O meu pai era Sportinguista, tal como agora eu sou, mas não foi ele que me incutiu o ser Sportinguista, nem sequer foram os meus amigos, pois só tinha um e que por acaso era meu vizinho, nunca se esforçou para que eu fosse Sportinguista, foi uma escolha minha, bem não foi escolha, foi um Dom que o meu pai me passou! (Sim ser Sportinguista é ter um Dom, ter um Dom para aturarmos o que se passa no futebol nacional; um Dom de estar sempre em mode Fight & Resist; um Dom de termos que ouvir disparates debitados a 100 à hora pelos nossos adversários e pela CS; um Dom para que esses mesmos disparates saiam, pela mesma via que entraram, a 200 à hora; um Dom, em que mesmo em Fight & Resist, se aplauda um dos nossos adversários quando estes se lesionam em campo e são substituídos; um Dom para sofrer com angústia e pesar, enquanto os outros festejam, a perda de um dos nossos, numa qualquer final de uma taça de Portugal). O meu pai sabia que eu tinha esse Dom, e por isso mesmo nem se esforçou, para que me tornar num adepto do Clube que ele era!
Eu tenho algumas memórias, não são muitas, mas são boas.
Num fim-de-semana, o meu pai e como o Sporting C.P. ia ser transmitido na televisão em diferido, decidiu ir fazer um piquenique, de modo a fugir de casa para que não pudéssemos cair na tentação de saber o resultado antes do jogo. Assim foi, estrada fora, sem ligar o rádio, até chegar ao destino. Chegamos ao destino e foi um dia de piquenique, com muita brincadeira e diversão, junto da família que ele amava, mas sempre com olho para o relógio. Chegou finalmente a hora, toca a reunir a tralha toda, desmontou-se a feira muito mais rápido do que a levou a montar. O caminho de volta até pareceu que era mais curto do que o de ida. Chegamos finalmente a casa, o meu pai estaciona o carro, e agora vem a parte mais curtida, lembram-se o vizinho que falei mais acima, pois este mesmo vizinho aparece à porta aos gritos “sete, foram sete”, o meu pai foi à lua, estava possuído, até pensei que ele fosse matar o vizinho, juro que o meu pai era dos homens mais calmos que eu conheci até agora na minha vida, mas nunca o tinha visto tão fodido. Depois disso, o meu pai acalmou, começou a dizer “ele deve estar a brincar, não pode ser”, começamos a ver o jogo, chegou ao intervalo e o Sporting C.P. ganhava 1-0. O meu pai estava radiante, além do Sporting C.P. estar a ganhar, estava contente porque o meu vizinho estava a gozar connosco. Começa a segunda parte e 2-0 para o Sporting C.P., pouco depois o adversário reduz, aí o meu pai ficou apreensivo, mas logo a seguir 3-1, depois 4-1, mais uns minutos 5-1, já só se via risos naquela cara, 6-1 e finalmente os 7-1. O meu pai estava radiante, já nem se lembrava do quanto estava fodido, quando o meu vizinho gritou “sete, foram sete”, apenas estava feliz pelo dia ter corrido melhor do que alguma vez ele imaginou ser possível.
Espero um dia, poder reencontrar-me com ele e agradecer-lhe tudo aquilo que ele me ensinou, agradecer-lhe por ter-me dado as bases para ser o homenzinho que sou hoje, para agradecer-lhe o Dom que ele me passou e principalmente para fazer mais um piquenique à espera que o Sporting Clube de Portugal jogue!
Pai, foste, és e serás sempre o meu herói! Feliz dia do Pai!
Texto escrito por Pedro Filipe Andrade
19 Março, 2014 at 9:52
Eu lembro-me desse dia, e depois ir jantar com um grupo de amigos em que estava um que era um fanático benfiquista. Nem piei no jantar sobre o jogo. Semanas mais tarde vem ele me dizer que foi dos piores dias que passou, e pior que tudo foi não se poder defender e mandar larachas após o jogo…
Às vezes o silêncio é melhor que o gozo directo 🙂
19 Março, 2014 at 9:54
Ergo o meu copo em homenagem ao teu pai, a ti e ao teu texto.
Obrigado Filipe por partilhares connosco a tua história
19 Março, 2014 at 10:01
Um bem haja ao teu saudoso Pai que soube passar-te o dom de amar o Sporting incondicionalmente.
19 Março, 2014 at 10:02
Excelente post Filipe.
Os parabéns a todos os pais Sportinguistas.
SL
19 Março, 2014 at 10:11
Parece que foi ontem…estava lá na bancada norte por cima dos diabos “merda” vermelhos” e com os meus 8 anos senti mais que nunca o que é ser Sporting!!! Ver os lampiões a ofenderem e queimarem cartões do seu clubezeco! Com o Sporting vamos ate ao inferno…pois como li num post anterior, ser Sporting é ter um DOM! ps: Manuel Fernandes “Sarilhos” foi o meu 1º herói!
19 Março, 2014 at 10:13
para concluir…Obrigado PAI me contagiares com a “doença” Sporting!!!
19 Março, 2014 at 10:20
Fantástico !!!!!!
Que história. Um grande abraço,
19 Março, 2014 at 10:25
http://www.maisfutebol.iol.pt/opiniao-falar-de-bola-nem-de-proposito-sporting-bruno-de-carvalho/53288437e4b00416c09ee64f.html
19 Março, 2014 at 10:37
Mais uma bonita homenagem aos Pais e ao Sporting. Obrigado!
19 Março, 2014 at 10:39
Estou tramado hoje com estes textos. Já é a segunda vez que estou com lágrimas nos olhos.
Obrigado pela partilha!
SL
19 Março, 2014 at 10:49
Grande homenagem ao pai.
Aproveito para homenagear também o meu pai o meu melhor amigo desde sempre, é sportinguista mas nunca ligou muito ao futebol, mas ofereceu-me a minha primeira Gamebox em 2003 e os bilhetes para a final da Uefa em 2005.
Cumprimentos a todos os pais, sportinguistas e não só.
SL
19 Março, 2014 at 11:02
Estava com o meu pai e irmão a ver, como o teu pai, o meu também era extremamente ponderado no que concerne a exprimir sentimentos, então no que diz respeito a desporto só extravasou com o Carlos Lopes, em Los Angeles, e com esta Victoria redundante aos lã piões.
Aquando do 5-1 eu viro-me para o meu pai, no alto dos meus 13 aninhos, e digo algo do género “coitadinhos já chega de sofrerem golos” e foi aí que vi o meu pai louco de felicidade a gritar “COITADOS? COITADOS? são o benfica quantos mais melhor”
😀 tinha de partilhar o lado “negro” do meu pai 😀
19 Março, 2014 at 14:18
🙂
19 Março, 2014 at 11:31
Já vi que hoje vai ser um dia de emoções fortes, na Tasca.
Só me espanta como é que tu e o teu pai conseguiram aguentar sem saber o resultado, para mim não dava para esperar. Um abraço para ti e para o teu pai, onde quer que ele esteja.
19 Março, 2014 at 11:33
Lembro-me tão bem das sete “batatas” 🙂
Obrigado por partilhares Pedro!
Feliz dia do pai para todos os pais Sportinguistas 🙂
19 Março, 2014 at 11:38
Lembro-me como se fosse hoje desse jogo, levantei 7 vezes o rabiosque da cadeira em plena bancada nova.
E algumas coisas me ficaram na retina qu não esqueço até hoje:
– o Silvino de gatas na área já não sabendo se estava melhor em pé ou no chão.
– Os 4 golos do nosso capitão Manel Fernandes.
– As fogueiras na Superior Sul feitas pelos aziaos lamps com cartões de sócios, bandeiras, cachecóis. etc etc.
Sei que nesse ano forem eles que ganharam o campeonato mas a nós nunca nos vao conseguir tirar os 7-1 que eles sofreram no velhinho José de Alvalade.
19 Março, 2014 at 18:53
Também lá estava, mas na Superior Sul… A NOSSA curva, sempre a cantar…
E como me recordo desse fim de tarde… Os lãpiões a queimarem os cartões, os cachecóis e as bandeiras…
Enfim, foi épico!!!
SL
19 Março, 2014 at 11:50
Foi em diferido o Sporting 7-1 aos Benfas? Não sabia dessa. Também não é do meu tempo ainda.
19 Março, 2014 at 14:20
obrigada Pedro por partilhares esta história connosco.
O Sporting é mesmo o nosso grande amor.
19 Março, 2014 at 14:46
Bom texto! Parabéns!
19 Março, 2014 at 15:31
Parabéns Pedro pelo texto lembro-me bem desse dia. SL
19 Março, 2014 at 17:07
Ah, ah, ah, que forma engraçada de viver aquele mítico dia dos 7-1. Todo o cuidado do teu pai para o jogo…tinha de facto um Dom. Obrigado pelo texto!
19 Março, 2014 at 19:44
Como é que conseguirm aguentar sem saber o resultado? Ainda por cima num jogo destes… Eu nem num Sporting vs arouca consigo aguentar sem saber o resultado! Espetacular!