clube.»
Sim, escrevi. Foi uma brincadeira sem maldade, não achei que fossem levar a mal. Foi de facto uma sensação boa ter marcado e ter saído com a vitória. Mas não foi para picar ninguém, foi só para me meter com amigos meus. São coisas que se dizem, que se escrevem.

 

Talento inato e Sportinguismo de gema. Parece não ter chegado. Ou, melhor, provavelmente nunca chegaremos a saber se chegava, pois a oportunidade não surgiu. A tal oportunidade que Chaby esperava, mas que mais facilmente é dada a um Bruno César (nada contra o Chuta, é um exemplo). E mais do que anunciarmos que ficamos com 50% dos direitos económicos, gostava de ter lido que tínhamos uma opção de recompra sobre um jogador Made in Academia Sporting e que avança para esta nova etapa dizendo «É um grande passo na minha carreira, mas o trabalho árduo começa agora. Sei que não vai ser fácil, mas vou dar o meu melhor para corresponder às expectativas». Boa sorte, Chaby!

 

chaby66