Antes de mais, e em jeito de nota introdutória, o meu pai era sportinguista simpatizante, mas nunca gostou de futebol.

Estávamos em verão de 1994.. (quase, quase a fazer vinte anos, como o tempo passa), filho de um casal bastante jovem que começava a dar os primeiros passos na estabilização familiar. Ele GNR, Ela a subir na carreira enquanto caixa que um dia se viria a tornar responsável por um supermercado. As dificuldades financeiras então vividas, obrigavam a viver num pequeno T3 com 8 pessoas. Todo o dinheiro era contado ao escudo, e as extravagancias passavam por um pacote de sumo ao almoço ou uma sandes com manteiga e.. fiambre.

Tinha acabado de concluir a 4ª classe e a minha paixão pelo Sporting era por demais evidente, apesar de nunca ter assistido ao vivo a um jogo de futebol do meu Sporting. Desde andar com meias verdes e brancas, a escrever nas bordas do caderno ‘SCP’. Tudo me parecia indicado para demonstrar amor pelo leão rampante. Um pouco como no anuncio oficial.

Na altura, e como prémio pelo meu desempenho escolar, o meu pai, apertou o cinto e com um custo, que na altura não me fazia sentido mas que agora consigo assimilar, deu-me dinheiro para comprar uma camisola ( não oficial, creio da marca Sailev ) do Sporting. A minha primeira camisola do Sporting. A camisola que mais me recordo. A ‘Queijo Castelões’. Com que, viríamos a ganhar a taça de Portugal.. curiosamente ao Marítimo.

Na noite em que me deu o dinheiro, não dormi. E recordo-me que bem cedo, lá fui eu, sozinho, de metro, ao antigo Alvalade, buscar a minha primeira verde-e-branca.

Sempre que o Sporting acabava de jogar e ele estivesse de serviço, lá ficava eu, pacientemente a aguardar uma chamada para o telefone, que na altura era o fixo.
E do outro lado, sem perceber de bola, lá estava ele, por amor ao seu filho, a dar os parabéns, com um sorriso que não via mas que sentia profundamente, por uma exibição mais bem conseguida ou a dar animo quando as coisas não corriam tão bem.

Infelizmente, pouco tempo depois dessa oferta, um acidente de viação enquanto estava em serviço e em marcha de emergência, acabou por roubar a vida ao meu pai.
Nunca consegui realizar o sonho de qualquer menino, que é ir ao estádio do seu clube lado a lado com o seu pai. De falar acerca de miúdas com o seu pai. De beber uns canecos com o seu pai. E como adoraria tê-lo feito. Como adoraria que ontem, estivesse a meu lado e da minha mãe ( que ensinei a gostar e amar o verde-e-branco e com quem faço questão de ir a bola, semana-após-semana ) e pudesse dizer, já viste este 14 Carlos? Que grande animal.

Hoje, tal como ontem, voltei a lembrar-me dele e tenho a certeza que estaria a sorrir, se não fosse pelo verde-e-branco, era pelo sorriso patético e mega orgulhoso que trago hoje comigo a condizer com a farda de trabalho.
Em jeito de conclusão, nunca é demais dizer a quem me lê, tenha ou não a fortuna de ser pai.. “Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam e não deixem nada por dizer. Nada por fazer.”

Texto escrito por Fábio Poço