Esta paragem de Natal coincide, quase perfeitamente, com o meio da época. Uma, sempre boa, altura de balanços e definição de expetativas. Devo dizer que, desde agosto, a minha opinião sofreu algumas oscilações dada a performance da equipa. Vamos por partes:

Campeonato Nacional:
O campeonato nacional está dividido em 2 grupos. Num lado está o Sporting CP e o SL Benfica e do outro lado estão todos os outros. Dado o orçamento e a constituição do plantel, podemos também assumir que os nossos rivais estão num patamar acima do nosso. Pelo que fui assistindo na pré-época, assumi que Esmoriz, SC Espinho e AJ Fonte Bastardo fossem dar bastante luta. Foi um engano. Os jogos do campeonato têm mostrado uma discrepância grande. Não quer isto dizer que possam existir surpresas, mas não creio. Iremos assistir a uma final entre Sporting CP e SL Benfica, com vantagem caseira para os adversários.

Competições Europeias:
Neste campo também uma comparação é necessária. Nós voltamos a participar na Taça Challenge e o SL Benfica na Liga dos Campeões. Em jeito de explicação, no voleibol internacional existem 3 divisões europeias. A de elite (Champions League), uma intermédia (Taça CEV) e uma última (Taça Challenge) onde estamos a participar. As conclusões tiram-se sozinhas. Acredito que, desta vez, lutemos por um lugar na final, apesar de continuar a ser muito complicado.

Na próxima fase jogaremos com uma equipa checa, o Kladno Voleibol, onde o jogador mais baixo tem 1,90 e é o líbero, nem sequer ataca. Prevêem-se dificuldades, mas também se espera fervor leonino.

Plantel:
Como por um passo de magia, o mister Gersinho, transformou um plantel mal montado numa equipa interessante de voleibol. Sem invenções e com muita qualidade tática, as lacunas identificadas têm sido colmatadas. Temos um 6 base perfeitamente identificado e que nos garante boas performances de voleibol. Na entrada Z4 com Renan Purificação e Thiago Sens, no meio temos jogado mais com o Andre Brown e Athos Costa, na saída de rede com o Miguel Maia e Angel Dennis. A posição de líbero tem sido mais agarrada pelo João Fidalgo, no entanto, a rotação tem existido de uma forma mais consistente.

No início da época achei que o Lourenço e o Francisco Pombeiro iriam ter bastante protagonismo. Errei. O primeiro, a espaços, vai tendo algum jogo, já o Francisco tem passado completamente ao lado da época. Continuo a achar que ambos têm muito potencial. Não culpo o treinador e não os culpo a eles, mas que é estranho é.

No que respeita a reforços, idealmente, precisamos de 3 para nos equipararmos ao SL Benfica. Um atacante de zona 4 com nível de recepção do Thiago e com grande capacidade de fechar pontos; um atacante Oposto, sendo que entraria numa rotação com o Angel Dennis, dando-nos mais opções numa posição tão importante. Um grande distribuidor para concorrer com o Miguel Maia. Apesar de ser um grande jogador, o facto de pouco bloco fazer, limita muito a equipa.

Melhor jogador: Dennis
Falar do Dennis, para mim, é falar de emoções. Foi sobre ele o meu primeiro post na Tasca, ainda antes de ter a rubrica do Bonito Serviço. O Dennis não é um grande jogador de voleibol em Portugal. O Dennis é um ícone do voleibol mundial e um dos melhores jogadores de sempre da modalidade. E, apesar dos 42 anos, insiste em superar-se a cada momento. No outro dia ouvia um clássico cubano, Guantanamera, e lembro de pensar que a letra era o Dennis no Sporting CP.

“Yo soy un hombre sincero/De donde crece la palma.
Y antes de morir yo quiero/Cantar mis versos del alma.”

Um grande jogador que persiste em mostrar a sua sinceridade em tudo o que faz. A paixão pelo voleibol, o amor à família e a dedicação ao Sporting. A cada jogo, o nosso melhor pontuador, continua a afirmar que ainda não acabou, ainda tenho mais. E tem mesmo! Ainda no último jogo contra os eslovenos, colocou-se inteiro naquele campo de voleibol.

“Guantanamera, guajira guantanamera,
Cultivo una rosa blanca/En junio como en enero.
Para el amigo sincero/ Que me da su mano franca.”

Esta parte quero acredito que é para nós, sportinguistas. A música diz que se cultiva uma flor, não importa se faz frio ou calor, porque há uma missão importante que é de agradecer ao seu amigo. Numa interpretação de voleibol com sportinguismo, o Dennis joga e treina dedicado. Claro que é porque gosta e é profissional, mas também porque há quem goste dele (nós). E é desta forma que ele cuida desta amizade que lhe temos, jogando (muito bem) voleibol pelo nosso Sporting Clube de Portugal. Nós não temos o hábito de pendurar camisolas no tecto no pavilhão, infelizmente, mas a dele devia lá estar. Um dos melhores jogadores de sempre quis (e adorou) vestir a camisola do grande Sporting Clube de Portugal enquanto estava nas suas capacidades competitivas.

Obrigado pelo carinho dele, da esposa e da filha, esta última que adora o Sporting. Gostava ainda de lhe dizer que, para esta época, ainda tem duas tarefas importantes: Campeonato Nacional e Taça Challenge.

Termino de falar do Dennis usando aquilo que diz o cartaz que está sempre no PJR: The Best!

Revelação: Miguel Maia
É impossível parar de falar do capitão. Ele é a revelação porque revelar significa descobrir, fazer conhecer. E dar-nos a conhecer um atleta que continua a quebrar todas as barreiras do status quo é de valorizar muito. Não é preciso beijar o símbolo para se perceber a qualidade. Não é preciso colocar holofotes para si para se perceber qualidade. Não é preciso envaidecer-se para se perceber qualidade. Um jogador do Sporting Clube de Portugal vê-se na forma como vive, tenha ele 20 anos ou 48. É uma revelação perceber que o Miguel Maia é um exemplo de atleta no nosso clube. Para mim isto chega.

Destaque: Gersinho
A maior e mais agradável surpresa de toda esta época é o nosso treinador. Agarrou um plantel que não escolheu (nota-se a léguas isto) e tornou-o competitivo. Melhorou-o taticamente e potenciou o que de melhor tinha. Se no início da época era estranho perceber a insistência em alguns jogadores, hoje é tudo evidente. Foco, maturidade e planeamento são qualidades muito apreciadas pelo Gersinho. Creio que não terá reforços, muito por sua culpa, isto porque se rivalizou perfeitamente com o SL Benfica. Com isto, mostrou uma competitividade potencial que ao mesmo tempo é um elogio ao seu trabalho, e por outro lado pode ter dado indicações à direção que “isto chega”. Pensa voleibol, respira voleibol e respeita a grandeza do Sporting Clube de Portugal. Vale a pena cá estar.

Desilusão:
A estrutura diretiva do voleibol do Sporting não está à altura do clube. Primeiro a escolha de Miguel Pombeiro (desaparecido) para diretor, depois a sua pseudo substituição por alguém (quem?) e a constituição do plantel é desequilibrada. Como em todas as equipas dirigentes onde a desorganização e incompetência impera, haverá uma ou duas pessoas que serão a pedra angular. Aquilo que no futebol se chama de “carregador de pianos”. Respeito-as porque existem. Desejo, sinceramente, que nunca doa as costas a essa(s) pessoa(s) porque, eu sei, que a incompetência se paga caro. Quem pagará será o Sporting Clube de Portugal. Obrigado a esses invisíveis.

Boas Festas a todos!
Viva o Sporting!

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)