“Quem manda é o Pedro Proença, é o Jorge Sousa e é o Olegário Benquerença!”
…exclama a figura humpty-dumptesca de lencinho azul-envergonhado na lapela. Estamos em directo para o “contragolpe” — ou “golpe de rins” ou lá como é que se chama aquele programa da tvi24 com o Dani mas onde também se fala de futebol.

“Eles mandam porque não querem os caldinhos.” E atenção que esta não é uma qualquer teoria, ele afirma-o! Ele é Pedro Sousa, e só pode saber do que fala: “Em Maio de 1988 estreei-me aos microfones da Rádio Renascença, no relato de um jogo de futebol, Benfica-Vitória de Guimarães. Nos primeiros tempos fui apenas colaborador, tendo a partir de 1990, a convite do Ribeiro Cristóvão, passado a integrar o Departamento de Desporto [da Rádio Renascença], inicialmente com um contrato de três meses, que em pouco tempo, se transformou em definitivo. Pouco mais de dois anos depois, iniciei-me nas funções de editor, que mantenho actualmente.” (in site da RR)

Tudo isto, claro está, antes de integrar a equipa do eng.godinho, naquele que terá sido o verdadeiro pináculo da sua carreira (se bem que agora senta-se semanalmente ao lado do Dani… tough choice!). Mas não haja dúvida que estas declarações são para levar a sério. O editor da redacção de desporto de um dos principais “media” nacionais só pode saber muito bem “quem manda” no futebol português e na arbitragem. Tendo a sua carreira de jornalista desportivo coincidido em grande parte com os últimos 30 anos de decadência e corrupção no futebol português, não terão faltado oportunidades para revelar quem foi mandando nisso tudo. Com certeza!…

“Que opinião da arbitragem portuguesa?”, é a pergunta que se impõe, e que é colocada a Pedro Sousa em Fevereiro de 2010. Escassos três anos depois do andebol de Ronny, menos de um ano depois do roubo vergonhoso na final da Taça Lucílio, perdão, da Liga, responde o Pedro: “Sinceramente acho que é igual, nem melhor nem pior, do que no resto da Europa.” Sinceramente: foda-se!! Esperava mais de alguém que 4 anos depois nos quer convencer de quem é que manda no que quer que seja.

“Eles mandam porque não querem os caldinhos. Eles recusam-se a apitar os jogos principais.” diz o Pedro, de volta a 2014, exercitando a sua nova faceta de jornalista de investigação. Mas porque é que havemos de acreditar no que o Pedro diz agora, apenas 4 aninhos depois de afirmar que os árbitros são todos bons rapazes? E porque é que isto que ele diz é importante?…

Bom, uma vantagem do Pedro Sousa versão 2014 é que inclui factos relativamente fáceis de comprovar: “O Jorge Ferreira tem 6 jogos na liga e 5 envolveram os três grandes. O Paulo Baptista tem 10 jogos na liga, 8 a envolverem os grandes. 7 vitórias e 1 empate com os grandes, é um fartote com o Paulo Baptista… e mesmo assim o empate é polémico, no Sporting – Académica.” …Mas bota polémico nisso, oh Pedro!
“Já o Pedro Proença leva 7 jogos na liga, 0 (zero) jogos do benfica, 1 do porto e 1 do Sporting. Tem mais 7 jogos na II liga. Agora reparem bem: tem 3 jogos na Liga dos Campeões e 1 na pré-qualificação da Liga dos Campeões. Ou seja, em 7 possíveis, fez 3. Em 22 possíveis na liga portuguesa fez 7. Ou seja, tem 28,5% de média de jogos com grandes. Se contarmos com os dois campeonatos profissionais, 14% de média com grandes. Em jogos da liga dos campeões a média é de 42,8%.

Jorge Sousa: 9 jogos na liga, 1 do benfica na jornada inaugural (derrota na Madeira) 1 do sporting em barcelos, 0 (zero) do porto. 10 jogos na II liga, 1 na pré-qualificação da Liga dos Campeões, 2 na Liga Europa. 22,2% de jogos dos grandes, 10,5% se contando com I e II liga.
Olegário Benquerença: 8 jogos, 1 do sporting em olhão, 0 (zero) do benfica e 0 (zero) do porto. 9 jogos na II liga. Depois tem 3 na Liga dos Campeões mais um na pré-qualificação da Liga dos Campeões, mais um na Liga Europa. O Olegário Benquerença tem 12,5% de média de jogos com os grandes, 5,8% contando com os dois principais campeonatos.”

E remata: “Isto é uma vergonha!” Não, Pedro, não é. Uma vergonha seria ficar sentado ao lado do eng.godinho enquanto ele anunciasse que o Niculae, o Kleber, o Milevski e o Marco Ruben não tinham vindo para o Sporting por causa do Prof. Daniel Sampaio. Isso é que seria uma vergonha sem precedentes…

Já o olegário, o proença e o jorge sousa são precisamente o contrário: são corruptos mas não têm qualquer vergonha. Continua o Pedro: “Alguém discute que eles os três são os árbitros portugueses mais qualificados? Pelo menos a UEFA considera assim. Tinham que ter estado no bonfim ou na luz, porque é agora que se está a decidir o campeonato.”Mas a diferença entre estarem estes três ou não estarem não tem a ver com serem mais ou menos qualificados. Estes três são tão merdosos como os outros todos, os baptistas os ferreiras os motas os gomes. É tudo farinha do mesmo saco bolorento.

A diferença estará então no facto da UEFA os considerar como algo mais, vá-se lá saber porquê. No mesmo programa, o ex-árbitro de serviço explica: “a UEFA está-se a marimbar para a prestação dos árbitros nos campeonatos nacionais”, eles (árbitros) só se têm que preocupar em manter as insígnias, ou seja, terminar o ano dentro do lote dos 12 melhore árbitros. E para garantir que isso acontece, nada como apitar apenas os jogos entre equipas de merda, se houver confusão quando muito está lá um puto com uma webcam a filmar, na pior das hipóteses.

Mas isto é importante não porque a qualidade das arbitragens nos jogos decisivos podia ser melhor. Isto é importante porque é um sintoma, uma evidência do sistema que está montado por forma a permitir que uma pequena elite possa cuidar da sua carreira internacional, abrindo espaço para, na ausência de quem teria algo a perder por apitar mal, aparecerem então os motas e os capelas e outros devotos sem nada a perder. É um sistema encaixado entre, por um lado, as altas instâncias que há 30 anos mamam no bufas — até ao ponto de ressequidão que hoje se nota — e por outro, as “bases” impregnadas de fanáticos lampiões. Seja qual for a “força dominante” a impelir o sistema, nestas condições uma coisa será sempre inevitável: o Sporting será sempre sistematicamente prejudicado.

Por isso é que alianças só no dedo e com a esposa. Havemos de nos entender com quem assumir um claro compromisso em destruir este sistema, mas para já ninguém parece muito interessado nisso. Excepto o Sporting, claro está. O Sporting e esta Direcção parecem determinados em trazer para o futebol português a mesma cultura de transparência e exigência / responsabilização que desde o primeiro momento se constatou que estava no centro da sua forma de estar e de operar — para usar um chavão em voga, são, também, estes os valores que fazem parte do ADN deste Sporting e desta direcção.

E contra mundos e fundos e todas as expectativas, têm sabido levar a sua bandeira em frente. A auditoria à gestão nebulosa do passado é uma realidade que em breve terá resultados. Apesar dos entraves e forças obscuras, não se abdicou um milímetro desta que será a pedra basilar onde o Sporting assentará a sua futura prosperidade. Não é, pois, de espantar que potenciais visados desta auditoria, e que não se possam dar ao luxo de simplesmente desaparecer, estejam agora extremamente ansiosos em aparecer o mais alinhados possível com o discurso da Direcção. E, apesar da utilidade do seu mais recente contributo, fico mesmo muito curioso para saber qual o discurso que o nosso amigo Pedro vai ter daqui a um mês, mais coisa menos coisa…

Entretanto, conseguir que a mesma cultura de transparência e exigência se torne viral e infecte o ADN de todo o futebol português, esse é sem dúvida um projecto colossal. Mas não necessariamente destinado ao fracasso, assim saibamos todos corresponder ao apelo de união que o nosso Presidente nos fez.

 

 Texto escrito por Leão de Trafalgar