Muitas têm sido as críticas arremessadas na direcção do Órgão Oficial de Informação do Sporting, portanto, hoje irei ver as coisas por um prisma mais positivista.

Eu compro (ou assinava, até Janeiro de 2007) o jornal todas as semanas, desde sensivelmente Agosto de 1988, e não o faço por achar que o jornal é um produto particularmente apetecível, apenas o faço para ler a secção do futebol de formação e acima de tudo faço-o por uma questão de “Civismo Leonino”, para dar um contributo para ajudar o jornal, de uma forma não dissimilar a pagar as quotas de sócio para ajudar o Clube.

Durante o verão de 2012 houve uma reformulação do staff do jornal e saíram algumas pessoas e entrou gente nova e jovem. Não vou estar a comparar individualidade por individualidade, porque se o fizesse, seria desagradável e até “cruel”, mas, somando todas as individualidades e comparando o staff actual com o que de há 2 anos (com o de há 4 anos nem seria justo comparar), apesar do actual ser inferior, a distância qualitativa que os separa já foi maior. Quem fez a reformulação foi Rui Paulo Figueiredo que considero um amigo e apesar de na altura achar que a reestruturação iria debilitar o staff em termos de competência, a verdade, é que dois anos depois, é possível constatar que houve uma evolução por parte dos novos jornalistas após um natural período de aclimatização.

Rui Paulo Figueiredo reduziu os custos ao ir buscar jovens e no início, confesso que era difícil ler o jornal, tantos eram os erros (até me doía o coração) e também, tanta era a falta de familiaridade por parte do novo staff para com o produto que tinham como responsabilidade de dar a conhecer aos leitores.
É preciso não esquecer, que estamos a falar de jovens, e quando se fala de jovens, sejam eles jornalistas ou jogadores, devemos sempre ter em conta 3 aspectos essenciais de avaliação; Valor, Potencial e Mentalidade. Na minha experiência, aprendi que não há jornalistas jovens incompetentes, há jornalistas jovens competentes e jornalistas jovens mal acompanhados. Nenhum jovem é uma causa perdida, agora, ou pode estar bem orientado ou mal orientado, ou alguém os ajuda a realizar o seu potencial com uma liderança “hands-on” ou basicamente as pessoas estão entregues à sua sorte. A haver exigência, accountability, pressão (saudável), supervisão, compreensão, pedagogia, etc, todos podem evoluir, e o Sporting tem a sorte de poder contar com um Diretor-adjunto em Rúben Coelho que é um “adulto” sério, profissional e que sente a camisola (do jornal) que veste.

Há outro aspecto fundamental para além do talento individual e da capacidade de liderança. Tive uma conversa com o nosso Presidente em que entre outras coisas, disse-lhe que era importante o jornal ter pessoas que gostassem do que fazem. É importante que ninguém esteja acomodado, desmotivado, resignado ou contrariado, é importante haver um bom ambiente de trabalho e amor à camisola (do jornal), é preciso que quem lá trabalha goste do que faz e tenha genuíno carinho pelo Jornal Sporting e isso indubitavelmente existe e é um bem muito muito precioso e que deve ser levado em conta quando se avalia a performance de quem lá trabalha.

Vários Sportinguistas já me vieram perguntar como se inverte o declínio de vendas (40% em 7 anos) do Jornal Sporting, e a realidade, é que não acho que seja possível inverter o processo e voltar aos níveis de há 10 anos, e digo isto por várias razões, para começar, porque o mundo mudou, sobretudo em termos de tecnologia e variedade de oferta, e a outra razão, é porque o “estrago” está feito, o Sporting manteve-se durante demasiado tempo fiel a um formato completamente ultrapassado e consequentemente não foi capaz de angariar novos (e jovens) leitores, tendo desenvolvido uma “core readership” envelhecida e que gradualmente tem vindo a desaparecer.

É perfeitamente possível melhorar significativamente a qualidade do Jornal Sporting e apenas com um aumento residual dos custos, mas, esta não me parece ser a melhor altura para se reformular seja o que for, porque a Sporting TV é inevitável (e não apenas como ferramenta de comunicação) e quando tal acontecer deverá haver mais responsabilidades, à imagem do que acontece com os profissionais da Benfica TV, que também acumulam outras funções, tais como escrever para o jornal oficial do Clube e penso que alguns inclusive também assinam textos para a “Mística”.
Uma coisa é o formato do jornal Sporting ser viável nos anos (19)20 quando a Rádio era uma novidade e a televisão ainda não existia, mas, no início dos anos 90 e com toda a revolução tecnológica dos passados 20 anos, o Jornal Sporting levou 20 anos a adaptar-se às mudanças que mais cedo ou mais tarde ditariam a morte do seu conteúdo (propagandista) e formato, da mesma forma que toda a imprensa escrita está a morrer e eventualmente cessará nas próximas duas ou três décadas. Um jornal com um formato antiquado teria dificuldades em sobreviver com o advento da internet, Ipads e smartphones. Aqui mérito para Rui Paulo Figueiredo, pois foi durante a sua “vigília” que o Sporting criou a versão digital do seu jornal, que é um passo na direcção certa, embora, até ao final do verão passado, o conteúdo fosse o mesmo produto sensaborão e narcoléptico de sempre.

Em termos de alteração de conteúdo, passando de um produto narcisista e propagandista para um produto mais bélico e incisivo, o Sporting conseguiu tornar o seu jornal mais apetecível e espero que assim consigam parar o declínio em vendas, mas, foram sensatos em introduzir esta nova abordagem jornalística apenas às primeiras páginas, em vez de promoverem um “overhaul” total. Se o tivessem feito, angariariam alguns(poucos) novos (jovens) leitores sedentos de um conteúdo mais agressivo e  “radical”, mas arriscariam em perder a “readership” mais idosa e que se tem mantido fiel ao jornal.

Relativamente à versão digital, gosto bastante da mesma e há que dar os parabéns à Mafalda Mouton pelo trabalho que desenvolveu, embora, considere que o modelo utilizado é limitado e terá os seus dias contados.

Eu quase não vejo televisão, e mesmo os jornais, leio todos, mas na diagonal e o Jornal Sporting não é excepção, mas, há pouco mais de uma semana, falou-se de uma crónica (do SLB vs SCP) que creio ter sido da autoria de Maria Gomes de Andrade e que não primaria pela sua análise ou honestidade intelectual. Tanto se falou do assunto, que tive que a ir ler, e fiquei surpreendido, pela positiva. Em relação à narrativa, não vi qualquer novidade, era a mesma dos passados 20-30 anos, isso não me chocou nem surpreendeu, mas no meio de tanta crítica, devo dizer que até gostei do texto, pela simples razão, que o mesmo evidenciava entusiasmo, Sportinguismo, mas mais do que isso, o mais importante, é que denotei uma boa capacidade de expressividade escrita. Um jornalista pode ser muito ou pouco Sportinguista, pode perceber muito ou pouco de futebol, mas se não sabe escrever… no deal. Gostei do texto.

Por último, quando os Sportinguistas compram o Jornal Sporting, devem ter em conta que não o estão a comprar apenas para ajudar o Sporting, não o fazem apenas por respeito pelo empenho do staff actual, devem igualmente pensar que o Jornal, tal como o Clube, é algo que já vem detrás, algo que precede o staff actual e nos precede a todos nós, quando o compram estão a respeitar todos os profissionais que pelo jornal já passaram e o mantiveram vivo, pois sem eles, esta discussão não faria sentido.

Texto de André Carreira de Figueiredo (A.C.F.)

 

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