Carlos-Mané-sporting-Depois de mil teorias à volta do mercado de transferências, tantas opiniões diversas, chegou finalmente o reforço de Inverno. Heldon será em breve o nosso extremo goleador, Shikabala amado pelos adeptos (será um daqueles que inexplicavelmente será aplaudido de pé sempre que entrar) mas quem reforçou a equipa foi Carlos Mané.

Tentei pensar o que escrever depois de uma vitória tão sofrida já no longínquo sábado, que técnica ou táctica a mais apropriada mas, por algum motivo, a única actualidade leonina que me surgia era aquele rapaz de 19 anos e trancinhas no cabelo.
Gosto de jogadores alegres, que jogam o jogo pelo jogo. Para este jogador algo tão banal como ser titular ou suplente é relativo. Para um jogador alegre, a camisola não pesa mas motiva, as fintas são de pés, cabeça e coração. Este jogador sabe que, aos 19 anos, é um sortudo no meio de sonhadores. Este jogador quer agarrar todos os minutos ao serviço do seu grande amor.

Este é também Mané. Confesso que quando o Sporting aposta na formação não é a mesma coisa sem um extremo goleador, que nos encha os corações de esperança. O que é uma aposta na formação se não pudermos dizer na bancada: “Este puto parece o próximo Nani!” (passe o exagero)?
No Sporting desde os 7 anos, Mané é de momento um dos mais antigos activos a envergar o Leão Rampante. Mané não teve empréstimos, crescimentos na B, nem teorias sobre a sua intensidade. Entrou e mexeu com tudo a meio do campeonato. Dois golos e seis pontos, depois de confirmar na Taça da Liga que Leonardo Jardim sabe o que faz quando lhe passam um miúdo para as unhas.

Dá gosto que depois do que passámos no último Verão, com dois miúdos talentosos a envergonharem os nossos dirigentes e a nossa Academia, existam aqueles que em cada minuto em campo nos encham de orgulho. Não só pelos golos que marca, é pela raça, não atira a toalha porque isso significa que o seu coração de adepto também fica magoado.

Depois de ver o golo em Vila do Conde, revi cerca de 10 vezes (sem exagero agora). Parecia, aos meus olhos, que tinha assinado um hat-trick de calcanhar no meio-campo. Numa equipa que onde a união e o espírito guerreiro já não chegava sempre, apesar do excelente futebol apresentado, chegou uma lufada de ar fresco que inspira e espicaça os companheiros. A nossa equipa, por tudo o que tem feito, merece um jogador destes e tem de o acarinhar e desenvolver. Se assim não fosse, Adrien não diria isto: «Queremos passar esta ideia para o plantel e para os jovens da formação, para voltar a criar esta identidade que o Sporting apresenta.»

Depois de uma formação a ponta-de-lança e de capitanear todos os escalões jovens por onde passou, a nova coqueluche dos adeptos verde e brancos promete ter mais 10 jornadas de alto nível, seja a 10 ou a extremo ou a 9.
Rúben Semedo é o próximo e, para mim, a forma como comemorou a última vitória aos pulos em cima do Marcelo Boeck, sem noção a invadir o relvado quando o jogo decorria e com um sorriso de orelha a orelha, diz mais do que muitas das suspeitas lampiónicas que ainda correm em certos meios sportinguistas.

A próxima batalha vem aí, o primeiro lugar está longe mas não é uma miragem. Sem Adrien e sem Montero, parece que chegou a altura de Magrão e Slim provarem o que valem no onze inicial. Carrillo costuma estar inspirado em jogos complicados e, pelo que tem mostrado quando entra, merece mais um momento de confiança. Vá lá Leo, não desistas dele que nós também o queremos ver brilhar.
Quanto ao segundo ponta-de-lança, será Mané ou vamos chamar à B? Poderá ser uma oportunidade de Leonardo Jardim apostar em Ponde, jogador que sempre disse querer apostar e sempre elogiou.

Caros leões, desculpem a visão mais romântica e menos fria da nossa nova estrela. Ser adepto e não ser assim, não deve valer muito a pena.

Texto de Maria Ribeiro

 

* duas cozinheiras, dois temperos. O toque de Leoa, dado pela Maria Ribeiro e pela mbc. Às terças, na Tasca do Cherba.