Os dois últimos dias têm sido pródigos em trocas estúpidas de comentários. Dezenas. Centenas, potenciados pelo escudo do monitor e a automática que funciona com teclas. Por entre tanta linha em que nada se diz e em que só se ofende, li e guardei um comentário, do Max, chegado do funeral de um amigo (respect).

Há pouco, recebi a notícia da morte do pai de dois amigos meus. Quando crescemos juntos, tocando às campainhas uns dos outros fosse a que horas fosse, sentindo o cheiro de casa de cada um quando chegávamos ao patamar, sintonizando a frequência da polícia num walkie talkie e fugindo em desespero para a rua quando ouvimos que iam enviar um carro para a nossa preceta, os pais dos nossos amigos tornam-se nossos amigos também. Estão num patamar diferente, é verdade, mas, hoje, eu tinha que estar no funeral do Sr. Faustino. E não vou poder estar.

Tocaram-me à campainha, mas esta merda de idade adulta faz com que eu esteja fora de casa e impossibilitado de cruzar o rio para dar um abraço a quem mais precisa. Para poder dizer uma das minhas alarvidades, que quebram o gelo. Para poder recordar os portões de garagem que amassámos, a jogar aos penaltis. Os torneios de balizas pequenas, irmãos contra irmãos. Os dérbis com pracetas vizinhas, em que eu acabava à porrada com alguém. As cartuchadas e as escondidas, às duas da manhã, em noite de verão onde era complicado dormir à nossa conta.

Então como hoje, sermos de clubes diferentes não ia contar para o que quer que fosse. Até porque, quando comparado com a amizade e com a vida, o futebol vale o que vale.
Um abraço (o possível), putos.